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    Casas do futuro: estudo revela tendências residenciais em alta
    Olivier Chatel
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    Entusiasmo. Alegria. Conexão. Palavras que definem a mudança que a arquiteta e especialista em Design Afetivo Clô Azevedo cuidadosamente planejou para sua vida. Há algumas semanas, a moradora da capital paulista encontrou a casa que sempre sonhou para si: reúne memórias, história, aconchego e imprime sua identidade. “Já conseguia visualizar os móveis em seus lugares. Ouvia as conversas, as risadas. Sentimentos de alegria e saudades”, conta em sua coluna à Vida Simples

    A casa – ou apartamento -, além de uma estrutura física que nos protege do frio, da chuva e da intensidade da luz no verão, é o espaço que nos conecta com o mundo e com o outro. A moradia, quando partilhada com boas práticas de ESG, bem-estar e acessibilidade, revela um espaço dinâmico e vivo, como tem que ser. Esses são alguns dos insights apresentados pelo estudo Futuro do Morar, idealizado pela Dexco, realizado pela consultoria em tendências e inovação – Spark:off. A Vida Simples traz, em primeira mão, um recorte dos principais resultados e tendências ao longo desta matéria. 

    Mudanças a caminho

    Desde a pandemia as casas não têm sido mais as mesmas. Se antes elas eram úteis para uma boa noite de sono ou para prestigiar uma partida de futebol na TV, hoje são muito mais que isso. É o espaço de trabalho, prática de exercícios, lugar onde cozinhamos o alimento – e até plantamos. Devo dizer, é claro, que escrevo esse texto da minha casa, ou melhor, da sala de estar. 

    “A casa é hoje multitarefa, porque passamos a fazer muitas coisas dentro dela que não costumávamos fazer antes”, explica Mateus Silveira, Head de Design da Dexco, em entrevista exclusiva à Vida Simples. Por isso, a empresa buscou compreender como essas novas adaptações têm sido recebidas. Movimentos emergentes e o comportamento do consumidor mundial foram algumas das questões aprofundadas pelo estudo, que entrevistou 12 especialistas de diferentes áreas, da Arquitetura à Culinária, para interpretar um mundo em transformação. 

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    A pesquisa mostrou que as pessoas têm buscado casas com práticas regenerativas, que respeitam o planeta e possam proporcionar bem-estar. Mas não só isso, viver com fluidez e buscar espaços multifuncionais é um dos critérios. Afinal, janta-se na sala à noite e logo é preciso organizar o espaço, estender um tapete e se preparar para a aula online de Yoga no dia seguinte. Mergulhar na casa é penetrar nos territórios mais profundos de cada morador.

    É o que Clô Azevedo buscou traduzir em sua mudança, já que se aproximar das memórias e buscar um espaço integrativo com o mundo era seu desejo. “Hoje, estou aqui dentro dela e através da janela enxergo meu jardim”, explica. A casa é, além do que já conhecemos, um espaço de reconexão, relaxamento e conforto. “Um lugar que não abrigará somente funcionalidade, mas igualmente regeneração e prazer”, destaca a arquiteta.

    Para o arquiteto e professor Tomaz Lotufo, algumas mudanças são perceptíveis em um mundo pós-pandemia. As pessoas têm buscado ambientes confortáveis para trabalhar em casa, mas também prezam por encontrar lares que geograficamente as beneficiem. “Cresceu o interesse em viver no interior, no meio rural ou na região metropolitana de uma capital. Isso aumentou com certeza”, explica o especialista, que trabalha com bioconstrução. Sua conclusão corrobora com um dos resultados do estudo Futuro do Morar: a biofilia. Conexões reais com a natureza a partir de suas moradias agora é um novo critério.

    Configurando um novo lar

    “A casa é um espaço de acolhida para você se restabelecer”, explica a professora Dra. Akemi Ino, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP (IAU). Segundo a pesquisadora, ampliamos a função do lar, que ganhou novas utilidades e passou a contar com um papel de diálogo entre o espaço e a identidade de cada morador. “Você acaba por trazer elementos que te identificam, como plantas, quadros, que dão o conforto e aconchego que você necessita”, destaca. 

    Conectar os sentidos e promover sensações táteis com significado é o que muitos consumidores procuram ao buscar por um novo lar. “A gente [Dexco] está buscando texturas e materiais que se assemelham ao natural e ao imperfeito da natureza”, conta Mateus Silveira. Mais do que objetos artificiais e pouco conectados com a história do morador, o especialista explica que trazer elementos da natureza ajuda a vivenciar os ciclos naturais. “Há beleza na história, na vida e no tempo das coisas que envelhecem. Não é só algo estético”, enfatiza.

