Como melhorar a comunicação em nossas relações?
Além das palavras, há muitas outras formas de expressarmos o que sentimos, afinal, a linguagem é múltipla. Saiba como ter uma comunicação mais saudável nas relações com as pessoas que a gente ama e convive.
Uma agenda repleta de compromissos, uma empresa a gerir, prazos que nunca se esgotam e um tempo muito pequeno para cultivar a boa comunicação nas relações com as pessoas que convive. Sempre muito atarefado, com estresse acumulado e falas ríspidas, essa é a descrição Alain Wapler, personagem principal no filme Sem Palavras (Prime Video).
A pressa que a sociedade nos obriga a viver nos leva a ter o tempo sempre curto para as coisas que gostamos de fazer e a dificulta os esforços em manter o equilíbrio emocional nas relações. Se você é pai ou mãe deve saber muito bem que às vezes o trabalho se estende e, quando chega em casa, os filhos já estão dormindo. O que não sobra são exemplos. Faz tanto tempo que encontramos aquele amigo querido, não é? Aliás, qual foi a última vez que você levou um colega de trabalho para tomar um café ou cerveja?
Sem afeto, bom humor e respeito fica bem difícil manter uma boa comunicação, por mais importante que a pessoa seja, concordam? Então, antes de tudo, precisamos entender que melhorar a nossa comunicação, às vezes, é uma via de mão dupla e exige atenção e esforço dos dois lados.
Onde estou errando?
Apesar do tempo escasso, Alain Wapler precisa conciliar sua rotina no trabalho com a parentalidade. Sua filha, já adolescente, se dedica para ingressar na universidade e sente com frequência a ausência do pai no apoio emocional necessário para lidar com a situação. Julia, como é chamada, dificilmente encontra Alain em casa, pois ele está sempre envolvido com reuniões, viagens e compromissos de trabalho infindáveis.
Sem saber, Wapler criou o ecossistema perfeito para que houvesse uma fissura na relação entre ele, a filha e várias outras pessoas que fazem parte da sua vida. Seguir os passos do personagem é como adotar um guia de como definhar na comunicação com as pessoas que você ama. Então, servem de alerta esses passos:
- Qual foi a última vez que parei para ouvir um amigo e suas inquietações?
- Quanto tempo eu reservo durante o dia para conversar com as pessoas que amo ou saber como elas estão?
- Como tento lidar com atritos? Com paciência e cautela ou na impulsividade?
- A vida não é só trabalho, certo? Como eu faço para equilibrar esse período com outros momentos do meu dia?
Você pode acrescentar ou readequar as perguntas de acordo com suas vivências e necessidades. E, claro, há pessoas mais extrovertidas e comunicativas, outras menos, então nem todo mundo tem o interesse e o costume de passar boa parte do dia batendo papo com um amigo, seja presencial ou por rede social. Aqui, o importante é se conhecer e saber das necessidades do outro.
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Relações que nos fortalecem
Falar sobre o amor ainda é um pouco difícil para muitas pessoas. Entendo que a forma como as relações se dão na sociedade e a pouca prática em demonstrar o que sentimos dificulta que expressemos o que sentimos de forma genuína. Por aqui, há alguns anos tenho adotado a prática de dizer “te amo” para as pessoas que são importantes na minha vida. No início pode ser difícil, especialmente para homens que sempre foram incentivados a não demonstrarem seu lado emocional, mas é uma prática recompensadora ao longo do tempo.
“O amor é o que o amor faz. Amar é um ato da vontade — isto é, tanto uma intenção quanto uma ação. A vontade também implica escolha. Nós não temos que amar. Escolhemos amar”, escreve bell hooks em Tudo sobre o amor (Elefante). Neste livro, ela fala sobre o tema de forma profunda, do amor enquanto forma política e o quão importante é nos cuidarmos e cuidar de quem amamos.
“Para amar verdadeiramente, devemos aprender a misturar vários ingredientes — carinho, afeição, reconhecimento, respeito, compromisso e confiança, assim como honestidade e comunicação aberta.”
bell hooks destaca ainda que precisamos olhar para o amor como uma ação, e não necessariamente como um sentimento, uma forma de fazer com que a gente assuma responsabilidade e comprometimento com o que estamos demonstrando e praticando no dia a dia.
