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O que fazer quando a crise existencial bate à porta?
Passar por uma crise não é fácil, mas é uma oportunidade para evolução. Ivan Aleksic/ Unsplash.
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“Tenho chorado dia sim, dia não. Não aguento mais fazer o que faço. Quero me sentar em um quarto branco e ficar lá. Sozinha. Sem fazer nada.”. Foi assim que minha amiga descreveu a crise que está vivendo atualmente. Acabou de completar 40 anos. Não quer mais trabalhar no seu próprio negócio – que demandou muito tempo e esforço para construir. E não sabe por onde seguir. Há muito tempo não faz coisas somente porque quer fazer. Mas, sim, o que acredita que “precisa” ser feito. Costuma escolher atividades que, no seu julgamento, trazem benefícios, e não, necessariamente, prazer. Não tem tido energia nem para pequenas coisas que ama fazer, como cozinhar, por exemplo. E tudo isso grita dentro dela. O corpo e as emoções pedem escuta. Uma mudança se faz urgente.

A história de minha amiga me levou ao reencontro com minha própria história. Quando, há nove anos, me senti de um jeito muito semelhante ao que ela sente hoje. Naquela época, precisei romper com a vida, da maneira que a conhecia, para construir um novo caminho. Já escrevi outras vezes aqui, com mais detalhes, sobre essa transição que vivi (se você é assinante de Vida Simples, pode procurar a edição de agosto de 2018, em que conto ‘O que aprendi ao pedir demissão’). Precisei pedir demissão – no auge da minha carreira no mundo corporativo – após 14 anos trabalhando no mesmo segmento. E, recomeçar. Mas, por onde??? Essa é a pergunta que minha amiga se faz também.

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Crises fazem parte da nossa humanidade compartilhada

Essa dor – da necessidade de encerrar um ciclo, mesmo sem ter clareza sobre o próximo – habita muitos de nós. Ela faz parte da nossa humanidade compartilhada. E, portanto, podemos passar por ela com companhia. Acho muito importante dizer que não estamos sós nessa. Porque, muitas vezes, quando nos vemos diante de uma crise (e eu escuto isso de muitas pessoas que atendo), parece que somos os únicos a sentir assim. Parece que a vida das outras pessoas é mais clara do que a nossa. Podemos até sentir que estamos na contramão do fluxo, pois, em nosso julgamento, já estamos muito velhos para sentirmos isso. Ou talvez porque, a essa altura da vida, já deveríamos ter clareza disso ou daquilo. E assim, vamos nos maltratando ainda mais e invalidando a nossa dor.

A dor e o incômodo vem nos trazer notícias de que o nosso ser pede outros movimentos. Isso é absolutamente normal! E, embora a investigação íntima seja necessária – nessa busca por respostas para novas perguntas que surgem – nós não precisamos escolher o caminho solitário. Pelo contrário, podemos fazer isso juntos! Conversando, trocando e aprendendo com alguém (ou com um grupo) que já viveu algo semelhante. Ou, buscando ajuda de profissionais que possam nos acolher e amparar (sem julgamento), nesse momento em que estamos mais vulneráveis.

A busca por novas respostas pede um mergulho profundo dentro de nós. Mas é absolutamente recomendado que o mergulhador não vá para as profundezas sozinho.

Por onde começar depois da crise?

O primeiro passo diante da crise é aceitar que ela está lá. E não querer sair correndo dela. Ao contrário, devemos olhá-la profundamente. Encará-la. Reconhecê-la. Dar espaço para que ela se acomode dentro de nós. E, com o tempo, vá apontando novos caminhos. Há uma frase bastante conhecida de Jung que diz que: “aquilo a que você resiste, persiste.”. Então, se não queremos que a dor persista, o melhor é não oferecer resistência a ela. E sim, acolhê-la.

Como fazemos isso?

  • Escutando nosso corpo e nossas emoções.
  • Permitindo-nos sentir, sem julgamento, qualquer emoção que esteja viva. Seja ela tristeza, raiva, medo, frustração, angústia, inveja, etc. Por mais desconfortável que isso seja.
  • Dando vazão a nossas emoções. Seja falando sobre nossos sentimentos, seja dançando nossas emoções, chorando ou até mesmo gritando, se esse for o pedido do corpo.
  • Procurando compreender qual a mensagem que está por trás das sensações físicas e das emoções que estamos sentindo. Que pedidos elas não fazem? Que necessidades não atendidas elas revelam?

Devemos olhar para a nossa trajetória em meio a crise

  • Revisitar nossa história, procurando observar se estamos repetindo padrões. E, se sim, podemos refletir sobre quais novas escolhas queremos fazer. Para escrevermos os próximos capítulos, de maneira mais coerente com aquilo que desejamos para nós, no presente.
  • Fazer um resgate de sonhos esquecidos, talentos que não estamos utilizando, coisas que amamos fazer e não estamos fazendo, prazeres que abandonamos. Trazer tudo isso de volta para nossas vidas pode nos fortalecer em momentos de crise e enriquecer nossa existência.
  • Nutrir relacionamentos com pessoas que nos elevam.
  • E, oferecer a nós mesmos, a nós mesmas, MUITA compaixão. Colo, carinho e respeito pelo processo que estamos passando e pelo tempo que ele pode levar – que é um tempo kairós, o tempo da natureza.

Assim como qualquer pessoa que já passou por um momento de crise, sei bem o quanto isso pode ser difícil, assustador e sofrido. E sei também que, percorrer caminhos tortuosos na companhia de alguém que compreende a complexidade desse momento, pode ser um carinho na alma e no coração. Além disso, não tenha medo e nem vergonha de procurar pelo suporte que você precisa. Só você vive a sua vida, e mais ninguém. Então, é sua responsabilidade fazer dela o melhor que puder. Crises são oportunidades para evoluirmos. Dessa forma, olhar para o lado positivo da dor pode trazer recompensas! 😉

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