COMPARTILHE
Como ficar bem sozinho após passar por um divórcio?
Foto: Jeremy Bishop
Siga-nos no Seguir no Google News
Neste artigo:

Mariah Morais é jornalista, escritora e palestrante. Além disso, ficou conhecida como primeira mulher a comentar partidas de futebol na televisão brasileira. Autora de livros infantis e adultos, lançou em 2024, pela editora Trend, um sensível relato sobre seu divórcio na obra “Depois do Depois”.

“Não foi fácil, acredito que para ninguém seja”, define Mariah, que também é mãe de dois adolescentes. A jornalista relata que vivia há anos separada dentro da mesma casa. Ela não estava feliz e seu ex-marido também não.

A decisão, apesar de complicada, era necessária para que ambos pudessem viver com mais plenitude:

“Para mim foi uma escolha entre o amor e a paz. Escolhi a paz, e escolherei quantas vezes forem necessárias”.

No livro, Mariah conta que nunca se esqueceu da primeira vez que fechou a porta de casa e viu sua família diminuir de quatro para três integrantes: eram agora apenas ela e os filhos. Apesar da solidão, nesse momento se descobriu mais forte do que nunca.

“Quando você se vê sozinha, com tantas responsabilidades, não tem como não parar para respirar, se reencontrar, se organizar e sair para luta”, comenta Mariah, que decidiu escrever um livro para ajudar outras mulheres no pós-divórcio a se redescobrirem e encontrarem forças em si mesmas.

Separação não é fácil – e nunca foi

Não faz nem cinquenta anos que o divórcio foi instituído oficialmente no Brasil. Por conta disso, se construiu uma mentalidade de que “nada e nem ninguém” poderia separar um casal. Após unidos, as partes deveriam viver juntos mesmo que isso custasse o feliz para sempre.

“Muitas mulheres, como nossas avós e mães, tiveram de permanecer em casamentos infelizes. E mesmo após esse direito conquistado, o divórcio por muito tempo foi mal visto na sociedade, sendo o preconceito ainda maior em relação às mulheres, sobre as quais costumava recair a culpa do casamento fracassado”, conta Marciele Scarton, mentora em desenvolvimento feminino e autora do livro “O Grande Poder”.

Segundo a especialista, essas marcas de um passado recente fazem o divórcio pesar mais para a mulher. Mas, para qualquer um, esse processo é doloroso e difícil: não é fácil lidar com a perda de uma parceria de vida, com planos e sonhos conjuntos.

“Desta forma, tristeza profunda e sentimento de luto, raiva, ressentimento, culpa, baixa autoestima e vergonha são comuns, assim como ansiedade e medo em relação ao futuro”, complementa Marciele.

Além disso, vivemos com uma crença que o relacionamento afetivo-sexual é visto como o mais valioso de todos. Isso quer dizer que o romance se torna prioridade em nossa vida, e não encontrar alguém significaria um sinal de fracasso pessoal.

“Hoje, mesmo que conscientemente essa ideia seja reconhecida como absurda, é uma crença que ainda reverbera em muita gente e pode amplificar o medo de ficar sozinho. É preciso ressignificar esse modo de pensar tão retrógrado e limitante”, ressalta a especialista.

Marciele pontua que todos devemos buscar ser autônomos. Afinal, “casais partilham expectativas, valores e sonhos porque se amam e desejam ser parceiros de vida, não por que um depende do outro”.

Se aprofundando em si

O término oferece a oportunidade de reavaliar valores, desejos e objetivos pessoais. Assim explica Rafaela Joia, psicóloga do Centro Médico Pastore (RJ):

“É um momento para entender o que é prioridade na sua vida e ressignificar o passado, olhando para si com autocompaixão”.

A psicóloga explica que o medo da solidão é normal, mas para que ele não te impeça de continuar vivendo, é preciso trabalhar na identificação de pensamentos disfuncionais, como “não sou suficiente sem alguém” ou “não vou ser feliz sozinho”.

