Viaje para dentro de si: 15 perguntas para guiar sua jornada
Juliana Reis indica um livro que convida a uma viagem para dentro de si. Afinal, o que você ousaria tirar ou incluir na bagagem da sua vida?
O livro tinha uma mala amarela na capa e estava lá em casa há alguns dias. Mas, foi às 6h20 de um sábado que o notei de verdade no sofá da sala. Eu vinha de uma madrugada de sono tranquilo: na noite anterior decidira deixar algumas coisas da minha vida para trás a fim de que eu pudesse voltar a ser quem eu sou de verdade (baita chatice não ser quem a gente é).
Acordei cedinho. Foi um impulso natural, uma espécie de ansiedade gostosa de quem vai recomeçar a viagem carregando uma bagagem mais leve. Peguei um café, sentei de pernas cruzadas e agarrei o livro.
Assim, do lado de fora, Quando o hoje já não basta* (Eco Rede social) me lembrou A Bolsa Amarela* (Casa Lygia Bojunga), clássico de Lygia Bojunga Nunes que fez parte da vida de muitas crianças da minha geração. A Bolsa Amarela conta a história de Raquel, uma menina que esconde suas vontades em uma grande bolsa… amarela!
Ali, ela as soca e elas crescem ou diminuem de acordo com o vai e vem de acontecimentos no dia a dia. Quando elas crescem, a bolsa pesa mais e mais e mais… Raquel é uma lutadora solitária, buscadora de ideias e respostas, alguém que bate de frente com o status quo (você sabe, aquela expressão em latim que se refere ao estado geral das coisas, aquele estado ao qual faria bem uma inovação, uma sacudidela).
Raquel mistura mundo fantasioso com o real de um jeito que a gente, quando lia A Bolsa Amarela na infância, às vezes ficava naquela de “será que agora é verdade ou é coisa inventada?” — mas ia amadurecendo com ela. O “livro da mala amarela” chegou nos meus mais de 40, assim meio como A Bolsa Amarela chegou nos meus nove.
A lealdade de ser quem se é
Regina, a autora de Quando o hoje já não basta, está incomodada. Quer achar uma solução antes que a obediência ao estado das coisas finalmente a impeça de ser quem é. Regina tem uma vontade de mudar desencadeada por uma sensação de vazio que tem a ver com sentir-se útil ao mundo.
E esse “ser útil” do qual ela fala tem muita relação com as escolhas profissionais. Ela sente sua vida resumida ao trabalho, espera ansiosamente pelas férias para fazer o que mais gosta, percebe quando começa a adiar a própria vida em prol de ações que não são suas… Assim, muda logo de direção para resolver a questão. Regina não fica tomando rumos que não são seus.
Com uma danada de uma facilidade — que o leitor reconhece, mas ela acho que não — joga algo fora de sua bagagem de vida a cada vez que percebe que a mala pesou. Arruma tudo, fecha o zíper e recomeça.
E, fica para nós, não a lição de desprendimento, mas a da lealdade de ser quem se é — algo que se torna evidente quando ela tem o atrevimento de pedir uma dispensa na sexta-feira com o propósito de investir em si viajando até São Paulo para um curso com “os professores de ginástica aeróbica mais famosos do mundo” ou algo parecido (só que ela trabalha num banco!).
MAIS DE JULIANA REIS
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Trajetória em busca de um sentido
A mala da capa não está ali só pelo trocadilho — embaixo do título está a pergunta “o que você ousaria tirar ou incluir em sua bagagem de vida?”. É que a dona da bagagem um dia se larga num período sabático pelos Himalaias, passando antes por uma escola inglesa que parece a do Harry Potter e pela Índia, onde ela não decide se está chocada ou curtindo as diferenças entre os costumes orientais e nossas velhas vontades ocidentais.
Apesar das grandes viagens que ela narra, esse não é um livro que fala sobre ficar insatisfeito com a vida e largar tudo para sair viajando. E nem um livro focado numa viagem para o exterior. É uma viagem para dentro. Enquanto a maioria das pessoas separa vida pessoal e profissional, desde cedo Regina quer ser uma só nos dois mundos. Ela quer o direito de ser quem é não importa onde vá trabalhar.
O livro conta uma trajetória em busca de um sentido, diz a contracapa, pela insatisfação com o trabalho. Discordo. Regina apenas não quer deixar de ser quem é por causa do trabalho. Ela quer os dois. Quer ser ela no trabalho.
Mas, a viagem para a qual a autora nos convida, começa mesmo nas cidades do sul do Brasil onde ela nasceu e foi crescendo. A gente vai junto se perguntando como ela não se quebra entre as tantas mudanças e escolhas que faz, tanta troca, coragem, carona e trecho de ônibus lotado… Tudo para ser feliz.
A impressão que dá é que ela poderia se contentar com as posições de respeito dos cargos que vai conquistando em grandes ou pequenas empresas — por, curiosamente, não deixar de se mostrar como verdadeiramente é. Mas ela é inquieta demais: termina uma missão e quer logo outra, então se desprende e vai para outro trabalho.
Quando percebe que ali não é seu lugar, dá seu fim e se despede de novo, bate o ponto, dá adeus no RH, volta para casa, faz um mini período sabático, revela outra habilidade e recomeça ora autônoma, ora noutra empresa… Seus esforços, ao contrário do que eu imaginei que seria comigo se eu agisse como ela, são recompensados por quem reconhece sua habilidade de ser plural — multipotencial ou pluriapta, palavras que aprendemos depois num trecho do livro.
15 perguntas da autora Regina Hostin que provocam um viagem para dentro:
Na leitura, a gente se questiona. Será que a idade deve nos impedir de começar coisas novas? Voltar atrás vale a pena? Dá para reverter situações ou achar outro caminho dentro do caminho já tomado? Como na bolsa amarela, a mala de Regina vai se enchendo de vontades e questionamentos. E quando está prestes a explodir, só respostas é que vão esvaziá-la.
O livro sugere como encontrá-las:
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- Quais matérias mais apreciava na escola?
- O que você gostava tanto de fazer que não via o tempo passar?
- Já trabalhou com o que não gosta e se sentiu incomodado por isso?
- Qual foi seu primeiro emprego e o que motivou a começá-lo?
- Como você decidiu o que queria ser?
- Se pudesse voltar no tempo, o que escolheria estudar?
- Quais viagens marcaram sua vida?
- Quanto tempo do seu dia você gasta fazendo o que não gosta?
- Quais trabalhos você considera que deveria ter aceitado?
- Se o mundo não tivesse algo chamado dinheiro, o que você gostaria de fazer profissionalmente?
- Quais atividades você faz que deixa as pessoas encantadas?
- O que teria de mudar para você ter mais tempo?
- O que você faria hoje se não tivesse medo?
- Qual é a coisa mais bonita que você pode fazer no mundo hoje?
- Dá para tirar alguma coisa da sua mochila hoje?
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