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A força do instante
Joshua Earle Uma pessoa olha para o horizonte em uma praia.
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E se aos 177 minutos de prorrogação, o Bruno Petkovick tivesse sofrido falta de um zagueiro nosso? E se aquele rapaz não tivesse pego o carro quando saiu da festa? E se a mulher tivesse dito tudo o que queria, antes de seu marido viajar?

Instantes que poderiam ter mudado tudo, toda uma história.

Desde quando começamos a medir o tempo em semanas, meses e anos, perdemos um pouco da conexão com o tempo vivo e real das coisas. Ao organizar nossas rotinas e dias a partir dos horários e tempos, nos afastamos do tempo pulsante e vivo que se apresenta a cada instante.

É como se tivéssemos organizado, empacotado, retalhado o tempo em espaços de medidas autocontidas, que muito se afastam da ideia poderosa do tempo como algo contínuo.

Como faltavam apenas 4 minutos para o final do jogo com a Croácia e o Brasil já tinha marcado no placar, talvez alguns jogadores achassem que o jogo já estava ganho e não precisassem voltar para defender, mas, em um instante, tudo muda. Vamos do paraíso ao inferno em um segundo. E, também, podemos voltar à alegria, em mais um segundo.

O tempo é dinâmico e pujante, mas muitas vezes nossa forma de pensar e ver a realidade organiza o tempo como se ele não fosse assim.

Frequentemente dizemos “deixa para amanhã” para coisas importantes. Vacilamos em resolver pendências, em termos conversas esclarecedoras ou fazer coisas necessárias porque acreditamos que temos todo o tempo do mundo. Ou que ele pode ficar suspenso. Mas, isso não é possível. Mesmo que você decida parar, ele não para.

O tempo é incessante, contínuo e isso faz com que as coisas, pessoas e eventos continuem em movimento, mesmo que você decida de se retirar e se recuse a participar dele (do tempo).

Também não há um instante mais importante do que o outro. Todos são inexoravelmente iguais em sua magnitude. E quando digo importante, não digo necessariamente produtivo como normalmente entendemos em nossa sociedade.

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Ritmo

Quando o imperador Constantino, por volta do ano 320 impôs a pausa no dia do Sol (exceto para trabalhadores agrícolas) para que as pessoas pudessem homenagear o Sol Invictus, estabeleceu-se o descanso semanal, que seria mais tarde chamado de domingo.

A mesma lógica vivemos quando o sol de põe e a lua surge no céu. Quando a noite cai, entendemos que é tempo de desacelerar. O mesmo fenômeno acontece, quando acreditamos que é possível resetar nossa história no dia primeiro de cada ano, como se realmente houvesse um novo tempo começando.

Tais dinâmicas, apesar de ajudarem na organização do tempo do trabalho, da escola e do comércio, podem nos afastar do ritmo natural do nosso corpo, das nossas intenções e vontades.

Quantas vezes, me vi “on fire” no domingo de manhã, com a cabeça cheia de ideias e completamente envolvida naquele projeto profissional. Por outro lado, já passei algumas viradas de ano, dormindo ou descansando, pois era exatamente aquilo o que eu mais precisava.

Protagonistas do tempo

A ideia aqui não é abandonar as convenções que são tão necessárias para a organização da nossa convivência em sociedade, mas lembrar-nos que o tempo não se dobra à essa organização e que independente da nossa vontade, ele sempre se apresenta soberano e potente.

Potente em cada um dos seus instantes. Potente em cada uma das milhares de possibilidades que se apresentam a cada segundo, à nossa frente. Instantes esses que possuem um movimento intrínseco, em que ocorrem situações em que eu ou você pouco podem interferir ou controlar, mas também outros instantes que urgem pela nossa palavra, interferência, movimento e atitude. Em que nosso protagonismo é recrutado para a ação, mesmo que seja o silêncio ou distanciamento.

Procurar estar na vida dessa forma, atento e sorvendo cada instante não é um convite à pressão, ao não descanso ou à tensão. Por outro lado, é um convite à atenção relaxada e confortável de quem está no mundo, perceptível à tudo a sua volta e profundamente conectado com os movimentos, com a natureza, com o seu corpo, respiração, desejos, intuição e às outras pessoas.

Aqui e agora

No momento presente, estamos carregados de poder, pois só no aqui e agora, o tempo é real e permite intervenção. Tanto no passado, quanto no futuro, o tempo é apenas mental e emocional. Eles podem existir em uma dada realidade, mas só podem ser efetivamente transmutados ou modificados com a nossa consciência no presente.

Ao vivermos desconectados do agora, deixamos escorrer pelas mãos a força das nossas escolhas. Quando nos enganchamos em nossos pensamentos de passado, mais do que nos tornamos saudosos ou melancólicos, perdemos a oportunidade de estar, atuar e viver inteiramente o momento presente.

O mesmo acontece, quando projetamos constantemente nossa atenção para o futuro. Além de nos tornarmos mais ansiosos, deixamos de efetivamente construir mais assertivamente o que desejamos colher.

Olhar a vida por essa perspectiva pode dar uma sensação de urgência e comprometimento, que para muitas pessoas pode parecer cansativa ou estressante. Mas, do meu lado, enxergo como uma oportunidade extraordinária de construção.

Compreender que cada instante conta, é único, definitivo e cheio de possibilidades, descortina uma imensidão de escolhas possíveis a nossa frente e isso é maravilhoso.

Por isso, aproveite que estamos no último mês do ano e já comece, desde agora, a organizar, a construir e a escrever a realidade que você deseja e quer daqui para frente. Não precisa esperar o dia primeiro de janeiro e nem o término das festas do final de ano. Perceba o instante. Aqui, agora, vivo e esperando você para cocriar.

Leia todos os textos da coluna de Ana Paula Borges em Vida Simples

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples

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