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Como lidar com as feridas da infância e a autocrítica?
MidJourney
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Uma das várias lembranças que tenho da minha infância é da minha mãe olhando no espelho e se achando linda. Ela considerava a pele bonita, seus cabelos charmosos e a combinação de roupa estilosa. Não me recordo dela se olhar no espelho e reclamar de algo de sua aparência, nem ao menos do peso ou das pernas que não era o seu forte. Lembro do meu pai ainda dizer que não existia mulher mais linda e cheirosa que ela. Ele repetia isso inúmeras e centenas de vezes.

É curioso, porque nós duas somos o oposto, ela é morena e eu sou loira, ela tem estrutura maior que a minha que sou “mignon”, entre outros vários aspectos como o jeito e a personalidade serem bem diferentes entre nós duas.

Por muito tempo eu sentia por não ser linda como minha mãe, mesmo porque meu pai dizia que realmente eu não era tão bonita quanto ela. #freudcorreaqui

A minha sorte é que existe a máxima que diz: as crianças fazem o que os adultos fazem, e não o que eles falam. E eu comprovei essa verdade em minha própria vida. Então, por mais que eu não fosse a mais bela e até mesmo ouvisse que era “meio feinha” dos meus pais, eu sempre gostei de mim, não como a mais bonita da escola. Mas, sentia-me feliz pelo que sou, assim como minha mãe.

As vozes críticas que nos acompanham

Os padrões de personalidade que herdamos em nossa infância ficam visíveis na maneira que nossas vozes internas conversam com nós mesmas quando adultos. E podemos perceber ainda mais quando damos destaque para nossas vozes críticas.

Acredite, isso não acontece só com você, a maioria de nós tem um monólogo ou comentários interno contínuos que aparecem em nossa mente e que muitas vezes nem damos atenção por já estarmos acostumadas a ouvi-los. Você sabe, aquilo que não é novidade a gente nem dá tanta atenção.

Muitas vezes essas vozes são bem severas do tipo: “Você não faz nada certo mesmo“, “Nunca confie em ninguém“, “Não presto atenção em nada“, “Tudo fica esquisito no meu corpo“, “Não consigo terminar nada que eu começo“, “Ninguém confia em mim“. 

Influenciando a autoestima dos filhos

A maioria dessas vozes são heranças antigas e por serem frequentes não prestamos atenção na manifestação delas. Você pode muitas vezes nem repetir oralmente o que elas te dizem, mas suas ações manifestam exatamente o que elas estão te dizendo e sem perceber essas mesmas vozes vão se tornando guia e impactando diretamente a vida dos seus filhos, influenciando a forma como eles julgam a si mesmo e aos outros. A principal maneira como nós humanos nos desenvolvemos são como as experiências da nossa infância nos impactam e nos transformam

Se você quer que seus filhos tenham a capacidade de serem felizes, procure notar a maneira como você fala com eles, isso lhe dá mais escolhas de como escutar a sua voz crítica interna. 

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Exercício de autoconhecimento: revelando as vozes críticas

Um exercício bem interessante que pode te ajudar a revelar suas vozes críticas é o seguinte:

  • Separe um caderno ou um bloco de notas do seu celular.
  • Anote todos os pensamentos críticos que você tem assim que acorda, esses são bem importantes e a gente costuma não dar muita atenção. 
  • Ao longo do dia, quanto mais pensamentos surgirem, você deverá anotar nesse mesmo lugar.

Ao fim do dia, releia todos eles e responda aos seguintes questionamentos:

  • Você se lembra de ouvir alguma pessoa fazer essas autocríticas para si mesma no passado?
  • Anote tudo que você pensar e responder.
  • Agora, anote 3 coisas que você quer muito fazer na sua vida. 
  • Quais são os passos que você precisa dar para conseguir? 
  • Perceba como você fala sobre isso na sua cabeça.
  • Você está falando algo que te diminua ou te impeça de conquistá-los? 
  • Essa voz faz você se lembrar de alguém na sua infância? 

