E se a gente passasse a se escutar?
Pode falar, que eu não estou te ouvindo. Aliás, não estou dando a mínima para o que você fala.
– Pode falar, que eu não estou te ouvindo. Aliás, não estou dando a mínima para o que você fala. Me apeguei à primeira frase que você disse e agora estou ocupado elaborando a minha resposta. Assim que voltar o silêncio será minha deixa para começar a falar novamente.
– Olha, que coincidência, pois eu também não te ouvi e falei o que já tinha vindo pensando antes. Não me interessa se fazia sentido pra você ou se tinha qualquer conexão com o que você havia dito.
– Mas se a gente seguir assim, um apenas aguardando o outro falar, chegaremos a algum lugar?
– Chegaremos, ao lugar que eu quiser, se tiver mais capacidade de te convencer. Basta eu te mostrar que tenho razão e te forçar a abandonar suas ideias para seguir as minhas.
– Será que não há um meio do caminho, onde podemos nos encontrar? Já ouvi alguém falar sobre isso, que melhor do que convencer é convergir. Saimos do ponto em que estamos e nos encontramos num lugar que ambos concordem.
– Bobagem. Pra isso precisaríamos estar nos escutando. Eu precisaria prestar atenção no que você diz, compreender cada palavra e refletir sobre elas. Para aí, só na sequência, elaborar meus pensamentos, agora, misturados aos seus.
– Ah, verdade. Vai dar muito mais trabalho e nem sei se valeria a pena.
– Até valeria, porque assim ao invés de contar apenas com as minhas alternativas, eu conheceria as suas. E se elas se cruzassem, mais do que uma soma de ideias, teríamos múltiplas soluções. Mas isso só seria verdade se você tivesse boas ideias, o que não acho que é o caso. Te falta estrada ainda.
– Mas minhas ideias são melhores que as suas. Você tem muita estrada, é verdade, mas é uma única e aí que está o seu problema. Tantos anos fazendo a mesma coisa, te impedem de enxergar as novidades que apontam em outras direções.
– Eu já sei o que funciona e o que não funciona.
– Já testou tudo? Até mesmo o que até pouco tempo nem havia sido inventado?
– Tem coisa que vocês, jovens, só mudam de nome pra parecer novo.
– Se é assim, porque estamos tendo dificuldade em repetir o sucesso do passado? Será que o mundo não mudou, os desafios não se tornaram diferentes e a gente continua repetindo fórmula antiga em problemas novos?
– Pode ser, e o que você sugere? Tem alguma ideia?
– Tenho, posso repetir a que havia dado no início da nossa conversa. E você?
– Posso tentar uma coisa nova: apenas te escutar.
Tiago Belotte é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas e no Uni-BH. Seu Instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.
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