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Dicas para lidar de forma saudável com as expectativas
Abra margem para o imprevisto em seus planos (FOTO: ADRIAN SWANCAR/UNSPLASH)
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Não seria exagero dizer que quase todas as nossas decepções e tristezas têm como antecâ­mara as expectativas frustradas. Sim. Quando esperamos ou desejamos muito alguma coisa e essa expectativa não se transforma na realida­de imaginada, sentimos desilusão e frustração. E quanto mais altas são as nossas expectativas, mais aumentam as chances de sofrimento.

Quando a realidade fica aquém das expectativas

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Se o decepcionado não tiver repertório para transformar a queda em passo de dança ou a flexibilidade para aproveitar o impulso da desilusão para se reerguer, poderá vir a amargura, a revolta, a depressão.

Mas, antes de investigar como a expectativa influencia nossas emoções, vale esclarecer que ela é um estado de esperar algo que seja viável ou provável de acontecer.

Um grande desejo ou ânsia em relação a algo que ainda não existe. Também pode ser sinônimo de promessas ou de uma esperança – baseada em evidências do presente ou do passado – de que algo se materialize no futuro.

Já numa esfera mais existencial, a expecta­tiva é uma condição ou sentimento que só existe fora da realidade. Um conteúdo apenas dentro da nossa cabeça.

E qual é o grande mal? É que as expectativas, para se materia­lizar no presente, não dependem apenas da nossa vontade. Estão sujeitas a ventos e tro­voadas, ao acaso, aos azares, ao destino e, principalmente, à ação dos outros.

Como os estoicos lidam com as expectativas

Por ser fonte de tantas emoções humanas, as expectativas foram – e ainda são – muito bem abordadas pelo estoicismo, corrente filosófi­ca que consiste numa espécie de manual prá­tico para a arte de viver.

Apesar de ter surgi­do em 300 a.C., na Grécia Antiga, o estoicismo permanece atual e necessário. Afinal, conti­nuamos a ser uma potente máquina de fabri­car desejos.

Assim que abrimos os olhos pela manhã, começamos a desejar e traçar planos: temos expectativas. Desde as mais banais, até as mais grandiosas e absurdas.

Seja quais forem, não é possível viver sem elas. São as expectativas que dão sentido à vida, guiam nossas ações e pavimentam nossa realidade.

No entanto, elas tendem – tanto hoje quan­to na Grécia Antiga – a serem elevadas. E aqui mora o problema.

O segredo: modular as expectativas

Lidar com a frustração e a sensação de derrota das expectativas não concretizadas é muito difícil. O melhor en­tão é ter baixas expectativas? Também não.

Se as expectativas altas turvam a visão, as baixas têm um efeito paralisante. E aí a pes­soa não acredita, não investe, não vive. E, quando se tornam crônicas, adoecem a vida.

Mas, então, o que fazer? “Modular as ex­pectativas”, diz a sabedoria estoica. Como?

A primeira etapa é o conhecimento sobre nós, os outros e o nosso entorno. E aqui o desafio. Como somos seres emocionais, todas as nossas expectativas vêm dessa raiz.

Por isso, elas precisam ser rastreadas, analisadas e lapidadas pelo racional. Quan­to mais lúcidas são as expectativas, mais chances elas têm de se transformar em realidade.

Além disso, precisamos de uma lucidez flexível: um plano B dá uma espé­cie de elasticidade às expectativas e evita o estado de ansiedade do tudo ou nada du­rante o percurso.

Entretanto, é preciso que todas essas “precauções” não baixem mui­to o nível das expectativas para que não venha a apatia. Aqui, especialistas indicam alguns possíveis caminhos. Vamos a eles.

Abrace a vida como ela é

Como lidar com as expectativas Raramente a vida sai conforme planejado (FOTO: TIMOTHEE DURAN/UNSPLASH)

Há quem viva com uma espécie de venda nos olhos: não “lê” o mundo, não enxerga a vida que tem, suas capacidades, suas limita­ções. Como serão as expectativas de alguém assim?

Em descompasso com a realidade e, portanto, com grande potencial de frustra­ção. Neste caso, vale olhar para suas expec­tativas com o filtro da racionalidade.

Quais são os custos dessa realização que busco? O que vou precisar sacrificar? Terapia e con­versar com amigos e familiares sobre sua visão de realidade também podem ajudar.

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Use a sabedoria estoica

Um dos grandes ensinamentos do estoicis­mo é: não conte muito com o que está fora do seu raio de ação.

Se a sua expectativa, para se concretizar, está dependente de muitos acontecimentos fora do seu contro­le ou que não dependem da sua ação direta, desconfie. Não aposte todas as fichas nela.

Expectativas devem ser baseadas na realidade

Ao se deparar com expectativas frustradas, não se entregue ao desespero e ao sofri­mento. Levante-se, faça uma autoanálise e aprenda com a experiência.

