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    A felicidade segundo o escritor e astrólogo André Mantovanni
    "As pessoas mais satisfeitas são aquelas que colocam a atenção no aqui e agora", sugere André Mantovanni (Foto: Michelly Marques/Band)
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    O escritor, palestrante e psicoterapeuta André Mantovanni é conhecido pelo seu trabalho com astrologia. Recentemente, ele tem se aprofundado em um tema que faz parte do imaginário de todos nós: a felicidade.

    Autor de dois livros, seu último lançamento Enquanto a Felicidade Não Vem: uma Reflexão Inspiradora Para se Conectar com a sua Alma, de maio de 2024, traz uma reflexão profunda sobre essa emoção que tanto buscamos.

    A Vida Simples entrevistou André Mantovanni durante a Bienal do Livro, que aconteceu em setembro de 2024 em São Paulo (SP). Acompanhado da budista Monja Coen – que assina o prefácio do livro de André -, ambos falaram sobre felicidade para uma plateia de cerca de 200 pessoas. Minutos antes da apresentação começar, decidimos perguntar a algumas pessoas presentes: o que é felicidade para você?

    As respostas foram diversas: um ambiente familiar saudável, boas condições de trabalho, ter a consciência tranquila, estar de bem com si mesmo, visitar a bienal do livro pela primeira vez. A variedade de percepções sobre esse sentimento nos leva a refletir que, apesar de tão almejada, a felicidade é múltipla e não possui apenas um significado.

    Depois da palestra, conversamos com André para entender mais sobre esse estado emocional que buscamos em todas as áreas da nossa vida. Confira a entrevista.

    Em seu livro Enquanto a Felicidade Não Vem, você discute essa jornada e busca pela felicidade. Na sua percepção, o que é felicidade? Como você decidiu discutir esse conceito de felicidade dentro da sua obra?

    O livro nasce primeiro de um desejo muito íntimo de entender um pouco mais sobre felicidade. Talvez por eu estudar espiritualidade, e me buscar desde muito jovem, desde muito cedo, eu sabia que a felicidade não é isso que se vende nas redes sociais. E quando sentei para escrever o livro, eu achei que eu sabia sobre felicidade, mas entendi que não sabia nada, que eu precisava me rever.
    Quando estava no meio do livro, perdi um grande amigo para um câncer, e isso foi um choque. Como eu escrevo sobre felicidade para alguém que está enfrentando uma doença como a que levou o meu amigo à morte? Isso me levou a uma depressão, e eu lá com o livro de felicidade para escrever. Então eu fui entendendo que o sentido que eu precisava descobrir sobre a felicidade estava acima de tudo no “ser”. Questionamentos começaram a surgir: quem eu era, qual era o meu papel no mundo, o que eu esperava da vida. Foi um mergulho muito íntimo, eu saí muito transformado da escrita desse livro e eu acho que é isso que eu tento passar para as pessoas, de que a gente pode encontrar felicidade dando um sentido para nossa vida.
    Às vezes não é nem fazendo grandes mudanças, é fazendo pequenas mudanças. Como mudar o olhar sobre você mesmo, se acolher mais e ficar mais próximo do que traz contentamento. Acho que a gente encara a felicidade como algo mais complexo do que ela é de fato.

    Você acredita que ser feliz é um estado permanente ou algo que varia ao longo da vida?

    Ela vai variar, porque nós somos impermanentes. Na infância os meus sonhos são uns, na adolescência são outros, na maturidade muda, e na velhice também. Nós somos seres desejantes o tempo todo, mas nossos desejos mudam. Então não acredito na felicidade como um estado permanente. Mas eu acredito que a gente pode experimentar a felicidade com mais frequência do que a gente imagina.
    No meu livro, falo de questões do nosso tempo. Eu não quis resgatar o sentido da felicidade para os gregos, que é importante e sempre foi a busca da humanidade, mas preferi trazer o diálogo para agora. Como uma pessoa que consome as redes sociais consegue encontrar a felicidade? Muito já foi falado e escrito sobre felicidade, mas o tema também está sempre em transição, porque a gente, como sociedade, está em transição.

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    Quando perguntamos a algumas pessoas “o que é felicidade?”, muitos relatam que é sobre ter saúde ou um emprego bom. É possível pensar em felicidade para além disso?

    Acho que essa pergunta abre para algumas reflexões. Vivemos em um tempo em que a gente tem de ser “super-herói”. Você tem que ter um emprego maravilhoso, você tem que ter um relacionamento, você tem que estar com o corpo em dia. É um checklist enorme e é óbvio que a gente não vai atender a tudo isso e acaba por enfrentar frustração.
    Mas a gente não pode fechar os olhos, e achar que a felicidade precisa ser vista como uma coisa romantizada. Estamos falando de realidade. A gente precisa de trabalho, a gente precisa de dinheiro. O Brasil é um dos países mais ansiosos e infelizes do mundo, e muito dessa tristeza, essa depressão e essa ansiedade se dão por fatores socioeconômicos. Quando você pega um ranking dos países mais felizes, dificilmente esses países têm problemas como os nossos. Então eu acho que é bobagem fechar os olhos para isso e falar que a felicidade não está ligada ao dinheiro ou bem-estar. Ela está, também, mas não pode ser só isso.
    Quando a gente passa a entender que somos seres vulneráveis, a gente também olha para a vida com um pouco mais de compaixão, de acolhimento. E também é extremamente importante entender que nós fazemos escolhas. Eu não vou conseguir mudar o país, mas eu posso mudar o meu mundo, a minha perspectiva.
    E buscar contentamento na vida é entrar num estado de paz que, por incrível que pareça, nos dá mais coragem e força para enfrentar os tempos difíceis. Todos nós vamos enfrentar desemprego, dor, perdas de saúde e perda financeira. Mas o que eu faço de mim, o que eu construo em mim, que está além de religião e de filosofia, que deve prevalecer.

    Quais práticas diárias podem ajudar a cultivar a felicidade?

    Precisamos presentificar a vida. Além de fazermos parte de uma sociedade imediatista, a gente cria muitas expectativas sobre o futuro. Estamos sempre pensando no quando, esperando o potinho de ouro no fim do arco-íris.
    Mas eu tenho percebido que as pessoas mais satisfeitas são aquelas que colocam a atenção no aqui e agora, porque você começa a se perceber mais. A gente vive conectado, mas acaba se desconectando de nós mesmos, longe da nossa alma e da nossa essência. E essas coisas são raras e primordiais para a gente ter uma vida melhor. Então ter atenção plena te dá consciência, e a consciência é o único caminho que pode nos ajudar a fazer transformações.

    Por fim, uma pergunta mais pessoal. O que te faz feliz?

    Dias como hoje, em que pude partilhar o que acredito com pessoas que eu nunca vi na vida, com uma plateia cheia de gente que talvez nunca verei para além daquele momento. Mas, se pelo menos uma dessas pessoas sair daqui pensando mais sobre felicidade, eu acho que a missão estará feita.
    Mas eu também sou muito feliz com a vida que eu crio diariamente para mim, e criar uma vida de felicidade é criar uma vida com um desconforto. Ser feliz é estar próximo de você mesmo, e estar próximo de você é saber o que você quer, mas também o que você não quer. E quando você sabe o que você não quer, você tem mais coragem para dizer não, para dizer sim, para estabelecer conexões e para não estabelecer outras conexões. Então eu acho que sou feliz porque trago para minha vida situações, pessoas e escolhas que me deixam em paz.

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