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O que aprendi com o medo
O medo poder ser uma ferramenta poderosa de autoconhecimento (Foto: Russell Ferrer/Unsplash)
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Dia desses, minha filha Eva, de 4 anos, pediu para ler uma historinha para dormir. Ela escolheu um livrinho que fala sobre como nos sentimos quando temos medo.

Quando pegou o livro, disse: “Escolhi esse porque tenho medo”. E meu marido perguntou, brincando: “Você tem medo mesmo?”.

Então, Eva, muito segura, respondeu:

“Eu sou criança. É normal criança ter medo.”

Fiquei feliz por ela estar aprendendo, desde cedo, algo muito importante sobre as emoções – é normal sentirmos qualquer uma delas.

Muitos de nós, pela falta de educação emocional, podem levar mais tempo para compreender isso e aceitar algumas emoções. Especialmente, as consideradas “negativas”.

Aproveitei a oportunidade para dizer a Eva que também é normal que adultos sintam medo. Embora, para alguns, seja uma emoção desagradável, ele nos aponta as possíveis ameaças que enxergamos.

E isso é algo que deve ser observado, acolhido, avaliado e utilizado para nortear nossas ações. Portanto, é uma emoção extremamente útil e necessária em nossas vidas.

Essa cena com minha filha foi muito significativa para mim, porque toca no que tenho sentido, com muito mais frequência, depois que ela nasceu. MEDO – desse tamanhão assim.

Na verdade, depois que engravidei, comecei a me deparar com novos medos. A cada exame, um medo do possível resultado diferente do desejado.

Sentimento compartilhado por muitas mães. Afinal, passamos a carregar uma outra vida dentro de nós e isso é imenso!

Novas experiências, novos medos

Com o desenrolar da gravidez, fui aprendendo a lidar com esses medos que não existiam antes. Até o dia em que fui fazer uma consulta de pré-natal e descobri que os batimentos cardíacos da minha bebê estavam diminuindo rapidamente.

Então, tive que fazer uma cesárea de emergência. E essa foi minha primeira GRANDE experiência de medo na maternidade. Isso me gerou um trauma, que volto a acessar quando certos gatilhos são acionados.

Dois anos se passaram e minha filha teve um primeiro episódio de laringite aguda. Tivemos que correr com ela para o hospital, no meio da madrugada, porque era uma emergência pediátrica.

Entre o caminho da minha casa até o hospital, o medo da morte me assombrava. No ano seguinte, ela teve mais um quadro noturno de laringite e o tal medo da morte voltou a me visitar.

Tempos depois, Eva levou um tombo, aparentemente inofensivo, e quebrou um dentinho da frente. O dente quebrou de tal forma que precisou fazer um canal, internada no hospital, com uso de anestesia geral e respirador.

Pronto! Com mais essa cena, o medo atingiu uma outra proporção em mim. A partir dessa sequência de eventos, qualquer simples tosse da minha filha no meio da noite passou a ser um gatilho que me gera agonia intensa, inquietação, ansiedade, taquicardia, desconforto intestinal e outros sintomas.

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O medo é um convite ao autoconhecimento

Precisei, então, olhar para esse medo da morte com mais profundidade e reconhecer o que estava além da superfície. Isso requer coragem.

Quando me tornei mãe, senti que esse novo papel era bastante cansativo, difícil e desgastante para mim. Especialmente no contexto em que vivo. Moro em uma ilha na Tailândia, longe da família e com uma rede de apoio bastante reduzida.

Nas conversas sobre maternidade, sempre procurei falar abertamente sobre como me sentia (e sinto) em relação a tudo isso.

Mas sei que muitas mães tem vergonha de declarar o que sentem no seu íntimo. Como se fosse um pecado não dizer apenas coisas boas sobre a maternidade. Como se não fôssemos gratas por nossos filhos.

E embora eu pense diferente, reconheci que esse medo da morte da minha filha também estava associado a crença de que se há um ser superior que pode nos punir, ele poderia me castigar por dizer que a maternidade não é fácil. Quanto peso há nisso!

Mergulhando ainda mais nessa questão, resgatei outros episódios traumáticos na história da minha família. E é importante frisar que há traumas que são geracionais – que passam de uma geração para a próxima. E nós podemos encerrar determinados ciclos em nós, para que isso não siga se perpetuando.

Esse é o trabalho interno que estou fazendo no momento. E que só pude me dar conta, depois de sentir, observar e acolher o meu medo.

As 5 lições que aprendi com o medo

A partir dessa experiência profunda de aprendizado através da emoção, tirei algumas lições que gostaria de compartilhar:

1. Todas as emoções devem ser bem-vindas (e isso vale para qualquer idade). Isso porque elas trazem mensagens importantes para nós. Se pergunte: “O que essa emoção quer me dizer?”.

2. Acolha-se! Seja lá o que for que estiver sentindo, acolha. Além disso, procure não ficar julgando o que está sentindo ou se julgando por sentir o que sente.

3. Há coisas que não conseguimos identificar sozinhos, por isso peça ajuda! Nem sempre temos conhecimento suficiente ou ferramentas para lidarmos com algo que estamos vivenciando com dificuldade. Algo que está nos gerando desconforto, dor ou sofrimento. Há muito profissionais capacitados, com as mais variadas abordagens, para oferecer esse auxílio. Você não precisa passar por isso sozinha(o).

4. Não coloque suas dores “debaixo do tapete”. Tudo o que vivemos, por mais doloroso que seja, tem algo para nos ensinar. Investigue: “O que essa situação tem para me ensinar? O que posso aprender com isso?”.

5. Seja gentil com o seu processo! Nossas investigações mais íntimas e nossos processos de aprendizagem na vida podem levar tempo. Então, não queira resolver tudo com rapidez e permita que o processo leve o tempo que for necessário.

Sendo assim, meu desejo é te encorajar a olhar para as suas emoções com honestidade e profundidade. Que você possa aprender com elas aquilo que for importante para sua vida, para que ela seja ainda melhor!

E se quiser compartilhar comigo alguma experiência semelhante, vou adorar falar com você. @almapelomundo | [email protected]

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