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    Comer com atenção plena e sem dietas: o que é o Mindful Eating?
    Sam Balye
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    Como seria a sua relação com a comida dos seus sonhos?“. Essa é a pergunta que a nutricionista Driele Quinhoneiro costuma fazer a seus pacientes nas consultas que realiza. O questionamento nos traz até um alívio medonho, não é? Imagine parar de sentir culpa ao comer aquilo que te dá prazer? A especialista estuda o Mindful Eating, uma área recente da nutrição que vem ganhando destaque por respeitar nossas emoções e incentivar o comer com atenção plena.

    Tudo bem, somos humanos e, às vezes, controlar o desejo é uma tarefa um tanto difícil para muitas pessoas (me incluo aqui). Não consigo resistir a um bom sorvete ou torta de legumes, para trazer dois exemplos de comidas que amo. Mas, por que é tão difícil ter uma alimentação que consideramos “ideal”? Ou melhor, por que estamos tão preocupados e com medo do alimento que energiza nosso corpo? 

    Vemos por aí influenciadoras super magras nas redes sociais, receitas mirabolantes para perder peso, jejum intermitente, sucos detox e sacos de lixo (!) utilizados para desidratar o corpo. Todas essas tendências são elementos que compõem um universo muito maior, também conhecido como “cultura da dieta”.

    A comida e as nossas emoções

    Apesar dos conteúdos que aparecem de forma problemática nas redes sociais (especialmente porque muitas pessoas divulgam informações sem responsabilidade), muitos especialistas e pesquisadores analisam esse tema com uma abordagem científica e maior profundidade. É o caso dos psicanalistas Lucas Liedke e André Alves, no podcast Vibes em Análise.

    No episódio mais recente, Detóx (de novo?), os pesquisadores trazem abordagens histórias, comportamentais e psicológicas sobre tentativas de fugir de experiências da vida para que nossas necessidades físicas e emocionais sejam atendidas. Parece um pouco óbvio, mas você já parou para pensar na quantidade de alimentos que nos privamos de consumir porque nos foram ensinados que são grandes vilões do peso ideal?

    Não estou aqui incentivando você a comer barras de chocolate todos os dias ou sempre jantar uma torta de frango com requeijão. O objetivo é questionar o que nos foi ensinado como saudável e como essas definições afetam a nossa saúde. A nutricionista Driele, ao longo do seu trabalho como pesquisadora de Mindful Eating, chegou à conclusão de que o sinônimo de “ser saudável” seria algo mais ou menos como “aquilo que é gostoso na boca, faz o meu corpo se sentir bem, é bom para quem produziu e é bom para a natureza“, defende a nutricionista, que é formada pela Universidade de São Paulo (USP).

    Cultura da dieta e da contagem de calorias

    O que o alimento que chega até sua mesa significa para você? Para muitos, pouco importam as cores, a origem e as histórias daquele produto, mas sim os números. Isso mesmo, quantas calorias implica consumir aquela fruta, qual a quantidade de ferro daquele feijão ou quantas colheres de arroz é ideal para que o meu peso não aumente.

    Algumas dessas coisas são importantes, é claro. Consumir a quantidade correta de ferro nos ajuda a não sofrer com anemia, por exemplo. Mas será que os alimentos são só isso mesmo? Essa é a pergunta que o pesquisador australiano Gyorgy Scrinis faz no livro Nutricionismo (Elefante).

    “Desde as tentativas dos cientistas do século XIX de calcular a quantidade precisa de macronutrientes e calorias necessárias para o crescimento normal e para a prevenção de deficiências, essa arrogância nutricional foi estendida à distribuição de conselhos dietéticos definitivos para reduzir o risco de enfermidades crônicas, como doenças cardíacas, câncer e diabetes”, escreve.

