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Ferramentas para você ser feliz
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Com um pouco de treino e acolhendo as emoções, é possível vivenciar mais sentimentos positivos do que negativos

Nunca falamos tanto sobre saúde mental. O tema hoje faz parte, por exemplo, de programas de empresas. Faz sentido! Dados da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) indicam que 1 bilhão de pessoas vivem com algum transtorno mental. A Organização Mundial de Saúde aponta que o Brasil é o país com o maior número de pessoas ansiosas no mundo (cerca de 9% da população). No meio desse turbilhão de emoções, certamente há a busca prioritária para ser feliz, objetivo que todos nós percorremos. Mas, afinal, o que é ser feliz?

Rodrigo de Aquino, embaixador da ONG Doe Sentimentos Positivos e Facilitador FIB (Felicidade Interna Bruta), é especialista em bem-estar e há 30 anos auxilia sociedades e indivíduos a serem mais felizes. Descobriu nessa trajetória algumas ferramentas (happiness skills) que ajudam a nos aproximar da felicidade real. E alerta: “ser feliz não significa não sentir emoções negativas e sim ter mais emoções positivas do que negativas”.

A gente vive na constante busca pela felicidade. Mas parece que ela não chega – é sempre um objetivo a ser alcançado. Por fim, o que é felicidade?

A ciência diz que a felicidade é um conceito subjetivo em que o indivíduo vive mais “emoções positivas” do que “negativas”, numa rede segura de afetos. É um estado em que conseguimos praticar uma vida com propósito e realização. Essa sensação de que a felicidade nunca chega está relacionada a um processo interno que acontece com todo ser humano. A gente vai se acostumando com as conquistas e circunstâncias, gerando a percepção de que as coisas vão perdendo a força, o impacto, a graça e o valor.

Estudos apontam que esse fenômeno, que chamamos de adaptação hedônica, impacta desde relacionamentos até conquistas financeiras. Por exemplo: muita gente acha que ganhar “muito dinheiro” vai trazer felicidade. Num primeiro momento ele traz facilidades, acesso a coisas boas e aumenta a qualidade de vida do indivíduo. Mas, depois de um tempo, ele se acostuma com aquilo e acha que felicidade foi embora (ou que ela não foi alcançada). Na verdade, a felicidade chegou, não foi devidamente nutrida e ela acabou caindo na “caixinha” da adaptação hedônica.

É possível ser sempre feliz?

Não, pois faz parte do equilíbrio interior de toda pessoa sentir emoções negativas. A raiva, o medo e a tristeza compõem o sistema, o ato de “ser humano”. Isso é importante sempre ressaltar. É muito importante tomarmos cuidado com a ditadura da felicidade. Muitos conceitos da Psicologia Positiva vêm sendo aplicados de forma equivocada, parecendo que devemos viver como o smile. Viver sempre com o sorriso no rosto tem outro nome.

De qualquer forma, é possível mesmo num momento de tristeza, de desafios ou de perdas, realizar intervenções primárias, para criar um “colchão emocional” e servir de apoio durante esse período (nunca substituindo, quando necessário, intervenções clínicas e/ou medicamentosas).

Muita gente confunde esse comportamento com alienação ou “síndrome de Poliana”. Só que é o contrário! Ao ter noção que se está vivendo um momento de crise, o ideal é adotar uma perspectiva mais otimista, o que pode ajudar no desenvolvimento de estratégias criativas para sair desta situação.

Qual é a importância de abraçar os momentos de tristeza?

A tristeza nos humaniza. Ela lembra a nós mesmo que não somos máquinas e que precisamos preservar a dignidade que habita em nós e nos outros. No filme Divertida Mente, a personagem Tristeza tem um papel fundamental no roteiro. Ela traz senso de realidade e, muitas vezes, serve de canal para a manifestação de afetos positivos, como a empatia. Aqui mora o “pulo do gato”. Ser feliz não significa não sentir emoções negativas e sim, ter mais emoções positivas que negativas.

Quando não sabemos dar nome às nossas emoções ou, quando fica difícil fazer essa equação acontecer (emoções positivas > emoções negativas) é importante procurar um profissional da saúde. No mais, é sempre aconselhável acolher amorosamente todos os sentimentos… eles são péssimas âncoras, mas grandes conselheiros.

Há técnicas que nos aproximam da felicidade? Como funciona isso e como as utilizamos para sermos felizes?

É importante saber que inúmeras universidades do mundo estudam práticas para aumentar os índices de felicidade dos indivíduos e dos grupos. Isto é, existem dados científicos que demonstram o aumento do índice de bem-estar de quem pratica essas atividades. Aqui, resgato um conceito apresentado no começo da entrevista, o da subjetividade. Essas práticas nem sempre são adequadas ou indicadas para todas as pessoas (assim como existem inúmeros medicamentos que não alcançam sua eficácia em 100% dos pacientes).

Junto a esse dado, acrescento que essas práticas dependem de frequência. Para sentir o impacto real de cada uma delas é preciso treino, treino e treino. Siga a lógica da musculação. Ninguém fica musculoso do dia pra noite, mas sempre ao final de cada treino, mesmo com aquele cansaço, você já tem uma sensação de bem-estar que tende só a aumentar (só não pode fazer sempre os mesmo exercícios. Lembra da adaptação hedônica?).

1) Bênçãos Diárias

antes de dormir, reconheça ao menos 3 coisas importantes que você fez durante o dia. Podem ser coisas feitas pelos outros ou por si mesmo (importante para valorizar as coisas boas do dia a dia, sem deixar de cair no comum).

2) Delicie-se com os momentos

permita-se vivenciar momentos da sua vida, sejam eles simples ou refinados. Sinta, de verdade, as emoções positivas que um simples almoço, uma boa música ou um passeio pelo parque podem despertar em você (traz senso de presença, ajuda a mente ficar focada no agora, sem pensar no passado ou no futuro, estados mentais geralmente associados a depressão ou ansiedade).

3) Perspectivas positivas

reinterprete os acontecimentos negativos e encontre em cada um deles, por exemplo, a oportunidade de aprender com o ocorrido. Pesquisas apontam que essa prática estimula o bem-estar, o sono e a saúde em geral.

4) Atos de Bondade:

em tempos de pandemia, o uso da máscara ou o isolamento social já é um ato de bondade, pois você preserva a saúde e o bem-estar das pessoas que estão ao seu redor. Mesmo assim, você pode ainda ajudar idosos no supermercado, fazer compras para vizinhos contaminados pelo Covid-19, apoiar colegas de trabalho que estão com altas demandas pessoais, etc.

Agir dignamente, ampliando a felicidade de famílias, escolas ou organizações, transforma seres humanos em potências criadoras, conteúdos em esperança e engajamento. Também traz senso de pertencimento, transformando empresas em polos de florescimento e países em verdadeiras Nações.

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