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Consciência à mesa
Brittany Gaiser | Unsplash
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Para o mindful eating, a comida pode ser uma boa oportunidade para aprendermos a ouvir mais nosso corpo e alma, sem pressa

Quem caminha por feiras livres e vê bancas fartas de hortaliças e frutas não imagina os agricultores preparando a terra, jogando sementes, esperando a chuva para que elas brotem e cresçam, fazendo a colheita. A comida não chega a nós por mágica. É um processo que envolve amor e esforço, como dizem os versos da canção Cio da terra, de Milton Nascimento e Chico Buarque. “Debulhar o trigo. Recolher cada bago do trigo. Forjar no trigo o milagre do pão. E se fartar de pão”.

Mindful eating

Olhar o alimento com gratidão e com a consciência de que ele depende do trabalho conjunto da natureza e de muitas pessoas é um exercício de mindful eating (comer com atenção plena), conceito criado a partir do mindfulness, um estado mental que nos convida a manter a atenção no aqui e agora. Mas não só isso. É também valorizar a relação com a comida e ouvir o próprio corpo dizer o que é necessário para mantê-lo bem.

“Sem preconceitos ou idealismos, qualquer comida pode ter seu espaço em uma rotina alimentar equilibrada. Conforme aprendemos a nos guiar por nossos sinais internos de fome e saciedade, naturalmente vamos percebendo o que, como, onde e quanto comer será melhor para nós, em determinado momento”, dizem as nutricionistas Cynthia Antonaccio e Manoela Figueiredo, autoras do livro Mindful Eating – Comer Com Atenção Plena (Editora Abril).

Nascemos com o ouvido absoluto para escutar a voz do corpo, mas perde essa sensibilidade pelo caminho. Esses sinais internos que os pequenos decodificam tão bem perdem a nitidez quando eles são obrigados a comer mais do que querem, fazer refeições sem apetite só para seguir uma rotina de horários e evitar “alimentos proibidos”. É assim que a maioria de nós chega à fase adulta, carregando uma bagagem enorme de regras e condicionamentos que nos impedem de ter uma conexão profunda com a comida.

Pausa para a refeição

Crédito: kawin harasai | Unsplash

Quem não fica confuso com tantas informações sobre o que é certo e errado ao comer? São alimentos que passam de vilões a mocinhos o tempo todo, dietas que prometem beleza e juventude, comidas de que devemos manter distância. Acabamos angustiados porque não conseguimos colocar tudo em prática.

“Hoje há um grande sofrimento em relação à alimentação. Num extremo, gente que está acima do peso e, no outro, pessoas que têm transtornos alimentares. Sendo que comer é algo prazeroso que nos faz estar vivos”, observa Valéria Bordin, nutricionista e instrutora de mindful eating na Universidade Federal de São Paulo.

As regras não são as únicas culpadas. Muitas vezes estamos diante da refeição, mas com os olhos no celular, na TV ou pensando no que iremos fazer dali a pouco. E, quando nos damos conta, o prato já está vazio e não sentimos o sabor da refeição.

No livro A Arte de Comer (Casa dos Livros), o monge zen-budista Thich Nhat Hanh diz que o melhor jeito de trazer a mente para o presente é afastar os pensamentos. “Comer sem pensar é comer em liberdade. E nós nos libertamos pois não pensamos no passado, no futuro nem em nossos projetos. Somos livres para nos sentar, sozinhos ou acompanhados de pessoas queridas, e desfrutar de nossa refeição”.

Ouça seu corpo

Cynthia e Manoela explicam que são várias as origens da fome. Segundo elas, existe a fome dos olhos, a do nariz, a do estômago, a do tato, a do ouvido, ou a do coração, que nos leva a querer pratos que trazem memórias felizes e cheias de afeto.

O trabalho do nosso corpo pela sobrevivência é inteligente. Ele nos lembra de comer quando a energia está caindo, nos faz pensar no que precisamos, reclama se não o tratamos com o cuidado que merece. Essas mensagens só não funcionam quando temos fome emocional. Sabe aquele desejo de atacar uma caixa de bombons para acabar com o tédio? Quando isso acontece, é preciso olhar para dentro e descobrir a raiz dessa fome. Se está tudo certo conosco, um único bombom nos satisfaz.

O que o mindful eating proporciona?

Quando temos atenção plena, vivemos experiências ricas com qualquer alimento. Nós nos encantamos com a beleza dele, sentimos o aroma e o sabor de cada ingrediente e de todos juntos. As sensações físicas e emocionais que aquele prato nos desperta ficam pronunciadas porque nossos sentidos estão igualmente aflorados. Experimentamos uma alegria ainda maior quando estamos à mesa com quem amamos, tendo uma conversa gostosa.

“Comer é intimidade. É difícil estarmos com alguém e não ter comida envolvida. Até mesmo as preparações junto com pessoas queridas aumentam essa conexão. Não é perder tempo, é ganhar. Porque estamos nos relacionando com as pessoas. E é isso o que todo mundo quer”, reflete Valéria.

Como praticar?

Não existe receita para praticar mindful eating. Mas como tudo na vida, quanto mais a gente treina, melhor é o resultado. E esse treino é trazer a mente de volta quando ela foge, não comer aquilo que lhe faz mal, descobrir o que gosta, estar atento ao que o corpo pede, mastigar devagar e se sentir livre para quebrar as regras, sem exagerar.

Thich Nhat Hanh diz que, além de prazer, comer é responsabilidade com a gente e com o outro, já que nossas atitudes repercutem em todo o planeta. “Quando comemos com consciência plena, consumimos exatamente o que precisamos para manter nossos corpos, mentes e também a Terra saudáveis. Fazendo isso, reduzimos nosso sofrimento e também o sofrimento dos demais. Começamos a nos curar e podemos ajudar a curar o mundo”.

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