Rafaela explica que focar em descobrir o que traz sentido para si ajuda a reduzir esse medo. Nesse aspecto, o autoconhecimento é um grande aliado.

Marciele aponta que, nesse momento, é preciso solidificar sua independência, tanto interna quanto externa, reestruturando-se emocional e financeiramente.

E, em especial para mulheres, é necessário trabalhar para recuperar sua autoestima, já que o término de um relacionamento pode abalar a percepção positiva de si mesma, acarretando insegurança e distorções tanto sobre sua aparência como a respeito de seu amor próprio.

“Processos de autoconhecimento e fortalecimento emocional são fundamentais e decisivos nesse momento de vida”, sugere a mentora.

Ser feliz sozinho

Taí uma coisa que parece difícil, mas que no fundo não tem muito segredo: é preciso ter momentos de solitude e aproveitar ao máximo a própria companhia. Para Marciele, tirar um tempo para desfrutar de pequenos prazeres do dia a dia é uma forma de se reconectar com si.

É possível que, durante o casamento, atividades simples de lazer e de autocuidado tenham sido deixadas de lado para dar espaço àquelas que eram realizadas a dois. “Por isso, fazer uma lista desses pequenos prazeres e distribuí-los ao longo da semana auxilia a preencher uma provável sensação de vazio, bem como a retomar o ânimo para as atividades cotidianas”, explica a mentora.

Também vale lembrar daqueles hobbies ou práticas que você deixou na gaveta e retomar sua prática, por que não?

“Retomar hobbies dos quais pode ter se distanciado no decorrer do casamento e, quem sabe, grandes sonhos ou planos antigos, que não couberam na vida a dois, é uma excelente forma de valorizar a si mesma e reconectar-se com seus desejos e potencial individual”, sugere Marciele.

Quem tem um amigo, tem tudo

Valorizar a própria companhia é essencial, mas divorcio não é, e nem precisa ser, sinônimo de viver sozinho. Nesse momento, é super valioso passar o tempo ao lado de amigos e familiares para construir uma rede de apoio.

“O divórcio é uma chance de investir mais nas relações significativas”, pontua Rafaela. Para isso, construa um suporte emocional com amigos e familiares. “Reforce laços ao compartilhar momentos e criar memórias, reconhecendo que estar conectado aos outros também faz parte do processo de cura”, completa.

Afinal, pouca gente quer ficar sozinha. Mas em vez de achar que depende de um novo relacionamento amoroso para ser feliz, tire um tempo para aproveitar e valorizar a companhia daqueles que também são essenciais.

“Não significa fechar-se para a possibilidade de um novo relacionamento, apenas dar o tempo natural – que é individual – para que novos lugares, experiências e, espontaneamente, pessoas passem a fazer parte de sua vida” explica Marciele.

Seguindo em frente

Hoje, Mariah Morais é noiva do ex-jogador Cafu. Os dois se conhecem há mais de 30 anos e encontraram, na companhia um do outro, um grande amor. Mas antes disso, foi sozinha que a jornalista se fortaleceu e encontrou forças para seguir em frente após seu divórcio.

“Sempre digo que o casamento não nos define. Sinta sua dor, viva seu luto, mas não se entregue. O fim de um relacionamento não pode ocultar todas as outras coisas boas da vida”.

Mariah confessa que chorou muito durante o processo todo, mas que é necessário ter compreensão sobre os caminhos que se seguiram para que a vida continue.

“É preciso aceitar que as coisas não saíram como planejado, aceitar que seu grande sonho terá que ser reinventado, aceitar que a logística com os filhos não vai ser como você quer… Enfim, aceitar que a única saída é respirar e seguir em frente”, finaliza.

LEIA MAIS

Como recomeçar após uma separação?
Como recomeçar no amor após um coração partido
Caminhos para lidar com as perdas e recomeçar a vida

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário