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Como garantir que crianças estejam na natureza?
FOTO: Kelly Sikkema
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Neste artigo:

Estou olhando para as árvores e vejo minha filha passar de bicicleta por entre elas, junto com os amigos. Seguem num misto de alegria e irritação próprios de crianças na pré-adolescência e eu os observo sorrindo e pensando no tamanho do privilégio que temos.

Sim, privilégio. Somente há pouco mais de dois anos pude proporcionar uma infância verde e livre para minha filha. Lembro de ver campanhas surgindo com o tema da importância do brincar na natureza, e pensar “fica muito fácil dizer dos benefícios sem falar das dificuldades que nós mães temos em proporcionar isto às nossas crianças”.

E falo das mães, porque – sejamos sinceras – somos nós as maiores responsáveis na maioria das famílias, mesmo que não sejamos mães solo, por planejar o futuro dos nossos filhos a partir da infância deles no presente.

Este é um dos trabalhos emocionais menos reconhecidos que recaem diretamente no colo das mães: a redução de danos diante da desgraceira social que é imposta culturalmente às crianças.

Direitos das crianças é responsabilidade de todos

A falta de apoio das leis para regular as redes sociais e a abundância de jogos virtuais. A falta de apoio de verdade no lar, já que desde 2016 a quantidade de horas que os homens dedicam aos trabalhos domésticos não aumenta.

Sem o apoio da tão sonhada aldeia, que sabemos ser formada de outras mulheres – tão sobrecarregadas quanto nós-, resta tentar reduzir danos. Pensar alternativas que sejam menos prejudiciais dentro das possibilidades existentes.

E, sobretudo, tentar fazer disso algo suficientemente bom para as crianças, é um trabalho mental e emocional exaustivo, porque nunca tem fim.

A natureza não está dada, infelizmente. Na cultura branco-patriarcal-capitalista, que explora as variáveis necessárias à vida e as transforma em bem de consumo, só usufrui de verdade quem tem dinheiro e tempo.

Cobrança por criança na natureza não pode cair em cima das mães, que mal têm tempo para si e mal têm dinheiro para prever o básico para os filhos. Ainda mais as mulheres racializadas.

Onde estão os genitores e os legisladores?

A cobrança precisa ser em cima dos legisladores que se elegem com o apoio de quem tem mais interesse em destruir e transformar vida em lucro. Precisa estar em cima das grandes corporações.

Precisa recair nos genitores abandonadores. Nos paizões que se interessam pouquíssimo pelos filhos e entendem de forma ilusória que estes são continuação da mãe. Mas não, filhos são pessoas completas que precisam da presença e da atenção constantes do pai.

Sempre digo que uma vítima vai ter pouquíssima condição de salvar a outra, e mulheres enquanto grupo são vitimizadas diariamente.

As crianças são a parte mais vulnerável desta equação, e precisam não só de cuidados elas próprias, mas precisam que quem cuida diretamente delas não seja mais pressionada sem apoio do que já é.

É preciso ampliar o olhar do cuidado para as mães. Os direitos da criança são dever de toda sociedade.

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