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5 práticas para descobrir a origem dos medos
Joshua Sortino | Unsplash
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Todos sentimos medo. Sentir medo é normal, pois está diretamente relacionado ao nosso instinto de sobrevivência. Foi o medo que nos deixou em alerta e mais preparados para lidar com os predadores, para buscar abrigo e se defender de outras tribos que queriam nos atacar. Isso sempre foi assim, desde as eras pré-históricas. E continuamos com a presença dele ao longo dos séculos. Sentimos medo de epidemias, de guerras, dos efeitos do aquecimento global, da automação do mercado de trabalho, da queda da bolsa, da inflação e da violência em geral.

Todos esses medos são oriundos de desafios reais e concretos. Mas, nem todos os medos que nos rodeiam são assim. Há muitos medos vagos e subjetivos. Medo de falar em público, do escuro, de se desapegar de uma situação que não funciona mais. Entretanto, se a “função” do medo é nos tornarmos precavidos diante das ameaças e mais atentos para lutar ou fugir diante dos perigos, de que forma o fato de ficarmos sozinhos em nossa casa, ou de falar em público poderia ser visto como um risco ou uma ameaça real à nossa integridade?

Difícil, né? Mas, então, por que esses medos muitas vezes incompreensíveis e até irreais frequentemente nos aterrorizam?

De onde vem os nossos medos

O medo mental está relacionado a uma informação como outra qualquer. Digo medo mental, porque há os medos instintivos, como por exemplo, quando estamos nos afogando, diante de uma floresta em chamas ou caindo do precipício. Nesses casos, o medo é uma reação automática do nosso corpo que entende que precisa se manter vivo.

Já o medo do leão ou da aranha é adquirido. Assim como o medo da solidão ou de não ser aceito.

Imagine que um leão entre calmamente no quarto de um bebê pequeno e não rosne o assustando, é muito provável que o bebê continue na dele e se souber engatinhar até vá na direção do animal. Por que isso acontece? Por que não existe uma informação prévia na mente daquela criança, de que o leão é um animal selvagem.

Agora se um leão entrasse no nosso quarto, é provável que saíssemos fugindo. Essa diferença de reação nos ajuda a entender que a grande maioria dos nossos medos é fruto de uma informação anterior que adquirimos.

Alguém algum dia, disse-nos que o leão e a aranha eram animais perigosos e que ficar sozinho era ruim. Essas informações podem ter entrado por um filme que vimos, um livro que lemos, uma história que alguém nos contou, pela experiência dos nossos pais ou pela nossa própria experiência prévia. Desde que nascemos e até antes disso, vivemos recebendo mensagens de como o mundo e as pessoas podem ser perigosas e nos fazer mal.

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Essas mensagens ficam impregnadas na nossa mente

Em maior ou menor grau, essas mensagens e tudo mais que experienciamos ficam conosco, como memórias adormecidas que diante de um determinado estímulo, acordam e se manifestam. É como se o tempo inteiro olhássemos o mundo por meio de um óculos cujas lentes foram formadas pelas informações que recebemos.

Imagine a seguinte situação:

Um dia, por volta dos 4 anos, um menino tenha sido preso em uma garagem escura por coleguinhas que brincavam com ela na rua em que morava. Os meninos que o “prenderam” eram maiores e ficaram por um bom tempo imitando barulhos assustadores do lado de fora da porta e dizendo que ele nunca mais sairia dali. Depois de um tempo, eles abriram a porta e o menino saiu chorando muito e sem entender porque eles tinham feito aquilo, já que eram seus amigos. Muito tempo se passou e hoje esse rapaz tem quase 40 anos e não se lembra desse episódio. Ele é bem sucedido, trabalha, tem o seu dinheiro e adoraria morar sozinho, ter a sua própria casa. Mas o tempo passa e ele acaba não saindo da casa dos pais. Ele pode pagar um aluguel, gostaria de ter um pouco mais de liberdade e privacidade, mas acaba não saindo. Quando as pessoas o perguntam por que ele não se muda, acaba se justificando dizendo que está sem tempo de procurar apartamento, que morar com os pais o faz economizar ou que não quer perder a mordomia da comida da mamãe. Mas, a verdade é que por mais que ele queira se mudar, chega na hora H e ele não consegue levar o projeto para frente. A ideia de ficar sozinho não é muito confortável. Sempre que pensa nisso e se imagina chegando em casa com a luz apagada, a sensação não é boa. Ele não sabe o porquê, mas não é boa.

O que será que está acontecendo com ele?

