“Mais amor por favor”: como praticar a autocompaixão
A autocompaixão pode nos ajudar a gerir o estresse de uma maneira mais saudável e, assim, podemos experimentar mais bem-estar em nossa vida.
É madrugada e tem um serzinho atravessado sobre mim, mamando. Essa cena se repete diariamente em minha vida, há dois anos e meio. Já não me lembro mais como é a sensação de dormir uma noite inteira, sem interrupções. O dia nem bem amanhece, e já me pego pensando sobre algo que tem me gerado bastante estresse ultimamente. O meu desejo de fazer o desmame de uma criança que, absolutamente, adora mamar. E que não dá nenhum sinal de que pretende interromper esse hábito, tão logo. Se você está passando ou já passou por isso, talvez deva saber quão complexa e desafiadora essa tarefa pode ser.
Felizmente, quase que como uma providência divina, nessa mesma manhã, eu tive uma aula sobre gestão do estresse, como parte da formação em Psicologia Positiva, que estou fazendo pelo Wholebeing Institute Brasil. Durante a aula, surgiu a oportunidade de compartilhar com o grupo a questão do desmame, que tem sido fonte constante de estresse para mim. Saí do encontro com algumas reflexões e ferramentas sobre autocompaixão que me ajudaram bastante. E que podem ser úteis para você também, já que o estresse faz parte da vida de todos nós.
Uma ferramenta para lidar com o estresse
Quando você estiver vivenciando uma sensação de estresse alto, reflita sobre a sua capacidade de lidar com essa situação. E não digo capacidade no sentido de habilidade. Porque, muitas vezes, a gente sabe fazer o que precisa ser feito para resolver a situação. Temos essa habilidade. A capacidade que me refiro aqui é a condição necessária para agir em determinada situação. Ou seja, a de fazer aquilo que sabemos que precisa ser feito.
Por exemplo, no meu caso, eu sei quais as alternativas que tenho para fazer o desmame. Conheço algumas ações possíveis. Mas, nesse momento, reconheço que não tenho a capacidade necessária para executar essas ações. A capacidade, aqui, seria a energia necessária para sustentar um período de estresse, ainda maior, que poderá vir a partir dessa ação. Digo isso porque já tentei algumas intervenções mais suaves e vi a reação da minha filha. Como boa leonina que é, ela “luta” bravamente pelo que quer. Nada fácil!
Então, quando você constatar que a sua capacidade para lidar com o que está lhe gerando estresse é baixa, reflita:
- Para que eu possa obter mais apoio e compreensão, quais são algumas maneiras de comunicar para mim mesmo(a) e para os outros, que a minha capacidade de agir diante dessa situação é baixa?
- Como é que eu quero cuidar de mim agora? Do que eu preciso?
- Quem sou eu, no meu melhor, diante dessa situação?
Essas questões foram propostas por Henrique Bueno, CEO e fundador do Wholebeing Institute Brasil. Perceba que aqui ele trouxe uma “arma secreta”, muito poderosa, chamada autocompaixão. Ela pode nos ajudar a lidar com as situações que nos causam estresse.
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Como praticar a autocompaixão
A Dra. Kristin Neff, da Universidade do Texas, é pioneira no estudo da autocompaixão. Sua pesquisa mostra que, se aprendermos a nos tratar com generosidade verdadeira, tendemos a fazer mais progresso na direção de nossos objetivos. E, assim, somos capazes de criar mudanças mais positivas em nossa vida, porque nos tornamos mais dispostos a experimentar coisas, mesmo que nem sempre tenhamos sucesso.
Ou seja, ao invés de ficar me cobrando, dizendo para mim mesma: “preciso fazer algo urgente para acabar com isso”. Ou, “tenho que ser mais firme e dizer não, independente de como a minha filha vai reagir”, o melhor é acolher a minha verdade. Que, nesse momento, não me sinto suficientemente preparada para sustentar o não, a qualquer custo. E, com isso, enquanto a amamentação continua, posso encarar essa fase com mais leveza e com menos estresse, reconhecendo que isso é temporário e que, em outro momento, posso me sentir mais capaz para tentar outras estratégias.
Aplique a autocompaixão na sua vida
Em 2009, a frase “Mais amor por favor” começou a inundar as ruas de São Paulo. E, mais tarde, de outras cidades do Brasil e do mundo. Era um apelo para cultivarmos o amor na vida em comunidade. Um pedido para fora. Enquanto juntava minhas ideias para escrever esse texto, essa frase me veio à mente, como um pedido para dentro de mim.
- Que tal oferecer “Mais amor por favor” para mim mesma?
- Como a minha vida pode ser, se eu for mais compassiva e amorosa comigo mesma, se eu for a minha melhor amiga?
- Que ações eu posso implementar nesse sentido?
Deixo essas reflexões para você também, como um convite para se oferecer mais amor, compaixão e gentileza. Temos muito tempo pela frente para aprendermos a lidar com o estresse de uma maneira mais amorosa e autocompassiva. E, com isso, experimentarmos mais bem-estar em nosso dia a dia.
*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.
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