Faça per­guntas: as suas expectativas tinham res­paldo na realidade? Havia indicadores de que elas poderiam se concretizar?

Nesse momento, muitos, em vez de admitir que o que imaginavam existia apenas dentro da sua cabeça, preferem culpar o outro, o mundo, o destino. Evite essa armadilha.

Acolha o sentimento de frustração

Não é preciso demonizar a frustração. “Ela é uma emoção fulcral no desenvolvimen­to humano. É porque sentimos frustração que temos a oportunidade de nos movimentarmos em direção à satisfação das nossas necessidades.”

“Sem ela, não sería­mos capazes de reconhecer desequilíbrios no nosso bem-estar”, diz a psicoterapeuta portuguesa Márcia Inês Coelho. Use a frus­tração como motor de autoconhecimento.

Busque ter expectativas humanistas

Mais do que expectativas realistas, busque expectativas humanistas. “Abra margem para o erro, para a imperfeição e para os imprevistos.”

“E, principalmente nas rela­ções, abra espaço para a possibilidade de que algo pode ser importante para você, mas não para o outro”, ensina Márcia.

Quando criar expectativas é um exercício saudável

As expectativas não são uma maldição lan­çada contra a humanidade. Está claro que elas têm um papel importante na nossa saúde mental.

É fundamental, por exemplo, que você tenha expectativas de ser respeitado num relacionamento. Sem isso, facilmente en­traríamos em relações tóxicas e abusivas.

Mais naturalidade e autocompaixão

Como lidar com as expectativas O equilíbrio de expectativas leva a uma vida autêntica (FOTO: GREG JEANNEAU/UNSPLASH)

A verdade é que raramente a vida sai con­forme o planejado. Pois são vários fatores que fazem com que as coisas aconteçam dife­rente do que esperamos.

Por conta des­sas variáveis que nos escapam, Adriana Drulla, especialista em psicologia positiva com foco na compaixão, recomenda tratar a frustração com naturalidade e autocom­paixão.

“Pense sobre como você falaria ou encorajaria um amigo querido e fale consi­go da mesma forma. Traga para o cenário a autocompaixão”, diz.

Prepare-se com pequenas doses de pessimismo

Pequenas doses de pessimismo podem servir como um colchão que amortiza a queda, diante do nosso extremo otimismo e até narcisismo.

Quem pega o seu carro e explode com a primeira fechada no trânsito provavelmente tem interiorizado que vive em um mundo onde não existem maus mo­toristas.

O estoico Marco Aurélio, filósofo e imperador de Roma, recomendava que, ao acordar, você dissesse a si mesmo: “hoje vou encontrar um intrometido, um mal-agrade­cido, um insolente, um astucioso, um invejo­so, um avaro”.

Você provavelmente não tem a exposição de um imperador e não precisa­rá lidar com esses seis perfis… Porém nunca se sabe. Saia preparado.

Como lidar com as expectativas dos outros

Como se não bastasse toda a luta com as nossas próprias expectativas, ainda temos que administrar as que os outros têm so­bre nós? Sim.

Porém, esse fardo fica menos pesado se encarado com naturalidade. É normal a nossa tendência em querer corresponder às expectativas do outro.

Adria­na Drulla cita uma pesquisa que demonstra que a dor do julgamento alheio ativa circui­tos cerebrais similares à dor física. “Nosso cérebro foi formado quando vivíamos em pequenas tribos, onde a sobrevivência de­pendia da aceitação do grupo.”

Bem… Isso faz muito tempo. Hoje, é impossível agra­dar a todos e desempenhar de forma ex­cepcional tantos papéis. Portanto, acolha o seu desconforto.

Entenda que o fato dele existir não significa que você seja ruim ou inadequado. “Depois disso, lembre-se que a expectativa do outro é do outro, e não sua. Pergunte-se o que você desejaria para si se não houvesse o desejo externo”, reco­menda Adriana.

Quer evitar frustrações? Comunique as suas expectativas

Finalmente, comunique as suas vontades e os seus limites. Faça isso de forma assertiva, porém não reativa ou defensiva.

Expressar seus sentimentos e limitações pode não ser o que o outro esperava em um primeiro momento. Mas, a longo prazo, é o único caminho para um relacionamento saudável.

Como viver é sempre com o outro, na últi­ma instância estoica, essa é a grande arte: o equilíbrio entre as minhas, as suas e as nos­sas expectativas.

Eis o caminho para a vida autêntica. A única que vale a pena.

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MARGOT CARDOSO é jornalista, mestre em filosofia e colunista do portal Vida Simples. Recorre aos grandes pensadores para também lidar com suas expectativas.


Conteúdo publicado originalmente na Edição 239 da Vida Simples

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