Dicas para lidar de forma saudável com as expectativas
Alinhar nossas expectativas com o mundo real pode nos ajudar a evitar frustrações e a viver de forma mais flexível e autêntica; veja dicas
- Quando a realidade fica aquém das expectativas
- Como os estoicos lidam com as expectativas
- O segredo: modular as expectativas
- Abrace a vida como ela é
- Use a sabedoria estoica
- Expectativas devem ser baseadas na realidade
- Acolha o sentimento de frustração
- Busque ter expectativas humanistas
- Quando criar expectativas é um exercício saudável
- Mais naturalidade e autocompaixão
- Prepare-se com pequenas doses de pessimismo
- Como lidar com as expectativas dos outros
- Quer evitar frustrações? Comunique as suas expectativas
Não seria exagero dizer que quase todas as nossas decepções e tristezas têm como antecâmara as expectativas frustradas. Sim. Quando esperamos ou desejamos muito alguma coisa e essa expectativa não se transforma na realidade imaginada, sentimos desilusão e frustração. E quanto mais altas são as nossas expectativas, mais aumentam as chances de sofrimento.
Quando a realidade fica aquém das expectativas
Se o decepcionado não tiver repertório para transformar a queda em passo de dança ou a flexibilidade para aproveitar o impulso da desilusão para se reerguer, poderá vir a amargura, a revolta, a depressão.
Mas, antes de investigar como a expectativa influencia nossas emoções, vale esclarecer que ela é um estado de esperar algo que seja viável ou provável de acontecer.
Um grande desejo ou ânsia em relação a algo que ainda não existe. Também pode ser sinônimo de promessas ou de uma esperança – baseada em evidências do presente ou do passado – de que algo se materialize no futuro.
Já numa esfera mais existencial, a expectativa é uma condição ou sentimento que só existe fora da realidade. Um conteúdo apenas dentro da nossa cabeça.
E qual é o grande mal? É que as expectativas, para se materializar no presente, não dependem apenas da nossa vontade. Estão sujeitas a ventos e trovoadas, ao acaso, aos azares, ao destino e, principalmente, à ação dos outros.
Como os estoicos lidam com as expectativas
Por ser fonte de tantas emoções humanas, as expectativas foram – e ainda são – muito bem abordadas pelo estoicismo, corrente filosófica que consiste numa espécie de manual prático para a arte de viver.
Apesar de ter surgido em 300 a.C., na Grécia Antiga, o estoicismo permanece atual e necessário. Afinal, continuamos a ser uma potente máquina de fabricar desejos.
Assim que abrimos os olhos pela manhã, começamos a desejar e traçar planos: temos expectativas. Desde as mais banais, até as mais grandiosas e absurdas.
Seja quais forem, não é possível viver sem elas. São as expectativas que dão sentido à vida, guiam nossas ações e pavimentam nossa realidade.
No entanto, elas tendem – tanto hoje quanto na Grécia Antiga – a serem elevadas. E aqui mora o problema.
O segredo: modular as expectativas
Lidar com a frustração e a sensação de derrota das expectativas não concretizadas é muito difícil. O melhor então é ter baixas expectativas? Também não.
Se as expectativas altas turvam a visão, as baixas têm um efeito paralisante. E aí a pessoa não acredita, não investe, não vive. E, quando se tornam crônicas, adoecem a vida.
Mas, então, o que fazer? “Modular as expectativas”, diz a sabedoria estoica. Como?
A primeira etapa é o conhecimento sobre nós, os outros e o nosso entorno. E aqui o desafio. Como somos seres emocionais, todas as nossas expectativas vêm dessa raiz.
Por isso, elas precisam ser rastreadas, analisadas e lapidadas pelo racional. Quanto mais lúcidas são as expectativas, mais chances elas têm de se transformar em realidade.
Além disso, precisamos de uma lucidez flexível: um plano B dá uma espécie de elasticidade às expectativas e evita o estado de ansiedade do tudo ou nada durante o percurso.
Entretanto, é preciso que todas essas “precauções” não baixem muito o nível das expectativas para que não venha a apatia. Aqui, especialistas indicam alguns possíveis caminhos. Vamos a eles.
Abrace a vida como ela é
Raramente a vida sai conforme planejado (FOTO: TIMOTHEE DURAN/UNSPLASH)
Há quem viva com uma espécie de venda nos olhos: não “lê” o mundo, não enxerga a vida que tem, suas capacidades, suas limitações. Como serão as expectativas de alguém assim?
Em descompasso com a realidade e, portanto, com grande potencial de frustração. Neste caso, vale olhar para suas expectativas com o filtro da racionalidade.
Quais são os custos dessa realização que busco? O que vou precisar sacrificar? Terapia e conversar com amigos e familiares sobre sua visão de realidade também podem ajudar.
Você pode gostar de
– Frustrações e expectativas: como lidar com a decepção?
– Como ajudar as crianças a lidar com a frustração?
– Como controlar a raiva e a frustração?
Use a sabedoria estoica
Um dos grandes ensinamentos do estoicismo é: não conte muito com o que está fora do seu raio de ação.
