COMPARTILHE
As mãos contam nossa história: que marcas da vida as suas trazem?
Claudia Love
Siga-nos no Seguir no Google News
Neste artigo:

Hoje me vejo com veias saltadas que cruzam a parte de cima das minhas mãos, dançando umas com as outras enquanto os dedos se movimentam no teclado, como nas aulas de datilografia da minha adolescência.

Mãos com manchas de sol, cicatrizes e marcas de alianças, além de uma pelinha ao redor da unha a ser puxada com o dente num momento de tensão.

Elas falam, escrevem e emocionam

Na época da datilografia, não havia veia saltada e nem o calinho discreto no dedo indicador que faz prova do quanto eu já escrevi à mão desde que aprendi a me expressar no papel.

Tudo o que aprendi na escola e na faculdade passaram por cadernos manuscritos, além de uma infinidade de cartas e bilhetes que, soltos, ganharam o mundo.

Quantos documentos assinados numa vida inteira, dentre eles certidões de casamento e de nascimento marcando momentos felizes.

Com um aceno provoca lágrimas quando marcam o final de um encontro que não deveria terminar. Faz sinais que ajudam a comunicar com o mundo, sejam os gestos daquelas culturas que falam também pelo movimento das mãos, dando ênfase ao que está sendo dito pela boca, sejam as libras que dão voz a quem não a tem em som.

Mãos nutrem com alimento e afeto

Quantos alimentos elas já me ajudaram a comer para nutrir meu corpo e, por consequência, a elas mesmas, e também me auxiliaram a nutrir a outros, seja com alimentos, seja com amor.

Deliciosos toques na pele alheia, sinais de afeto, o simples percorrer da ponta dos dedos em outra pessoa, segurar a mão de quem se gosta.

Mas elas já estavam lá também nas mãos dadas numa brincadeira de roda, no jogar a pedra para pular amarelinha, no tirar o suor da testa depois do pega-pega e nas brincadeiras ingênuas da infância – as mãos estavam lá ainda me vendo criança que brinca, que sonha em ser adulto e depois sonha dormindo na cama, cansada da brincadeira do dia.

Deve ser por tudo isso que é especialmente a mão que é pedida em casamento. É a faz-tudo do corpo, aquela que dá carinho, alimento, manutenção, alívio e conforto.

LEIA TAMBÉM: Use as mãos para acessar o seu coração

O tempo escrito nas linhas das mãos

Dizem que é possível conhecer o futuro pela leitura das linhas contidas nas mãos. A linha da vida, já se espera, é melhor que seja a mais comprida possível. A do dinheiro, que seja também farta para nada faltar.

Porém acredito ser possível ler sobre o passado de alguém somente por observar suas mãos, suas marcas e seus trejeitos. Tudo o que é passamos é aprendido pelas mãos e nelas ficam gravadas por marcas ou por jeito de se apresentar.

Vejo pessoas querendo tratar as mãos para não denotarem o passar dos anos. Evitar as manchas e as cicatrizes, bloquear o afinar da pele.

Mas para quê esconder os sinais da vida vivida se é essa a razão da nossa existência: viver e ter histórias para contar?

Para quê ter mãos iguais à dos outros se posso ter nas minhas próprias os vestígios das diversas fases de mim mesma que me trouxeram até aqui?

Elas são boas companheiras

Nem só de coisas boas vivem as mãos pois há maldades que delas se aproveitam, mas deixo esse lado negativo para lá, não são elas que inventam as ideias ruins de alguns.

Prefiro pensá-las como boas companheiras da vida que, na velhice, ainda estarão presentes como companheiras, com a doçura das veias dançantes por baixo da pele fina de quem já viveu bastante.

CONTINUE LENDO

Fazer minhas mãos trabalharem mudou minha relação com o mundo

A escrita à mão como meio de reencontro com o momento presente


Mariana Beneti Gomes (@caminhada_22) gosta de assistir suas mão colocando no papel o que se passa em sua cabeça. É mãe da Manuela e do Fernando, tendo conferido a linha da vida nas mãos de cada um logo que nasceram.


Este texto foi produzido por um membro assinante da Comunidade Vida Simples e publicado no blog Você + Simples.

Escolha um de nossos planos e tenha a possibilidade de ter seu texto avaliado e publicado pela Vida Simples.

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário