Se agora você estivesse tomando um café comigo e eu te pedisse para me contar a sua história, o que você me diria? A prioridade seria começar pelas cenas mais felizes ou enfatizaria aquelas dolorosas, que te fizeram mais forte?
Cada um de nós tem um jeito particular de enxergar e de verbalizar a própria vida. Eu, que sempre fui apaixonada por gente, gosto muito dessa escuta e de conhecer pessoas, suas histórias, suas trajetórias e o que cada uma tem para contar sobre si.
Acabo aprendendo muito com a forma como cada pessoa se vê, como vive e sente suas próprias verdades. Afinal de contas, nem sempre é tão simples fazer este movimento de se reconhecer em qualidades e defeitos.
Mas o exercício em si traz para mais perto o amor genuíno. Este mês, convidei o Dr. Roberto Shinyashiki para conversar sobre isso: os pontos de conexão com nós mesmos e os caminhos que nossa mente percorre para nos aproximar de quem somos em essência.
Ele é palestrante, pensador, escritor, autor de 30 best-sellers, médico e terapeuta. Dedica parte da sua vida a ajudar o ser humano a reconhecer e alcançar os seus potenciais.
“As pessoas ficam procurando a solução mágica, a solução imediata. Mas só encontram a frustração, porque isso não existe”, pontuou.
Segundo Shinyashiki, quanto mais compreendemos nossas prioridades, mais simplificamos nosso caminhar e mais próximos ficamos da nossa verdade.
“Vejo muitas pessoas que têm vocações para serem grandiosas, mas acabam se diminuindo, porque escutaram o contrário. Meu trabalho é ajudá-las a amar o que têm e o que veem. E ser feliz com o que se é”
COMO VOCÊ SE DESCREVE?
Essa resposta depende muito da época em que é feita a pergunta. Porque, na minha opinião, somos fruto da soma de fatores que vão nos acontecendo ao longo da vida. Eu, particularmente, sou um buscador pela evolução. E a minha missão de vida é ajudar as pessoas a realizarem os seus objetivos. Esse trabalho tem duas partes: uma é ajudar as pessoas a aliviar suas dores. Mas a parte mais importante é auxiliar o ser humano a alcançar o seu potencial máximo. Estou com quase 50 anos de carreira, 72 anos de idade, e continuo apaixonado por ajudar o outro.
EM ALGUM MOMENTO VOCÊ SE DESCONECTOU DA SUA VERDADE?
Como qualquer ser humano, eu tive fracassos. Mas nunca me desconectei da minha verdade, acho que esse momento nunca chegou. Acredito que nunca aconteceu por três motivos: eu sou uma pessoa que está sempre meditando, orando e com um mentor. A gente pode errar e, quando erramos, só tem uma coisa a fazer: pedir desculpas, se tiver outra pessoa envolvida. Tudo o que eu tinha que fazer, eu fiz. Pode ser que tenha sido feito com um resultado não muito bom, mas eu nunca deixei de fazer. E não tem nada na minha vida hoje que eu pense que preciso ir lá pedir desculpa para alguém, por exemplo.
QUAL VALOR É SEU GUIA?
Também acredito que aquilo que nos define muito é o que fazemos quando ninguém está olhando. E eu sempre procurei ser leal às pessoas que estão comigo, aos meus princípios e a mim. Muita gente costuma falar: “eu me arrependo das coisas que eu não fiz”, mas acredito que a gente deva se arrepender das coisas que fez e que não foram condizentes com quem a gente é. Por isso, eu nunca me desconectei: porque estou sempre atento a isso, que considero como parte da minha verdade.
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O QUE ANCORA A SUA EXISTÊNCIA?
Acontece uma coisa comigo que eu acho que é um dom: eu me sinto muito mal quando estou em uma situação errada, ruim. Se estou em um grupo de empresas, no qual as pessoas têm uma boa intenção, mas não estão caminhando de um jeito legal, eu me sinto muito mal. É minha prioridade: eu não abro mão de estar em paz comigo, dessa paz de espírito com os meus valores e com a minha energia.
O QUE É SER SIMPLES PARA VOCÊ?
Viver com o que é essencial. E cada um tem aquilo que é essencial para si. Acredito que a gente tem que definir as nossas prioridades, baseando-se em nossa essência, e focar nelas porque, com as prioridades bem-posicionadas, não precisamos tomar decisões difíceis a toda hora. Isso poupa energia e simplifica muito as coisas.
TAMBÉM É PRECISO FIRMEZA PARA SE POSICIONAR?
Então, ser simples para mim é você não abrir mão de estar com alguém, com alguma pessoa interessante, que te faz bem, por causa da situação ou do lugar. Esses dias, eu estive em um congresso e uma pessoa me convidou: ‘Roberto, você precisa conhecer tal restaurante. Estou indo até lá, vamos?’. Mas, ao mesmo tempo, naquele momento, tinha uma palestra que eu queria muito assistir. Então, escolhi ficar, ver a palestra, e o restaurante eu deixei para depois. Compreende? Eu simplifiquei, eu escolhi o que era prioridade. Para mim, comida não é importante, lugares não são importantes. As pessoas nos lugares e as histórias delas são importantes. Simples. Pronto. Definido.
O QUE É SER GENTE DE VERDADE?
Ser gente de verdade é se conhecer. É muito importante a pessoa se conhecer porque, se ela não se conhece, começa a perder a sua identidade quando olha para fora e procura imitar o que está lá. Como na história do ‘Patinho Feio’. O sujeito é um cisne e, quando ele olha para fora, vê aquele monte de patinhos e, como ele é o único diferente deles, se acha esquisito, ridículo, feio. Quando, na verdade, ele tem toda a sua exuberância, as suas particularidades. Só não é igual aos outros. Enquanto terapeuta, eu preciso saber ler a pessoa que está ali e ajudá-la a entrar em contato com ela mesma.
O pessoal da psicanálise diz que temos medo de olhar para dentro e ver nossos traumas, frustrações, medos. Eu valorizo mais o pensamento do Carl G. Jung, que dizia: ‘as pessoas têm medo de olhar para dentro e ver como elas são maravilhosas’. Vejo muitas pessoas que têm vocações para serem grandiosas, mas acabam se diminuindo, porque escutaram o contrário. E esse é o meu trabalho: ajudá-las a curtir a sua riqueza, a sua grandeza, amar o que têm e o que veem. E ser feliz, ter sucesso com isso, com o que se é.
Sobre o Gente de Verdade
GENTE DE VERDADE é um movimento que apoia caminhos de autoaceitação e incentiva a reconexão interior e o encontro com nossa verdade por meio da simplicidade. As entrevistas deste espaço têm o objetivo de inspirar cada um de nós a nos reconhecer e nos autoconhecer no mundo. @gente.deverdade
Mais da série Gente de Verdade
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JACQUELINE PEREIRA tem fé no ser humano. Idealizadora do projeto Gente de Verdade, ela também é especialista em pessoas, terapeuta holística, palestrante e condutora de imersões espirituais.
Conteúdo publicado originalmente na Edição 270 da Vida Simples
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