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Bem-estar nas empresas é importante. E daí?
Erik Brolin foto de mulheres meditando em um tapete com as mãos em conjunto.
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Apesar do olhar mais atento sobre o bem-estar no ambiente profissional, aos poucos as empresas começam a “esfriar” os seus esforços nesse sentido.


A ciência já estuda há tempos os benefícios de mão dupla que o bem-estar no trabalho pode proporcionar. Digo de mão dupla, pois esses benefícios atingem tanto os trabalhadores como as próprias empresas.

Em um estudo de 2003 realizado por James Harter, Frank Schmidt e Corey Keyes para a American Psychology Association com o nome “Bem-estar no local de trabalho e sua relação com os resultados de negócios”, os autores investigam e demonstram que a presença de percepções e sentimentos positivos no local de trabalho estão associados a maior fidelidade do cliente da unidade de negócios, maior lucratividade, maior produtividade e menores taxas de rotatividade.

Desde lá, já se passaram quase 20 anos e cada vez mais temos acesso e conhecimento sobre esses benefícios.

Os impactos da pandemia no ambiente de trabalho

Apesar de cada vez mais informados, quando a covid-19 atingiu as nossas vidas seguíamos em um ritmo lento no desenvolvimento e na preocupação com relação ao bem-estar dos indivíduos no ambiente de trabalho.

Porém, a partir de 2020, os indicativos eram de que o apoio à saúde mental haviam passado de uma mera necessidade para um verdadeiro imperativo de negócios, com a síndrome do burnout inclusive ganhando destaque na Organização Mundial da Saúde.

A conscientização foi crescendo e as apostas nesses esforços ganharam ainda mais força em 2021. Rapidamente, as empresas começaram a movimentar esforços para a melhoria dos fatores profissionais que podiam contribuir para um aprimoramento da saúde mental e do bem-estar de seus funcionários.

Um caminho promissor rumo ao bem-estar no trabalho?

Embora as empresas tenham respondido com iniciativas como “semana da saúde mental”, semana de trabalho de quatro dias e benefícios ou aplicativos de terapias e atendimentos mais aprimorados, o movimento perdeu força quando os impactos da pandemia começaram a se estabilizar.

Um estudo realizado pelo instituto Gallup sobre a percepção dos funcionários sobre como as empresas dos EUA em geral se preocupam com o bem-estar no ambiente de trabalho mostra que, de 2010 a 2019, em torno de 24% das pessoas concordavam que as empresas estavam preocupadas. Esses números sofriam variações de 4% para mais ou para menos no período.

Depois que a covid-19 chegou, esse número cresceu rapidamente, alcançando patamares de 49% em maio de 2020. Um crescimento extremamente promissor e que lançava um olhar relevante sobre o tema na gestão das empresas

Mas, quando parecíamos estar em um caminho sem volta, ou ainda rumando a um “novo normal”, os números pararam de crescer e, pior, em junho de 2022 alcançaram o menor resultado desde que o estudo começou a ser realizado, com apenas 21% das pessoas tendo essa percepção nas empresas.

Isso me deixa uma grande dúvida sobre a real compreensão das empresas sobre os benefícios dessa preocupação. Dessa forma, fui atrás de alguns especialistas do setor que mantêm uma posição otimista e promissora sobre o tema.

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Existe uma mudança acontecendo no ambiente de trabalho

Segundo a CEO da The School of Life Brasil, Diana Gabanyi, “já houve uma mudança muito grande por parte das empresas nos últimos anos em relação à preocupação com a saúde mental dos colaboradores.”

Ela ainda comentou que “aos poucos as empresas vão passando de ações pontuais para ações de longo prazo e duradouras de desenvolvimento de inteligência emocional e promoção do bem-estar para evitar que as pessoas cheguem a pontos de crise e a serem afastadas.”

