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Por que eu deixo tudo para depois?
Siddharth Bhogra | Unsplash
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Se não for agora, quando? Adiar frequentemente as importantes tarefas sinaliza mais atenção com o psiquismo. Conheça algumas das causas que levam a postergar a própria vida.

Gostaria de falar sobre um assunto que considero um dos mais importantes aprendizados de vida que podemos ter. Assumo, desde já, que em boa parte das minhas colunas esse tema está presente, de uma forma ou de outra. Mas, por ser aquele tipo de gente que defende a saúde mental com muita energia, tomo a liberdade de falar mais amplamente sobre ele também desta vez.

Adiar. Muitas pessoas vivem num constante adiamento de planos, projetos, vontades, necessidades, desejos, funções e tarefas e não conseguem parar ou mudar esse comportamento que traz infelicidade. Estão sempre insatisfeitas consigo mesmas, se culpam, ficam irritadas, tristes, sentem-se sem potência, frustradas…

As razões que estão por trás desse sempre – ou, na maioria das vezes – “deixar para depois” são muito singulares. Vou falar de alguma delas de uma forma geral, mas com o propósito de que despertem boas reflexões desencadeadoras de uma mudança.

As razões da procrastinação

Pode ser uma dificuldade em amadurecer, em assumir responsabilidades e aí vai se levando a vida como se alguém fosse responsável por cuidar de nós, dos nossos compromissos, pagar as nossas contas… Uma forma de delegar ao outro aquilo que é responsabilidade nossa.

Não dá. Se chegamos na vida adulta, é hora de assumir o que nos diz respeito.

Muitas vezes, a causa desse protelar é a posição de vítima que um indivíduo assume. Fica preso no jogo de acusações: “Minha vida está desse jeito por sua culpa”. Acumular mágoas e ressentimentos por muito tempo não permite que se faça outra coisa do viver que não seja acusar.

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Uma outra razão tem a ver com o autoboicote que nos impede de alcançar o que desejamos e nos mantém num ciclo neurótico de dor e mal-estar. Por exemplo: quero muito ser um bom profissional na minha área, estou indo bem, só preciso continuar me dedicando, fazendo especializações, lendo determinados livros, fazendo alguns contatos, até que… Começo a deixar para lá, postergo, me sinto cansado, depois eu faço….

Ou tem a ver com uma patologia psíquica em que a pessoa é consumida por pensamentos e não consegue realizar o que quer. Ela pensa, pensa, pensa tanto que depois não consegue agir.

Normalmente, esse pensar excessivo está associado ao desejo reprimido de ser melhor do que os outros seres mortais. Aí ela pensa muito em ter que fazer ESTUPENDAMENTE bem feito e isso a paralisa.

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A pessoa fica assustada com a autocobrança excessiva. Nunca acha que está a altura dos outros ou daquela tarefa. Conclusão: está sempre adiando tudo o que tem que fazer.

Pode ser também que quem está sempre postergando simplesmente não se deu conta de que a vida passa, que somos finitos, ou seja, que morremos. Um dos assuntos mais difíceis de se refletir, não é mesmo? A morte, a nossa própria morte.

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Atenção ao que realmente importa

Talvez ajude pensar que: “se eu não fizer isso que tenho para fazer, o que eu vou fazer?”

O que eu vou fazer do meu dia? Eu tenho que viver, estou viva, então, alguma coisa eu tenho que fazer. Mas essa ‘alguma coisa’ não é qualquer coisa, são as coisas mais importantes, aquelas que sustentam o viver, os principais alicerces: trabalho, saúde, lazer, prazer, família, amigos, dinheiro

Porém, falar desse assunto pede um cuidado especial. Não somos máquinas programadas para estar continuamente executando tarefas, sem pausas, querendo abraçar tudo. Não vai dar.

Dar conta de tudo é impossível e é uma grande fantasia neurótica. Por isso, a atenção precisa estar naquilo que realmente importa e os detalhes são somente detalhes que podem ser deixados de lado.

Lembro-me das palavras do meu analista em uma das sessões: “Se não for agora, quando?“.

Se não cuidamos das nossas tarefas, se estamos sempre adiando, adiamos nossa vida e isso não é pouca coisa. Isso é tudo. Estamos nos deixando de lado. Estamos nos deixando “para depois”.

Nossa existência tem um fim. Um fim que não sabemos quando vai chegar, mas vai chegar.

Por isso, vivamos, sem adiar aquilo que realmente é importante. Isso é determinante tanto para a saúde mental quanto para a história de vida que cada um está escrevendo.

Para continuar com a Keila: Como viver bem com a solteirice.


KEILA BIS é psicanalista e jornalista ([email protected]) que adora compartilhar segredos do autoconhecimento para um viver sem neuras. Compreender as causas do adiamento para ter uma vida mais fluida e conquistar mais saúde mental é um deles.

Confira todos os textos da coluna de Keila Bis em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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