    Para Marcele Brunel, que lidera os estudos em ESG da Dexco, o futuro aponta para casas cada vez mais centradas nas pessoas e no comportamento humano. “Há a combinação de um lar, que é para celebrar e ser vivido com tranquilidade, e um espaço mais prático. Essa é a riqueza do momento agora”, explica em entrevista exclusiva à Vida Simples.

    O arquiteto Tomaz Lotufo costuma dizer que a casa é um organismo vivo, um rico campo simbólico que se movimenta a todo instante. Construir um lar aconchegante, para ele, é poder trazer elementos que constituem a identidade cultural e ambiental do país, em diálogo e coparticipação com o morador. “A casa precisa voltar a ser um lugar de movimento e sair dessa coisa estacionária”, defende.

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    Exercícios físicos, reunião com amigos, jantar em família, escritório. A casa assume inúmeras funções que exigem dinamismo e muita conexão entre o ambiente e a identidade dos moradores. Pensar em projetos e moradias que proporcionem essa fluidez possibilitam que um novo mundo possa ser construído. Mateus Silveira explica que o objetivo do estudo é poder não só compreender o comportamento das pessoas, mas também entender o cenário, novas tendências e antecipar isso ao consumidor. “A inteligência está em saber analisar, digerir e em saber fazer a aplicação das coisas adequadas para o que a gente precisa”, afirma.

    Pensar em espaços dinâmicos é também encontrar soluções que tragam conforto, bem-estar e possam atender, de forma transversal, o público. “A ideia de conforto da casa já não é mais ficar sentado no sofá em frente à TV. “É justamente o seu movimento na casa, a forma como você mantém contato com as coisas que são essenciais na vida”, explica Lotufo.

    Marcele Brunel lembra também que o conforto está relacionado ao tato, aos tecidos, revestimentos e os tipos de textura. “Mais do que quatro paredes, [a casa] é um local onde eu vivo, existo, construo minhas memórias, a minha história e refúgio. Isso é o que significa o lar para as pessoas”, diz.

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    Hoje, o conceito de aconchego deixou de ser uma associação a “coisas sempre em ordem” para uma visita ao nosso eu interior e entender o que de fato traz conforto. É encher o espaço de amigos e fazer uma festa. Mas também abrir as janelas para o vento que vem do mar ou espalhar aromas que você aprecia pela casa. 

    Esse movimento é ainda mais comum entre os jovens, como explica a arquiteta Cilene Monteiro Lupi. “A convivência com amigos tem bastante impacto porque as pessoas estão mais sociáveis. Tem muita gente circulando dentro das casas. Por isso, embora antigamente existisse um pouco mais de cuidado pela aparência estética, hoje ela remete ao aconchego”, esclarece.

    Hoje, Mateus Silveira comenta que o objetivo é que a Dexco possa proporcionar experiências sensoriais, táteis e exploratórias. “Fazemos, de certa forma, um contraponto ao minimalismo:  ‘Gente, vamos nos preocupar e perder tempo sempre organizando tudo?’ Precisamos conviver, visualmente, com uma casa desorganizada, no sentido de que há vida. Alguém passou por ali”, é o que acredita o Head de Design da empresa.

    Um dos projetos em desenvolvimento trata-se especialmente do desenvolvimento de barras de acessibilidade, mas que sejam multifuncionais. “Pensamos em barras que podem ser utilizadas para pendurar uma manta, com prateleiras para colocar retratos, mas são desenhadas para atenderem as normas de acessibilidade”, explica Mateus. A ideia é poder diversificar o uso e combater o estigma aos objetos que melhoram a experiência de pessoas PCDs.

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    ESG e o futuro das moradias

    Construir casas para as próximas gerações implica, necessariamente, refletir sobre um mundo em crise climática. Por isso, um dos pontos da pesquisa é que novos moradores, no mundo todo, têm se preocupado com iniciativas sustentáveis e inovadoras nos lares. Pensar uma transformação verde nas grandes cidades pode parecer difícil, mas quem disse que é impossível?