Se a sua expectativa, para se concretizar, está dependente de muitos acontecimentos fora do seu controle ou que não dependem da sua ação direta, desconfie. Não aposte todas as fichas nela.
Expectativas devem ser baseadas na realidade
Ao se deparar com expectativas frustradas, não se entregue ao desespero e ao sofrimento. Levante-se, faça uma autoanálise e aprenda com a experiência.
Faça perguntas: as suas expectativas tinham respaldo na realidade? Havia indicadores de que elas poderiam se concretizar?
Nesse momento, muitos, em vez de admitir que o que imaginavam existia apenas dentro da sua cabeça, preferem culpar o outro, o mundo, o destino. Evite essa armadilha.
Acolha o sentimento de frustração
Não é preciso demonizar a frustração. “Ela é uma emoção fulcral no desenvolvimento humano. É porque sentimos frustração que temos a oportunidade de nos movimentarmos em direção à satisfação das nossas necessidades.”
“Sem ela, não seríamos capazes de reconhecer desequilíbrios no nosso bem-estar”, diz a psicoterapeuta portuguesa Márcia Inês Coelho. Use a frustração como motor de autoconhecimento.
Busque ter expectativas humanistas
Mais do que expectativas realistas, busque expectativas humanistas. “Abra margem para o erro, para a imperfeição e para os imprevistos.”
“E, principalmente nas relações, abra espaço para a possibilidade de que algo pode ser importante para você, mas não para o outro”, ensina Márcia.
Quando criar expectativas é um exercício saudável
As expectativas não são uma maldição lançada contra a humanidade. Está claro que elas têm um papel importante na nossa saúde mental.
É fundamental, por exemplo, que você tenha expectativas de ser respeitado num relacionamento. Sem isso, facilmente entraríamos em relações tóxicas e abusivas.
Mais naturalidade e autocompaixão
O equilíbrio de expectativas leva a uma vida autêntica (FOTO: GREG JEANNEAU/UNSPLASH)
A verdade é que raramente a vida sai conforme o planejado. Pois são vários fatores que fazem com que as coisas aconteçam diferente do que esperamos.
Por conta dessas variáveis que nos escapam, Adriana Drulla, especialista em psicologia positiva com foco na compaixão, recomenda tratar a frustração com naturalidade e autocompaixão.
“Pense sobre como você falaria ou encorajaria um amigo querido e fale consigo da mesma forma. Traga para o cenário a autocompaixão”, diz.
Prepare-se com pequenas doses de pessimismo
Pequenas doses de pessimismo podem servir como um colchão que amortiza a queda, diante do nosso extremo otimismo e até narcisismo.
Quem pega o seu carro e explode com a primeira fechada no trânsito provavelmente tem interiorizado que vive em um mundo onde não existem maus motoristas.
O estoico Marco Aurélio, filósofo e imperador de Roma, recomendava que, ao acordar, você dissesse a si mesmo: “hoje vou encontrar um intrometido, um mal-agradecido, um insolente, um astucioso, um invejoso, um avaro”.
Você provavelmente não tem a exposição de um imperador e não precisará lidar com esses seis perfis… Porém nunca se sabe. Saia preparado.
Como lidar com as expectativas dos outros
Como se não bastasse toda a luta com as nossas próprias expectativas, ainda temos que administrar as que os outros têm sobre nós? Sim.
Porém, esse fardo fica menos pesado se encarado com naturalidade. É normal a nossa tendência em querer corresponder às expectativas do outro.
Adriana Drulla cita uma pesquisa que demonstra que a dor do julgamento alheio ativa circuitos cerebrais similares à dor física. “Nosso cérebro foi formado quando vivíamos em pequenas tribos, onde a sobrevivência dependia da aceitação do grupo.”
Bem… Isso faz muito tempo. Hoje, é impossível agradar a todos e desempenhar de forma excepcional tantos papéis. Portanto, acolha o seu desconforto.
Entenda que o fato dele existir não significa que você seja ruim ou inadequado. “Depois disso, lembre-se que a expectativa do outro é do outro, e não sua. Pergunte-se o que você desejaria para si se não houvesse o desejo externo”, recomenda Adriana.
Quer evitar frustrações? Comunique as suas expectativas
Finalmente, comunique as suas vontades e os seus limites. Faça isso de forma assertiva, porém não reativa ou defensiva.
Expressar seus sentimentos e limitações pode não ser o que o outro esperava em um primeiro momento. Mas, a longo prazo, é o único caminho para um relacionamento saudável.
Como viver é sempre com o outro, na última instância estoica, essa é a grande arte: o equilíbrio entre as minhas, as suas e as nossas expectativas.
Eis o caminho para a vida autêntica. A única que vale a pena.
Você pode gostar de
– O melhor ainda está por vir
– O que fazer quando as expectativas são quebradas?
– Expectativa: como criamos. Por Eugenio Mussak
MARGOT CARDOSO é jornalista, mestre em filosofia e colunista do portal Vida Simples. Recorre aos grandes pensadores para também lidar com suas expectativas.
Conteúdo publicado originalmente na Edição 239 da Vida Simples
Os comentários são exclusivos para assinantes da Vida Simples.
Já é assinante? Faça login