    “Essa cultura da dieta faz uma modificação do que entendemos como ser saudável”, relaciona Driele. Segundo a nutricionista, isso faz com que deixemos de comer alimentos naturais, como arroz e feijão, para valorizar uma barra de cereal com várias indicações no rótulo de “integral”, “low carb” e “zero gorduras”. “A gente tem dado de ciência robusta que mostra que a fórmula feche a boca e malhe não funciona a longo prazo. Ainda, sabe-se que 95% das dietas não funcionam e que as pessoas costumam ganhar mais peso do que perder, explica Driele. Por isso, ela decidiu adotar o termo “AntiDieta” que provoca um pouco de susto no início, mas que, ao longo do tempo, os pacientes vão se se adaptando a esse novo ecossistema.

    Que tal se pudermos voltar à definição de alimentação saudável? Podemos consumir uma fruta saborosa colhida de um assentamento agroecológico, cozinhar com afeto e amor os alimentos que chegam à mesa e nos permitir, de vez em quando, comprar os produtos que são considerados o “terror” de quem deseja emagrecer. Afinal, é melhor termos a comida como amiga e parceria do que como vilã, não é? Fazemos no mínimo três refeições diariamente e seria muito chato se travássemos uma guerra com o prato a cada 5h.

    Então, que tal se mostrar mais aberto para o universo da alimentação e à diversidade na mesa sem culpa? 

     

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    Comer com atenção plena: o que é o mindful eating?

    O Mindful Eating é uma área de pesquisa e estudos dentro da nutrição que nos redireciona para a conexão do alimento, que vai além da pura sensação de saciedade. Na nossa relação com a comida, a gente está muito conectado aos pensamentos sobre isso, mas muito desconectados sobre a sensação do corpo e nossas emoções. Somos um misto caótico e lindo entre pensamento, sensação do corpo e emoções. Quando a gente chega para comer é esse misto que chega pra gente”, explica Driele. 

    A proposta do Mindful Eating é, inclusive, colocar em proximidade o afeto e a compaixão com as nossas refeições. “Eu trago a minha atenção amorosa para essa relação, que é uma das mais duradouras, seja com a comida ou com o corpo”, direciona a nutricionista. 

    Ela explica que é importante voltarmos a nossa atenção para o momento em que estamos nos alimentando, como descansar os talheres, sentir a textura da comida na boca, a saciedade do corpo e as reações emocionais que podemos sentir a partir daí.

    Algo que também está diretamente relacionado ao peso e a forma como nos comportamos diante da balança. Driele sugere que façamos algumas perguntas como guia, por exemplo: “o que acontece quando eu subo na balança?”, “que emoções vêm?”, “o que esse pacote peso significa para mim, sucesso?”

    Uma relação mais afetuosa com a comida

    Como conectar a alimentação com as emoções? Um dos caminhos, para Driele, foi escrever poemas que expressassem suas dores, conquistas, críticas e alegrias em ter uma relação de afeto com a comida. Acho que o primeiro passo é fazer esse check-in de que, pode ser que hoje seja normal sofrer com a comida, mas não é a única possibilidade. Então, seria sensibilizar as pessoas sobre isso, porque esse sofrimento foi construído e, por ser tão comum, a gente deixa de ver essas questões com clareza”, defende. 

    Foi pensando nessa relação que ela publicou o e-book Querida Cultura da Dieta com poemas e reflexões sobre o cotidiano alimentar e as pressões estéticas que existem no país em torno da comida. Os poemas vão desde experiências pessoais até reflexões coletivas, como o que trouxemos abaixo:

    Querida cultura da dieta, 

    Como me convencestes de que meu destino era o sofrimento
    Amarrastes o meu coração aquela insana balança
    Fez com que meus dias parecessem todos iguais
    Já tentei tudo o que disse
    Tudo mesmo
    E nada me fez encontrar o que prometeu
    Nossa prestação de contas se aproxima
    Não pegarei leve com você
    Aguarde-me

    Agora, depois de todo o texto, reflexões e questionamentos que poderemos nos fazer a partir disso, me questiono e incentivo vocês a pensarem de forma conjunta o que Driele costuma fazer no consultório: como seria  a relação com a comida dos seus sonhos?

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