    Para Juliana Barros, especialista em Neuroarquitetura, “é preciso considerar estratégias que contribuam para a redução do consumo de recursos naturais, a minimização do impacto ambiental e aumento da eficiência energética”. Segundo a especialista, algumas iniciativas podem ser implementadas: 

    • Optar por materiais de construção e mobiliário eco-friendly, como madeira certificada e tintas livres de compostos tóxicos, além de produtos com baixo impacto ambiental;
    • Priorizar áreas verdes nos projetos arquitetônicos, como jardins e telhados verdes, para melhorar a qualidade do ar, promover a biodiversidade e reduzir o efeito de ilhas de calor nas cidades;
    • Instalar dispositivos economizadores de água, como torneiras com arejadores e chuveiros com controle de vazão. Captar água da chuva para uso em atividades não potáveis, como irrigação de jardins.

    No entanto, para a professora de Arquitetura da USP, a Dra. Akemi Ino, é preciso que haja um esforço do mercado em âmbito coletivo para que isso seja eficiente. “Toda a cadeia da construção civil e arquitetura precisa se reorganizar e repensar para lidar com os paradigmas baseados na construção a partir de recursos não renováveis”, enfatiza.

    Tomaz Lotufo, que trabalha com bioconstrução, orienta que outras iniciativas podem ser implementadas, como o cultivo de parte dos alimentos que o morador consome, minhocário e composteiras. Práticas “low waste” e que beneficiam o planeta. Além disso, promovem a integração da casa com o meio ambiente.  

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    Construindo espaços comunitários

    Embora a casa seja um ambiente fundamental de conexão interior e os estímulos visuais, como as cores e a própria estrutura, proporcionem isso, é importante compreender o ser humano também como ser coletivo. Para Tomaz Lotufo, a casa passa a assumir um papel de “Casa da Vida”, que proporciona aprendizado interior e comunitário.

    “Se não é na casa que as pessoas vão fazer aquilo que precisa ser feito para existir, para ter uma qualidade existencial mais adequada no que se refere a ser humano, ser integrado, ser parte. Onde a gente vai aprender?”, questiona o arquiteto. 

    O lar se configura como um espaço fluido que se adapta aos movimentos da vida, além de contribuir para criar memórias duradouras. Para Juliana Barros, é fundamental pensar em iniciativas que aproximem vizinhos e a comunidade. “Empreendimentos que oferecem áreas comuns, como espaços de convivência, hortas compartilhadas, salas de jogos ou coworking, onde as pessoas possam se conhecer e compartilhar experiências”, destaca. 

    Por outro lado, Tomaz Lotufo questiona a organização de moradias em condomínios. Procurados especialmente pelo crescimento da violência nas grandes cidades, acabam distanciando os moradores dos espaços públicos. “A arquitetura é de caixas, é muito ruim e não tem nada a ver com o Brasil. É uma influência de lugares com clima temperado, o que não faz sentido aqui”, conta. 

    “Os espaços não cumprem mais a função de uma cidade. Além de que o condomínio é uma anti-cidade, porque formam-se guetos e há um isolamento das pessoas em pequenas comunidades”, acrescenta a professora Dra. Akemi Ino.

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    A mudança de interpretação sobre a própria divisão das casas tem impactado o mercado de arquitetura. O estudo da Dexco com a Spark:off mostra que é preciso construir modelos que ultrapassem aquele pensado para as famílias nucleares. Para a arquiteta Carla Felippi, já existe um movimento interessante nesse sentido no ramo da construção. “Muitas construtoras tiraram os pilares do meio da casa. As construções são flexíveis e geram a possibilidade de integração de ambientes para que a gente possa ter vãos livres muito mais interessantes”, elucida.

    Para Felippi, esses modelos ajudam a trazer dinamização para as próprias casas. “Os ambientes integrados dão uma sensação de amplitude, mesmo que a gente não ocupe o espaço todo”, explica. No entanto, para a engenheira civil Juliana Salvetti Pedroso, é um movimento cultural ainda cauteloso. Ela, que atua como empresária no ramo, conta que há uma procura por diferentes modelos. “É importante salientar que ainda temos clientes mais conservadores e que prezam pela privacidade e necessidade de ambientes bem divididos”, afirma.

    Além disso, para Clô Azevedo, que hoje se conecta com sua nova casa, como sempre sonhou, explica que é importante estar atento a esses movimentos. “Podemos nos perguntar ‘Que novas possibilidades estão emergindo?’”, sugere. “E de que maneira nossa criatividade pode nos beneficiar neste momento de mudança de mundo e de escuta com as novas formas de lidar com a natureza, com o tempo, com o trabalho, com o viver e com o morar?”, finaliza a arquiteta.

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    * Além dos entrevistados citados na reportagem, a Vida Simples também contou com as análises e interpretações do estudo da Dexco, realizado pela Spark:off, feitos pela arquiteta Sandra Graziela Miyagaki.

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