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Perceba suas emoções para construir pontes com seus filhos
Mariana Wechsler / Arquivo pessoal
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Quer saber mais sobre maternidade e parentalidade? Nossa nova colunista Mariana Wechsler conta que para sentir leveza na alma durante a criação dos filhos, você precisa colocar em prática uma clara percepção sobre suas emoções para, então, conseguir enxergar valor em si mesma e nos outros ao seu redor.


Será que mãe é tudo igual em qualquer lugar do mundo? Sem entrar no mérito do clichê em si, que muitas vezes é utilizado com um tom sexista, eu quero compartilhar umas histórias nesta minha primeira coluna aqui na Vida Simples.

Um pouco sobre mim

Oi! Meu nome é Mariana Wechsler (prununcia-se Veksler) e sou Budista desde os meus 5 anos. Num outro momento eu conto mais sobre como tudo começou. Sou educadora parental, membro do Conselho Europeu de Mentoria e Coaching (EMCC), ajudo famílias a terem mais equilíbrio na vida, a encontrar leveza, alegria e amor de volta em seus lares, fortalecendo a autoestima de cada pessoa por meio do desenvolvimento de novos olhares.

Moro com minha família fora do Brasil há quase 5 anos. Foi uma escolha difícil de ser conquistada. Só depois de 4 anos dessa decisão, a oportunidade da mudança aconteceu.

Nossas filhas, Anne e Lara, tinham 3 anos, e nosso filho, Gael, havia completado 1 ano poucos dias antes da viagem. Ele deu seus primeiros passos dentro do aeroporto de Guarulhos rumo a Zürich.

Estávamos ansiosos pelas novas experiências. E depois de ler Crianças Francesas não Fazem Manha, da Pamela Druckerman, quem não imagina algo incrível que uma criança (e uma mãe) na Suíça é capaz…

Imaginário florido e encantado pode circular na nossa mente e, por vezes, a realidade do outro parece mais evoluída, mais feliz e de mais sucesso do que a nossa própria vida. Mas, uma coisa que aprendi com o Budismo é que o diálogo derruba muros e constrói pontes. 

Mariana usa uma blusa branca, cabelo preso loiro, óculos com lentes laranjas, estão em um barco com o mar ao fundo. Seus três filhos estão ao redor.

Foto: Mariana Wechsler / Arquivo pessoal

Meus diálogos com mulheres fantásticas 

Dentre muitos desabafos que já ouvi de mulheres e mães que participam dos meus encontros, vou compartilhar sobre uma mãe suíça que conheci, que pensava ter a verdadeira imagem da mãe daquela criança que não faz manha e ainda constrói um foguete com canivete.

Fomos apresentadas logo que chegamos da mudança. Mas nunca tivemos oportunidade para nos conhecermos com mais profundidade. Todas as tentativas de encontros foram frustradas. Porém, pudemos nos encontrar numa festa de casamento. Na Suíça? Não, foi em Istambul. A gente precisou ir até a Turquia para finalmente conseguirmos ter uma conversa social.

O porquê dos desencontros

E finalmente, após 5 anos, o reencontro com a família deu certo!

Em pouco tempo de conversa, já pudemos trocar umas ideias e experiências. Ela me contou coisas que farão você, mãe, entender rapidamente o porquê dos desencontros: “faz anos que não me arrumo e não passo uma maquiagem, que não coloco um salto. Meus filhos me olharam e disseram que fiquei feia assim e que preferem eu sem essa produção. Eles nunca me viram desse jeito”.

A tal da (sobre)carga materna

Essa mãe com seus três filhos (os gêmeos com 11 e o mais velho com 13 anos), não é muito diferente de muitas de nós. A dedicação às atividades das crianças e a sobrecarga nos cuidados faziam com que restasse a ela pouquíssimas oportunidades de olhar e fazer algo para si mesma.

A cena do casamento foi deslumbrante, o pôr do sol nos encantou iluminando o estreito de Bósforo, movendo-se do lado Asiático para o lado Europeu, três lindas mulheres com um chapéu enorme em formato de flor tocando violino e violoncelo (foto abaixo), as músicas típicas da Turquia (do noivo) e do Azerbaijão (da noiva) alegrando os convidados. Mas, mesmo com isso tudo, as três crianças não viram nenhuma dessas cenas, seus olhos estavam vidrados na tela do celular. Fiquei imaginando o quanto de oportunidades, curiosidades e memórias escaparam por seus olhos.

Mulherusam chápeus em formato de flores enquanto estão sentadas em cadeiras tocando violino.

Foto: Mariana Wechsler / Arquivo pessoal

Inspirar é agir com a intenção do amor

E eu ali, olhando para essa mãe, ouvindo o quanto ela não consegue fazer coisas para si, e ao mesmo tempo, não conseguindo inspirar os filhos a terem uma relação de interesse com a vida ao redor. E, óbvio, não deixei de pensar na carga mental que essa mãe carrega, da falta de apoio, no machismo estrutural.

As gotas da realidade vão caindo na nossa frente, e vamos percebendo que nesse mundo afora todas nós mulheres e mães (incluindo todos os gêneros) passamos por realidades parecidas. Independente do país, do histórico familiar, da condição financeira, todas as mulheres e mães já passaram ou passam ainda por uma situação de isolamento social e de escapismo mental.

