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Aprendiz na cozinha
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Neste artigo:

“Eu não sei cozinhar”. Ouvi a frase repetidas vezes da minha irmã mais velha. Ela parecia nunca saber combinar direito as coisas. Não acertava nem com salada, combinando itens, no mesmo prato, que não ornavam e produziam efeitos pouco agradáveis no paladar. Não saber cozinhar parecia, para ela, algo determinado, sem solução, mudança, caminho certo. O fato – a não habilidade com os alimentos – chegou até a ganhar fama entre os amigos, que passaram, em reuniões coletivas, a designar para ela a arrumação da mesa, o corte dos ingredientes. A responsabilidade por fazer o prato, jamais.

Só que dias desses, numa reunião em família, ela levou uma salada. Uma mistura gostosa de rúcula, manga, tomate, um queijo aerado e um tempero muito agradável que trazia um leve toque de mostarda. Fresca, deliciosa mesmo. “Você quem fez?”, perguntei. E ela prontamente afirmou com a cabeça. De fato, eu a havia visto finalizando o prato, preparando o tempero, na cozinha da casa da nossa mãe. Comentei como a salada estava boa, com uma união delicada de sabores. Ela, toda feliz, agradeceu. Envaidecida, ainda comentou como era bom receber um elogio da “irmã que sabia cozinhar”.

Cada um com o seu tempo

cozinha

Nos últimos anos, minha irmã tem buscado um caminho muito seu. Apesar de ser a primogênita foi ela quem demorou mais para cortar o cordão umbilical com a casa de infância. Entre relacionamentos que começavam e findavam, sempre voltava para o ninho. No último, decidiu que se bastava. Foi morar sozinha. Primeiro, num espaço alugado. Depois, comprou seu próprio metro quadrado, reformou e foi concebendo cada canto a sua maneira. A cozinha não é um espaço de destaque no lugar. Ao contrário, é pequenina. Mas ali ela consegue se virar muito bem, obrigada. Ela me contou como, em um espaço tão diminuto, é capaz de preparar saladas variadas, sopas e algumas carnes. Tudo a seu modo.

É neste ponto que quero chegar: tudo a seu modo. Com o tempo – o tempo dela, porque cada um tem o seu – minha irmã foi descobrindo, a sua maneira, o que gostava e o que desgostava; o que lhe agradava e desagradava. Vou construindo suas referências – de vida e de sabor. Entendeu que não existe o verbo “não saber (cozinhar)”, mas estar disposto a aprender com tudo que pode vir junto com isso. No caso dela, o aprender a se virar na cozinhar veio com a maturidade em dar os próprios passos, com a percepção de que é importante e gostoso até descobrir, sozinha, aquilo que agrada ou não. Se errar, tudo bem. O estrago não será tão grande assim. Se acertar, será uma conquista pessoal enorme – maior do que quem olhar de fora pode supor.

Disponha-se a aprender, dentro e fora da cozinha

Se dispor a cozinhar, a se aventurar entre os ingredientes, é acima de tudo um mergulho para dentro. É sobre se conhecer, sobre errar e acertar, sem julgamentos ou expectativas excessivas. Não é sobre ser o melhor cozinheiro, sobre fazer pratos gourmet. É sobre ser. Ser você, para você e por você. Então, se alguém lhe perguntar se você sabe cozinhar, mesmo que isso lhe soe estranho, esquisito, mesmo se não souber diferenciar os legumes, não fizer a menor ideia onde estão as panelas, simplesmente responda – por você e para você: “estou aprendendo”. Estar disposto a aprender faz uma baita diferença, dentro e fora da cozinha.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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