Respeitar crianças também é respeitar as mães
Enquanto o capitalismo ignora o cuidado, é essencial pensar numa divisão do trabalho de educar crianças, em respeito às mães e à sociedade
É muito importante que se fale do acesso das crianças ao respeito e à natureza. Que se fale do contato com adultos que se importam de maneira humanizada com os pares e com o mundo.
Que se fale dos malefícios das telas em excesso, das comidas industrializadas, da falta do brincar livre.
É também muito importante que se fale disso sempre tendo em vista que não se protege e cuida de crianças sem proteger e cuidar de quem está mais próxima delas: a mãe.
Infelizmente, ainda somos as maiores cuidadoras, as primeiras responsáveis, as pessoas que serão cobradas por prover tudo isso às crianças, mesmo com limitações.
Mães sobrecarregadas sentem-se culpadas
A abordagem de apenas dar a informação sem ter o cuidado de mencionar a dificuldade que as principais cuidadoras têm, é um grande tiro no pé das crianças.
Com mães mais sobrecarregadas – porque tentarão fazer de tudo para se adequar às exigências – e mais culpadas, porque provavelmente não irão conseguir sozinhas, serão as crianças que ficarão mais vulneráveis, desprotegidas e vistas como “fardos”.
Nenhuma pessoa consegue prover um ambiente saudável contra todas as circunstâncias e em contextos adversos. É preciso que o macro proteja e facilite para o micro.
As famílias são a ponta desse iceberg, e as crianças estão nesse topo, logo acima das mães, sofrendo as consequências do descaso em grande escala.
E não estamos falando apenas de uma falta de rede de apoio. Estamos falando em abandono paterno em níveis alarmantes. Em misoginia contra mulheres mães-solo, em falta de políticas públicas adequadas.
Falamos também da violência masculina escancarada na TV, nas redes sociais, nos debates, dando o tom e exemplos diretos para as crianças de como devem se portar.
Não só as mães cuidam das crianças
São as mães que pagam este pato. São elas que serão responsabilizadas por criar crianças educadas, felizes, conectadas. Como?
Enquanto sociedade, devemos nos perguntar quem está na base da pirâmide que sustenta o cuidado, e em consequência, o capitalismo, que depende de sua mão de obra invisível para gerar mais-valia.
Mães geram pessoas, e fazem toda manutenção da vida praticamente sozinhas.
Se quem está na base são mães, principalmente pardas, negras e indígenas. São nelas que os esforços enquanto sociedade deveriam estar focados, mas o que vemos é que são elas que sofrem o maior número de violências e exclusões.
Este texto é um desabafo e não tem um fim, porque essa luta está apenas no começo. Nomear o que vivemos enquanto mães é essencial para que o respeito às crianças não vire outra forma de opressão materna.
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