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“A infelicidade não é o inimigo”: dois grandes mitos sobre felicidade
Shaurya Sagar | Unsplash
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“Quero ser feliz também”, cantava a banda Natiruts, em 2005. E muito antes disso, desde os princípios da humanidade, não há quem não busque e almeje a felicidade. Mas, não é possível garantir uma forma fácil ou prática de ser inteiramente feliz, mesmo com tamanha procura.

No livro Construa A Vida Que Você Quer, de Arthur C. Brooks, o autor ressalta que a única coisa que todos desejamos, desde o surgimento do Homo sapiens há trezentos mil anos na África, continuou sendo algo incerto para quase todo mundo.

“Se o segredo para a felicidade existisse, já o teríamos descoberto”, argumenta o professor, que ministra cursos sobre felicidade em Harvard Business School. A declaração pode parecer um pouco frustrante. Porém, quando compreendida é, na verdade, um alívio.

Construa a vida que você quer Intrínseca/Divulgação

O que é a felicidade?

Desde os primeiros estudos acerca dessa palavra, diversos significados foram atrelados a felicidade. O filósofo grego Epicuro, que viveu de 341 a 270 A.C., liderou o sistema filosófico Epicurismo. De acordo com Brooks, “ele argumentava que uma vida feliz requer ataraxia, ou seja, ausência de inquietações da mente, e aponia, ausência de dores físicas”.

Já Epiteto, que viveu 300 anos depois, defendia que a felicidade vinha ao descobrir o seu proposito de vida, mesmo que viesse com muito sacrifício. Ambos influenciaram, de alguma forma, as ideias atuais de felicidade.

O conceito de felicidade varia com a cultura de um povo. Quem explica isso é Paula Roosch, pesquisadora de emoções e colunista da Vida Simples. “No Quênia, país africano, eu vi a felicidade associada com o carpe diem, com o desfrutar do que se tem hoje. Aqui no ocidente, ainda associamos a felicidade com termos sucesso e realização pessoal”, relata a especialista, no texto de sua coluna. Ela ainda explica que no leste asiático, a ideia de felicidade está mais associada à harmonia social.

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Desvendando dois mitos sobre ser feliz

Para ser mais feliz, é preciso entrar em contato com a infelicidade, ou parar de procurar a felicidade absoluta. Apesar de parecer paradoxo, ou até mesmo controverso, especialistas mostram que essas são crenças comuns sobre a felicidade que precisam ser repensadas. Confira o porquê estes são considerados mitos da felicidade:

1. Buscar “ser feliz para sempre” não traz felicidade

Além de a felicidade ter diferentes sentidos em cada cultura, ela também é algo pessoal de cada um. Cada indivíduo tem seu ideal de felicidade e, por ter tantos significados, é difícil de criar uma definição sólida desse sentimento.

Sendo tão incerta, ela também é momentânea, como qualquer outra emoção ou fase da vida. “É que a alegria não faz morada, ela visita. Isso acontece porque a vida é fluída e aquilo que nos torna felizes muda ao longo das nossas vidas”, argumenta a especialista em sua coluna.

Lora Park, psicóloga da Universidade de Buffalo, em Nova York (EUA), conduziu um estudo sobre essa emoção. Muitos tentam ser feliz com um investimento para colher com o tempo, como se faz com uma poupança de dinheiro ou um estoque de comida, percebeu em seu estudo.

Em resumo, seu levantamento concluiu que, apesar de a longo prazo poder trazer benefícios, ao esquecer de que a felicidade também pode ser momentânea, sentimentos de ansiedade e culpa são intensificados.

Ou seja, os que investirem no agora, em momentos de felicidade momentâneos, sem se preocupar unicamente no futuro, podem sentir uma sensação de liberdade. “Esses indivíduos não veem essas atividades de experiências como tempo perdido, como algo pelo qual se arrepender ou se sentir culpado”, concluiu a psicologa.

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2. Surpreendentemente, a infelicidade não é ausência da felicidade

Muitos associam os sentimentos bons e ruins como opostos. Mas eles podem ser vistos como as cores complementares em um círculo cromático: mesmo em lados opostos, são unidas para gerar contraste e se completar.

Sentimentos associados a infelicidade são necessários, em doses normais, para o funcionamento do nosso dia a dia. Dois exemplos citados pelo professor Brooks em seu livro são: o arrependimento e a ansiedade.

Os sentimentos de arrependimento, que podem vir após reconhecer atitudes erradas que cometeu no passado, trazem a uma reflexão que pode ser primordial para não cometer os mesmos erros no futuro. Então, por mais que no momento não se sinta feliz com o que aconteceu, esse arrependimento garante que, em situações parecidas no futuro, você pode ter outra atitude e, enfim, ter um momento de felicidade.

“Em outras palavras, quando estamos tristes ou chateados com alguma coisa, é mais provável que a consertemos. E isso, óbvio, nos leva a sermos mais felizes a longo prazo”, aponta Brooks.

Já a ansiedade, ou o medo, também fazem parte do nosso sistema natural de proteção. Emoções ruins têm mais poder de nos abalar do que as positivas. Na ciência, esse processo é o viés da negatividade.

Para os nossos acentrais, a atenção constante para o perigo era uma forma de se proteger dos perigos. Similarmente, hoje, de certa forma, também é. “É por isso que você talvez não aceitasse participar de um simples cara ou coroa para arriscar entre dobrar suas economias ou ir à falência”, exemplifica Brooks.

Ou seja, as emoções negativas, quando não são patológicas, nos ajudam e nos protegem e, em certa medida, também facilitam o acesso à felicidade.

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