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Ser pai é um ato afetivo, social e político
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Hoje acabei de sair de uma reunião em uma das maiores empresas químicas do mundo, onde o tema era: Paternidade. Venho abordando o tema em todos os lugares, espaços, canais, meios, grupos de whatsapp e etc. Brinco que já consigo incluir o tema em qualquer assunto (rs).

Mas hoje foi uma reunião diferente das outras. Foi leve, todos ali estavam pela primeira vez alinhados comigo e com o que realmente acredito na temática. Sempre foi um desafio meu a frente da 4daddy, meu projeto sobre paternidade, mudar o elogio ao meu trabalho de “fofo”  para IMPORTANTE, assim mesmo, em caps lock.

Acredito na paternidade como gatilho de transformação do homem, como uma peça importante para o desenvolvimento saudável de nossas crianças e adolescentes, e um forte antídoto ao machismo e masculinidade tóxica. E ali, naquela reunião, estavam todos pela primeira vez na mesma página. Mais do que uma palestra motivacional para o Dia dos Pais, eles queriam um programa para engajar seus colaboradores homens a serem homens mais participativos nos cuidados afetivos de seus filhos e filhas. Pois acreditavam, como eu, que um pai que exerce a sua paternidade de forma consciente, todos saem ganhando: ele, seu filho ou filha, sua esposa, sua família, a comunidade que está incluído, a empresa, a sociedade, e o planeta Terra.

No final me perguntaram qual era a minha maior motivação para fazer o trabalho que faço. Foi a primeira vez que me fizeram essa pergunta, e me emocionei ao responde-los. Não que me emocionar mesmo em reuniões de trabalho seja uma novidade, pois desde que me tornei pai, e comecei o meu processo de desconstrução de alguns conceitos, e até destruição de alguns valores (pois acredito que alguns hábitos não valem nem serem desconstruídos, eles devem ser destruídos mesmo, para aí sim, ser construídos novos valores) chorar horrores tem sido a coisa que mais faço.

Fui criado como o típico menino, que precisava ser forte, inteligente, sagaz, predador e que deveria evitar ser sensível, chorar, mostrar vulnerabilidade. Tadinho de mim e de todos os homens que são criados em nossa cultura machista. Mas a paternidade me desconstruiu de uma tal forma, que é isso que me motivou a agarrá-la como uma bandeira, como um ativismo.

Pra mim, a paternidade foi a minha maior transformação. A tal reforma íntima que as pessoas mais espiritualizadas falam e buscam. Foi a forma que consegui acessar a minha criança interior ferida, e cuidar dela, ao mesmo tempo que cuido do meu filho. Sempre tomando cuidado, lógico, em não jogar em seus ombros minhas frustações, desejos e manias.

Temos que respeitar nossos filhos e filhas como sujeito. Talvez essa seja uma das desigualdades sociais mais invisíveis, a do adulto para com a criança, seja qual for a sua ligação parental e social. Os óculos da paternidade me fizeram enxergar coisas antes coisas que eram invisíveis para mim. Meus privilégios, meu machismo, minha ignorância mesmo perante alguns assuntos.

Descobri o que é carga mental das mulheres. Descobri que nós, pais, precisamos de pouco pra sermos “paizões”, e esse privilégio cega. Descobri que Pai não ajuda. Participa!

Descobri que eu, como pai, posso perpetuar esse formato antiquado e injusto, ou posso romper.

Descobri que não sei de nada, mas posso aprender tudo. Percorrendo ao caminho, ao lado das pessoas que estão comigo, seja minha ex esposa, mãe do meu filho, ou minha atual companheira, que me ensina diariamente a lidar comigo mesmo, e ao lidar comigo, lido melhor com meu filho. Ou seja, com o pai biológico do meu filho e sua atual companheira, que também o criam para ser um ser humano melhor.

E é nessa dinâmica mosaica que vivemos.  O Vini, hoje com 11 anos, é meu filho afetivo. Eu o conheci quando ele tinha 3. Ele é fruto da relação da minha ex-esposa. Então tem pai e mãe biológicos presentes. E mais um pai afetivo, eu, e um bocado de gente que o cerca e o ama. Acho que somos a personificação do ditado africano que diz que “Precisa-se de toda uma aldeia pra se criar uma criança.” E o Vini nasceu nessa aldeia.

Como toda aldeia, as vezes caótica, com problemas e desafios, mas também com muito amor e afeto, sempre disposta a melhorar.

Termino esse texto tentando responder duas perguntas que ficaram martelando a minha cabeça: 1) Qual é a minha maior motivação a fazer o meu trabalho com paternidade? (aquele pergunta feita a minha numa reunião de trabalho) e 2) Pra que servem os filhos? (uma pergunta feita por um comediante num momento de um show de stand up).

Pra mim, meu filho serviu pra me ensinar a me entender. E me entendendo melhor, o entendo melhor, e entendo melhor a vida.

Minha maior motivação talvez seja fazer que outros homens experimentem  a sensação de estar perdido e salvo ao mesmo tempo. Que experimentem o medo. Que experimentem o vulnerável. Que experimentem a sensibilidade. E que entenda que hoje, ser pai é um ato afetivo, social e político.

Afinal, pra que servem os filhos, né?

Leandro Ziotto é pai do Vini e criador do projeto 4Daddy. Para saber mais: https://4daddy.com.br/

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