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Honrar o pai: um ato necessário para fazer as pazes com a vida
Ante Hamersmit
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Como honrar o pai? “Muita gente fala sobre o patriarcado, mas quase ninguém fala sobre o patricídio.” Essa fala de um amigo ficou ecoando na minha mente durante um bom tempo. Conversávamos sobre a vida e ele dividia sua visão de mundo, sendo um africano que veio morar no Brasil. Eu não entendi muito bem o que ele quis dizer. Por isso, pedi que me explicasse melhor.

O patricídio acontece quando os filhos matam os pais. Claro, essa morte não precisa ser um assassinato, mas um ato simbólico, quando o filho se considera melhor que o pai. Segundo ele, essa é a história do Ocidente. Basta estudar a saga de impérios e reinados, ou as mitologias, para ver que isso acontecia com frequência.

Uma geração sem modelos saudáveis de homens

Essa conversa reflete o que aprendi nos estudos sobre masculinidade. A relação de um homem com o seu progenitor é uma das principais chaves de entendimento sobre seu comportamento. Hoje em dia, tristemente, os homens consideram que seus pais não foram boas referências. Muita gente, inclusive, não chegou a conhecer ou a conviver com a figura paterna. Há milhões de pessoas sem o nome do pai no RG.

Num dos encontros mais marcantes do nosso grupo, escutei de quase todos os participantes que eles não tiveram modelos saudáveis de homens. Muitos diziam que até contaram com a presença do pai na vida, mas o fato de ele ser muito machista, beber demais ou ser violento fazia com que não conseguissem vê-lo como parâmetro. Assim, muitos filhos julgam ser melhores que seus pais. A tal morte simbólica.

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Dois caminhos para honrar o pai

Essa situação pode ser vista de duas maneiras. A primeira é concluir que tivemos uma geração de homens que não foram bons exemplos. Essa é a mais óbvia. A segunda forma é pensar que não é preciso que uma pessoa seja um primor de conduta para que se valorize sua existência.

Penso que honrar o pai é um dos desafios da atualidade. E compreender a diferença entre honra e exemplo é fundamental. Muitos homens não foram espelhos positivos e não deixaram um legado de ensinamentos. Ainda assim, continuam sendo o pai.

E é somente quando uma pessoa consegue reconhecer a importância que essa figura teve na sua existência que um lugar de concórdia pode se instaurar do lado de dentro. Aceitar os caminhos que cada um escolheu trilhar, ficar em harmonia e não exigir nada do que não foi dado. Somente assim é possível fazer as pazes com a vida.


Este texto foi publicado originalmente na edição 259 de Vida Simples

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