Apesar de reconhecer que esse assunto ainda encontra alguns obstáculos internos, já que “os CEOs têm inúmeras decisões a tomar diariamente, coisas grandiosas para resolver e quando uma pessoa vem falar sobre ação de saúde mental talvez seja a última coisa que ele queira ouvir”, ela é enfática em afirmar: “Mas, ele vai precisar”.

Maria Sartori, diretora associada da Robert Half, também vê essa transformação com otimismo.

“As empresas que ainda não aderiram ao movimento vão perceber, mesmo que por meio da dor (baixa produtividade, alto turn-over), que não somente as novas gerações, mas o mundo pós-pandêmico como um todo fez com que os profissionais cada vez mais coloquem a sua vida pessoal e o equilíbrio com o trabalho como uma prioridade indispensável.”, afirma Sartori.

Fazer é importante, mas não podemos banalizar as soluções de bem-estar no ambiente de trabalho 

Lembro quando ainda novo em minha vida profissional o termo Marketing Social ganhava espaço dentro das discussões estratégicas nas empresas. Tudo começava com ideias super interessantes de transformação e de impacto na sociedade, mas, por muitas vezes, acabava em uma doação para uma ONG ou em um plano pontual que pudesse beneficiar o branding da empresa de forma direta.

Olhando o movimento do mercado com a preocupação sobre o bem-estar dos funcionários dentro das empresas, muitas vezes tenho a mesma impressão. Na ânsia de tirar esse tema da frente de outros assuntos estratégicos, ou por falta de conhecimento sobre como fazer esse movimento, soluções pontuais e sem muito impacto no longo prazo são apresentadas.

Como um estudioso sobre a Ciência e a Gestão da Felicidade, sei que não é dessa forma que esse tipo de assunto pode ser tratado. É necessário comprometimento, intenção e paciência para que os benefícios dessas ações possam ser sentidas.

Maria Sartori também conversou comigo sobre esse tema. “Muitas vezes, a busca pelo bem-estar passa por uma forte mudança de cultura, e isso não se dá de forma rápida. As empresas caem na banalização quando buscam dar uma solução imediata para uma questão que necessariamente demanda tempo.”, afirmou Sartori.

A raiz do bem-estar dos funcionários está na cultura das empresas 

Para promover e também tirar proveito dos benefícios que o bem-estar dos funcionários traz, é necessário que a cultura da empresa esteja alinhada com os anseios de todos.

Os funcionários precisam e esperam locais de trabalho sustentáveis ​​e mentalmente saudáveis, o que exige assumir o verdadeiro trabalho de mudança de cultura. Não basta simplesmente oferecer os aplicativos mais recentes ou empregar eufemismos como “bem-estar” ou “aptidão mental”.

As empresas devem conectar o que dizem ao que realmente fazem e manter as lideranças internas atentas aos anseios de suas equipes.

“Precisamos entender as dores e engajar a liderança no processo. Essa iniciativa vai servir para o RH pavimentar uma jornada de oferta de soluções de saúde e bem-estar mais alinhada à realidade do negócio, seja por conta própria ou com o apoio de parceiros especializados.”, afirma Gabanyi, da The School of Life Brasil.

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Um processo em constante desenvolvimento

O bem-estar dos funcionários no ambiente de trabalho ganha mais destaque a cada dia, tornando o acesso à informação sobre o tema cada vez mais ampla e diversificada.

É importante que o debate na busca das melhores práticas continue aberto e que seja uma via de mão dupla, na qual os funcionários possam obter inúmeros benefícios para a sua vida em geral, e as empresas possam colher frutos importantes para a construção de um ambiente saudável, uma equipe produtiva e com resultados cada vez melhores.

E na sua empresa? Como anda a preocupação com o bem- estar dos funcionários?

Leia todos os textos de Horácio Coutinho no portal Vida Simples.


HORACIO COUTINHO JUNIOR (TOCO) (@horacio.toco) é multitarefas e um profissional de mil ofícios, ama a esperança dos EUA e sente falta do Carnaval do Brasil.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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