Faça esse mesmo exercício por diversas vezes até começar a perceber e identificar suas vozes herdadas e ser capaz de escolher se irá deixar ou não de herança para suas crianças.

Mas, se você está passando por um período que identificar tudo isso será mais um item desgastante para fazer no seu dia, saiba que a herança mais preciosa que você pode deixar para seus filhos é sendo amorosa, autêntica e acolhedora com você mesma.

A relação de mãe e filho: laços fortes e reparação

A sabedoria do budismo nos ensina sobre o poder do acolhimento e da compaixão. Assim como minha mãe se olhava no espelho com amor e aceitação, o budismo nos convida a cultivar essa mesma gentileza em relação a nós mesmas

Reconhecendo que somos seres únicos, diferentes uns dos outros, podemos aprender a acolher e apreciar nossa própria beleza, independentemente dos padrões estabelecidos pela sociedade. Ao praticarmos a compaixão por nós mesmas, podemos transmitir esse amor e aceitação aos nossos filhos, ajudando-os a desenvolver uma autoestima saudável e uma visão positiva de si mesmos. 

O budismo nos lembra que a verdadeira beleza reside na autenticidade e na capacidade de amar a nós mesmas e aos outros sem julgamentos. Ao integrar esses ensinamentos em nossa jornada materna, podemos construir laços fortes com nossos filhos, promovendo a reparação, a tolerância e o crescimento mútuo.

O que é incrível é que apesar de todos os erros e falhas que julgamos cometer, ainda assim criamos um laço mútuo na nossa relação de mãe e filho. E conseguimos tornar esse laço ainda mais forte agindo com sinceridade e coragem para reparar quaisquer rupturas, sendo tolerantes com nós mesmas e levando em conta que todos fazemos o nosso melhor.

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Para te fazer companhia no artigo de hoje, quero te fazer 4 indicações bem especiais:

Para ler

Permissão para Sentir, de Marc Brackett. O livro destaca como a chegada de um filho desencadeia uma série de transformações emocionais profundas. Brackett explora a alegria, o amor incondicional, o medo, a ansiedade e outros sentimentos que acompanham a maternidade. Ele nos lembra da importância de reconhecer e validar essas emoções, permitindo-nos experimentá-las plenamente e sem julgamento. 

Para assistir

Ruptura, uma série da appleTV+. Imagine ter oito horas do seu dia apagadas do seu cérebro diariamente. Na série, quatro funcionários de uma famosa empresa passam por um procedimento ‘revolucionário’ que permite separar as lembranças de uma pessoa.

No escritório, os personagens só têm memórias referentes ao trabalho, enquanto em casa, não lembram das situações profissionais, apenas pessoais. Essa série me fez lembrar algumas falas que dizem que precisamos ter “Inteligência Emocional” suficiente para conseguir separar a vida pessoal, da vida profissional.

Seguindo esse mesmo pensamento, sinto que o ensino Educacional ainda avalia o estudante sem levar em conta as questões de sua vida pessoal. Para mim isso é algo inseparável, e é saudável pois nos compõe e nos humaniza, e para você?

Para ouvir

Você é Sensual, Mamilos. Explorando diversos ângulos, o episódio discute como a sociedade influencia nossa percepção da sensualidade, destacando a importância de se libertar de padrões impostos e abraçar a autenticidade em nossa sexualidade.

Nesse episódio, as apresentadoras também compartilham histórias pessoais e vivências, criando um espaço seguro para que os ouvintes se identifiquem e se sintam encorajados a explorar sua própria sensualidade de forma saudável e empoderada.

Meu PodCast 

Mariana Wechsler: um podcast de histórias reais, de todos os tipos de pessoas e como elas se encontram, se amam e enfrentam a vida ao lado das crianças que convivem. Por isso, eu ouço as vivências, compartilho o meu conhecimento e juntas construímos histórias que cuidam de você, de mim e de todas.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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