Por mais que ele não se lembre do episódio do garagem com os colegas, o fato é que essa experiência desagradável o marcou e o fez acreditar que ficar sozinho no escuro poderia ser doloroso e perigoso.

Por isso, sempre que o rapaz pensa na possibilidade de ficar só à noite em seu “suposto” apartamento, uma sirene toca, colocando-o em estado de alerta diante de uma possível ameaça. Ele não tem consciência do processo, mas sente em seu corpo, o desconforto de um perigo iminente.

Ele não sabe porque sente medo de ficar só, mas sente. E é uma sensação muito forte, que só de pensar o deixa aflito, ansioso e ofegante. Se ele for tentar justificar ou tentar explicar porque sente medo, ele não vai conseguir explicar direito, pois seu medo é vago e subjetivo. Por mais que agora como adulto ele saiba que no escuro não tem nada, ele mesmo assim, sente medo, muito medo.

Nesse sentido, podemos entender esses medos vagos ou subjetivos como consequência de uma informação do passado que ainda reverbera no presente.

O medo de se expor em público, de viajar sozinho, de conhecer novas pessoas, de mudar de emprego ou de ficar pobre, provavelmente também tiveram origem em informações dadas no passado que foram arquivadas como sendo verdadeiras.

Muito desgastante, né?

Mas, a boa notícia é que se a gente deixar a tal informação entrar, a gente pode permitir que ela também saia.

Como entender o medo

Para que isso aconteça, primeiro é importante entender o processo.

1. Emoções não surgem do nada

Precisamos ter em mente que o medo não é uma emoção que surge do nada. Ela é na grande maioria das vezes fruto de um pensamento que formulamos. E esse pensamento sempre possui traços de experiências que vivenciamos ou de informações que recebemos no passado. Mesmo que a gente não consiga identificar em um primeiro momento que pensamento detonou a emoção do medo, houve esse detonador.

2. É uma emoção real ou não?

Depois de perceber a presença do medo, é preciso avaliar se essa ameaça que se apresenta é de fato real ou ilusória ou uma mistura dessas duas coisas.

3. Entrar no modo do observador

Entretanto, muitas vezes, é difícil fazermos essa análise quando estamos conturbados e emocionados. Para que consigamos ter uma maior clareza sobre o que sentimos e entrar no estado de observador de nós mesmos é importante procurarmos nos esvaziar da emoção. Um bom exercício para isso é extravasar… Gritar, expirar profundamente, correr, enfim, fazer algo para esvaziar a emoção e aí, sim, pensar melhor sobre o que está sentindo ou acontecendo.

4. Pensar sobre o medo

Depois de mais esvaziado da adrenalina que o medo fornece, comece a tentar racionalizar esse medo.

Imagine que você tenha muito medo de cobra e isso te impeça de fazer trilhas e viajar para o campo.

Comece a pensar sobre isso e escreva:

  • Qual é a intensidade desse medo? Muito forte, média ou baixa?
  • Quais são as características deste medo? Sinto medo de qualquer tipo de cobra? De verdade, de foto, de brinquedo?
  • O que me assusta? A possibilidade dela me picar? O fato dela rastejar? O fato de eu ser pego de surpresa?
  • E se eu tivesse com uma bota? E se eu soubesse que ela não era venenosa?
  • Preciso realmente enfrentá-lo e vencê-lo? Ou posso encontrar estratégias para me deixar mais seguro e protegido de um suposto ataque? O quanto esse medo tem me prejudicado e limitado?

5. Decidir enfrentar ou não o medo

Normalmente, temos dificuldade em refletir e racionalizar profundamente sobre o nosso medo, pois como não gostamos de senti-lo, costumamos não querer nos aprofundar nesta sensação.

Por isso, tendemos a ser superficiais nas nossas análises, o que reforça ainda mais a ideia de subjetividade e medo. Ah, sei lá… Tenho medo porque tenho medo. Dá para a gente mudar de assunto?

É como se precisássemos atravessar um túnel, mas como não sabemos o que tem no final dele, decidimos não o atravessar. E essa decisão nos paralisa e limita.

E, por fim, depois de racionalizar e analisar o medo, podemos decidir se queremos enfrentá-lo.

Sim, isso mesmo! Decidir se queremos conviver com ele ou enfrentá-lo! Se a decisão for pelo enfrentamento, é importante ir nessa direção, pois se ficarmos esperando o momento de termos coragem, esse momento pode não chegar. Por isso, é necessário enfrentá-lo!

Pense, pare um pouco e reflita: que medo você tem aí dentro e já sente-se preparado para enfrentar?

Leia todos os textos da coluna de Ana Paula Borges em Vida Simples

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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