Cuidar da nossa saúde mental atravessa gerações 

Quando conheci uma brasileira morando também na Suíça e casada com um europeu, a primeira coisa que ela me disse foi que não se achava boa o suficiente, que era casada com um marido que só está fisicamente e que não participa da vida familiar.

Em seu relato, ela contou que o marido foi e continua sendo vítima de pais abusivos e narcisistas. E mesmo não querendo, sob o efeito do estresse, do escapismo, da convivência tóxica, essa mãe sem perceber tinha comportamentos que prejudicavam a criança, diminuindo a existência de seu filho.

Sua preocupação era aprender a lidar com a criança que, segundo sua percepção, é hiperativa. Que precisava tirar notas melhores. Que precisava obedecer a ela. Que precisava fazer o que ela mandava. Que precisava respeitar os adultos. Que precisava…

Depois do nosso diálogo a mãe percebeu que estava olhando para o filho com uma lente de julgamentos e nada acolhedora. Entendeu que precisava buscar enxergar a verdadeira essência de seu filho, e que, no fim, a necessidade de qualquer ser humano é de se sentir amado, visto e importante no ambiente familiar. Menos crítica e cobranças, muito mais presença, olho no olho, amor e acolhimento.

Uma lição para qualquer desafio

No Budismo, o principal ensinamento é que se você quer transformar a sua vida, é preciso colocar em prática uma clara percepção sobre suas emoções para conseguir enxergar valor em si mesma e nos outros ao redor.

A partir dessa percepção aguçada (o tal Estado de Iluminação), você consegue no presente ressignificar o seu passado e construir uma nova ponte para o futuro que está semeando. Nós chamamos de o “Budismo da Semeadura”.

Uma estratégia para você

Deseja que sua criança olhe nos seus olhos? Que seja uma pessoa respeitosa? Que seja uma pessoa boa?

Comece sendo o exemplo de humanidade. Não cobre o outro. Não critique. Para cada crítica que escapar, encontre 10 elogios e os diga em voz alta.

Pode ser difícil e doloroso no início, mas há processos que você precisará revirar os porões de suas memórias para ressignificar muitas crenças. Acredite, troque as lentes que você já está acostumada a ver a vida. Escute o mundo, veja os detalhes que a vida nos presenteia todos os dias.

O controle

Nas duas histórias que contei (a da mãe sobrecarregada no casamento e a da mãe que buscava ajuda para se conectar com o filho) temos um ponto em comum.

Não importa a nacionalidade, todas nós, mães, temos a tendência (não) natural de querer decidir ou controlar tudo pela criança. Mas esse controle é inconsciente e ele tem explicação.

Um motivo

Você sabia que para um atleta atingir a habilidade para competir é preciso treinar ao menos 10.000 horas? Pense. Uma mãe treina por pelo menos 43.800 horas (ou 5 anos) a controlar coisas como horário de comer, de se trocar, de brincar… – e a decidir por alguém que não é ela.

Uma mãe torna-se uma expert em controle e decisão da vida alheia – e ela se acostuma nesse mindset, pois acaba assumindo sozinha a carga mental que um filho traz.

E o lado da criança

Na criança, cria-se a insegurança em não conseguir decidir algo, corta a capacidade em lidar com seus sentimentos. Sobre isso, em O Poder do Discurso Materno, Laura Gutman escreveu:

Tudo que a criança escuta de si mesma, positivo ou negativo, tem relação com o personagem que encarna e, assim, em sua necessidade desesperada de ser amada, a criança tentará ser o mais valente dos valentes, a mais bela das belas ou o mais doente dos doentes. Por quê? Porque se os adultos, ao olhá-la, olham seu personagem, então para ser olhada ela terá de exibir seu disfarce a fim de ser o melhor de todos.”

Como bem explica, a personagem que a criança encarna (chorona, manhosa, engraçadinha etc.) é tudo aquilo que escuta sobre ela e apenas denota o canal de comunicação que conseguiu com os pais, portanto a reação da criança é inspirada em como os pais se portam com ela.

Shitei Funi

O que ela diz nesse trecho tem ligação com um princípio Budista chamado “A Inseparabilidade do Mestre e Discípulo” (shitei funi), que explica que não há separação entre o mestre e o seu discípulo e que há uma eterna unicidade entre os dois.

Entende-se que o mestre é quem possui uma percepção apurada sobre seus sentimentos e consegue enxergar valor em si e no outro. O discípulo é quem busca alcançar essa mesma percepção de seu mestre.

Para o Budismo, mestre e discípulo possuem o mesmo ideal de compartilhar com todas as pessoas o como obter uma percepção despida de pré-conceitos.

Os pais são como os troncos de uma árvore e os filhos, a sombra.

Que o meu propósito seja o seu também

Espero que o que eu compartilhei toque o seu coração da melhor forma possível e ecoe o seguinte mantra:

Não importa o que eu faça, o meu futuro não está sob meu controle; porém, meu futuro está diretamente ligado ao que eu semeio hoje.

Seja sempre sua melhor amiga. Seja a pessoa fantástica que você é! Eu acredito em você. Acredite em você também.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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