Ah, e vale lembrar que há muitas outras formas de expressarmos o que sentimos além das palavras, a linguagem é múltipla. Um café da manhã na cama, uma mensagem no WhatsApp, um cartão colado na geladeira antes de sair para o trabalho, uma carta escrita à mão ou simples gestos durante o dia que melhoram a qualidade das relações são algumas das atitudes que podemos tomar.
A felicidade no meio disso tudo
Falar sobre a importância da felicidade nas relações é bem subjetivo, afinal, o que ser feliz para você? Ter um carro, uma grande casa e um emprego fixo? Talvez isso não sirva para alguém que ama pedalar, vive em uma Tiny House e é nômade digital. Mas, sem problematizar o assunto, “a felicidade é o equilíbrio dos prazeres e dos propósitos”, explica o comunicólogo e especialista em Psicologia Positiva Rodrigo de Aquino.
Para ele, uma das chaves para aprimorar a comunicação nos relacionamentos é praticarmos o mindfulness, que pode ser traduzida como atenção plena, se perceber no mundo e estar atento ao outro. “Se eu não tenho consciência de quem sou e como estou, eu não estou realmente com consciência plena, e a minha presença no mundo me faz enxergar o que o outro está passando“, defende.
Rodrigo lembra que estamos cada vez mais solitários em um mundo hiperconectado e nos inserindo em microssociedades, como nichos. Para ilustrar esse cenário, ele explica que o relatório Estado Mental no Mundo apresentou dados que mostram um distanciamento dos jovens de suas famílias. “A geração de adultos jovens de 18 a 24 anos tem metade da probabilidade de estar perto das suas famílias adultas e três vezes mais probabilidade de não se dar bem com eles em relação à geração dos seus avós.”
Além disso, o relatório destacou que pessoas que não mantém vínculos com amigos, familiares e outras pessoas correm o risco de desenvolveram, com dez vezes mais chances, problemas de saúde mental. Se comunicar bem e manter uma boa convivência com nossas relações são questões chave para esse novo século.
Dicas para melhorar a comunicação nas relações
Sabe o que aconteceu com o Alain Wapler no filme? Se você não gosta de receber spoiler, por favor, ignore esta parte. Depois de anos se dedicando intensamente ao trabalho e negligenciando o contato com a filha, amigos e familiares, Alain chegou a um estado de saúde preocupante depois de sofrer um AVC (acidente vascular cerebral), episódio que prejudicou os movimentos do corpo, a fala e a memória.
Por causa disso, foi demitido do cargo que ocupava – por mais importante que ele fosse – precisou se organizar financeiramente para pagar as contas, mas, como consequência, tinha mais tempo para viver ao lado da filha. Apesar de trágico, o problema de saúde foi elucidativo para o personagem, que aprendeu a olhar mais para si e para os outros.
“O que é importante trazer para o dia a dia? Moderação, respirar. O mindfulness ajuda muito nisso, porque traz a reflexão antes de você falar e o cérebro te ajuda a voltar para o seu lugar de equilíbrio”, explica Rodrigo. Então, confira essas dicas simples para o seu dia a dia:
- Tenha humildade: será que eu tenho condições para falar sobre um determinado assunto? Será que não posso abordar isso de forma mais humana e empática? Quando é a hora de pedir desculpas? Perguntas como essas são importantes para entender que você é tão igual quanto as outras pessoas, independente do grau de escolaridade, emprego ou faixa salarial.
- Viver em coletivo é mais prazeroso: “eu sozinho posso fazer algumas coisas, mas posso fazer muito mais quando me conecto com outras pessoas”, explica Rodrigo.
- A vida é um zigue-zague: feita por altos e baixos, momentos de alegria e tristeza. O importante é entender que a vida é composta por esse fluxo, nada é plano. Aplique isso nas suas relações, é importante saber comunicar que nem sempre estamos bem e que a pessoa do outro lado por não estar com a mesma energia que a nossa naquele momento.
- Perguntas simples ajudam: é clichê a música do Charlie Brown Jr., não é? “Alguém ter perguntou como foi seu dia?”, diz a letra. Apesar de conhecida, perguntas assim são muito importantes para o nosso dia a dia. “Bom dia, te amo. Desejo que tenha um bom trabalho”. “O que aprendeu de novo hoje na escola?”. “Como anda sua vida? Vamos marcar um encontro para conversar? Estou com saudades.” Coisas assim podem fazer grande diferença.
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