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Novos olhares para nos libertar da crise de sentido
Sasha Freemind
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Neste artigo:

Dramas e desafios assolam muitos dos jovens de hoje em uma grande crise de sentido. Penso que tem uma questão também querendo se manifestar através deles num nível mais profundo e que geralmente pode indicar novos caminhos


Dia desses, tomando café com um querido amigo de uma ONG que acolhe jovens com sintomas autodestrutivos, ele me relatava, com uma certa percepção de quem está acostumado a “captar” movimentos mais profundos nos comportamentos humanos, que um dos motivos para o aumento de casos de depressão, transtornos de personalidade e até suicídios entre jovens, se deve ao que ele chama de “crise de sentido“.

Fernando me dizia que muitos jovens não conseguem se “localizar” no modelo de vida que há décadas dita o ritmo e a lógica da existência humana desde a Revolução Industrial.

Estudar para “se tornar” alguém na vida, arrumar um bom emprego, ganhar dinheiro, bater metas, casar-se, ter filhos, aposentar-se… Todos esses passos já não seduzem mais a nova turma que está desembarcando neste planetinha azul. O modelo de “sucesso” talvez esteja pedindo outras roupagens.

Mudanças na sociedade

Contei a ele que, talvez, de alguma forma, isso também esteja ocorrendo na sociedade de uma forma geral, ainda que reconheça que entre os jovens isso aconteça de forma mais presente.

Penso que essa pandemia mudou as cartas do baralho da vida ou pelo menos nos mostrou que é possível jogar de outras formas.

Não são poucos os entrevistados do meu podcast, o 45 Do primeiro tempo, que se dizem esgotados com o mantra contemporâneo “tem que fazer isso”… tem que fazer aquilo…”. Muitos, após adoeceram, resolveram desacelerar, buscar outras formas de se encontrar no mundo e fazer outros tipos de perguntas: “Será que eu preciso disso…? Será que tem que ser assim…?” São pessoas que decidiram romper com uma espécie de modelo vigente.

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Síndrome do primeiro

Gosto muito de uma autora norte-americana chamada Marilyn Ferguson que fez muito sucesso nos anos 80 com o best-seller “A Conspiração Aquariana”.  Em um de seus últimos trabalhos antes de morrer, em 2008, ela falava de uma espécie de “síndrome do primeiro” que toma conta da sociedade e de como ainda estamos capturados por uma materialização insana, que ironicamente ameaça nossa existência material.

Fomos criados em um culto que fez dos números um deus. Idolatramos escalas, quantidades, estatísticas, margens de lucro e pesquisas… Reverenciamos a linha no final da conta, a primeira gaveta, a medalha de ouro da vitória, os índices Dow-Jones, o Produto Interno Bruno, a medida de QI, o melhor jogador em campo, o melhor influencer…

Queremos saber quem é o primeiro, o último, o maior, o melhor, o mais, o menos e quanto pesa o bebê. Mapeamos o genoma, capturamos o quark e por aí vai…

Na busca por coisas mensuráveis, não nos damos conta de que jamais alcançaremos o horizonte correndo em direção a ele. Precisamos entender que o sol que o torna belo também está dentro de nós. Talvez seja isso que esteja por trás de uma certa crise de sentido.

Novos olhares

De um modo geral, as avaliações baseadas em métricas, embora aparentemente objetivas, carregam os vieses ocultos daqueles que decidem o que medir, como medi-lo e o que não medir. Eles também valorizam aquelas coisas que não podemos medir ou que são intrinsecamente imensuráveis.

Quando meu amigo fala dos dramas e desafios que assolam muitos dos jovens de hoje, penso que tem uma questão também querendo se manifestar através deles num nível mais profundo e que geralmente pode indicar novos caminhos.

Claro que seria muito estreito de minha parte atribuir todos os problemas e dificuldades emocionais da nova geração apenas a um certo descompasso entre modelos e formas de ver o mundo, mas não posso deixar de reconhecer que existe um outro olhar querendo nascer.

Quando vejo jovens muito mais interessados em buscar mais o “Ser” do que “Ter”, trocando o “competir” pelo “compartilhar” e priorizando o “integrar” e não o “separar”, me encho de entusiasmo. Até porque, quem me lê com certa frequência aqui em Vida Simples sabe que não me canso de dizer que existe um mundo novo nascendo, mas que somente os nossos corações sabem ser possível.


PATRICK SANTOS (@patricksantos.oficial) é jornalista, escritor e apresentador do podcast 45 Do primeiro tempo que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. É autor também do documentário “Pausa”. Depois do
sabático em 2018, sua prioridade hoje é integrar e não separar.

Leia todos os textos de Patrick Santos em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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