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O impacto da menopausa na saúde mental que quase ninguém fala
Jad Limcaco Jad Limcaco
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O período do climatério – que culmina na menopausa (a última menstruação de uma mulher) – é conhecido pelas ondas de calor (fogachos), sudorese, calafrios, insônia e fadiga. Os sintomas físicos são bastante conhecidos, embora a relação entre eles e a saúde mental não tenha uma abordagem tão clara nos consultórios médicos. Soma-se ainda ao preconceito e etarismo direcionado às mulheres, além de políticas públicas pouco eficientes na área.

Isso incomoda a educadora física Márcia Selister, que percebeu as poucas informações de qualidade disponíveis sobre o tema. A preocupação sobre o climatério surgiu em uma conversa com amigas que despertaram o alerta: é preciso se cuidar e buscar ajuda profissional. “Havia poucas informações, cheias de mitos e tabus, além de erradas”, diz. Foi quando fez uma pesquisa informal com 200 mulheres – durante a pandemia – e descobriu que a principal queixa é a falta de informação sobre o tema.

“Nós temos hoje um manual de informação sobre o climatério e a menopausa, mas médicas ginecologistas com quem eu conversava não sabiam que ele existia”, explica. Além disso, o documento se encontra desatualizado e o atendimento disponível no SUS é insuficiente. Como ela explica, não há reposição hormonal para as mulheres via sistema público de saúde.

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O estigma da menopausa

Há ciclos importantes na vida de uma mulher ou pessoa que menstrua. A menarca marca o período da puberdade e é a primeira menstruação, que traz junto uma série de mudanças no corpo, da adolescência para a vida adulta. Já a menopausa é a linha de chegada. Finaliza o ciclo. Mas a diferença social entre ambas não permite comparações. Há um estigma ainda difícil de ser enfrentado nas mulheres que convivem com o climatério.

“A sociedade entende a menopausa como o fim da vida, da capacidade reprodutiva e das habilidades laborais”, explica a médica ginecologista Beatriz Tupinambá. “Imagina você estar no auge da sua produtividade no trabalho, e aí cai o rendimento, você trabalha menos, fica menos produtiva, o raciocínio já é mais pesado”, explica. É por isso que há um temor em envelhecer e, ainda mais, em passar pela menopausa. Você ganha uma placa imaginária de “fim da linha”, como se não fosse capaz de nada depois disso.

Foi preocupada com esse discurso que Márcia Selister fundou o movimento Menopausa Sem Vergonha, que nasceu com o objetivo de desmistificar o tema. “Por causa desse preconceito em relação à menopausa, as mulheres não falam porque sentem vergonha”, diz. O projeto se divide em um espetáculo teatral, além de palestras com especialistas convidadas e, ainda, diálogos com o poder público para que existam políticas efetivas. “O que a gente precisa é de escuta, informação e acolhimento”.

Recentemente, Selister firmou apoio com um grupo de mulheres vereadoras na Câmara Municipal de Porto Alegre para realizar audiências e propor iniciativas no âmbito municipal para pessoas no climatério e menopausa. Além disso, este ano atuará nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) com o espetáculo e rodas de conversa.

Sintomas físicos da menopausa afetam a saúde mental?

Há alterações significativas na saúde mental das mulheres, especialmente com a diminuição na produção de estrogênio e progesterona, conhecidos como hormônios neuroprotetores. “Temos um raciocínio mais rápido quando estamos com estrogênio ajustado, além de que a nossa memória funciona melhor”, explica Beatriz Tupinambá. “A diminuição dos níveis estrogênicos pode afetar sim a função cognitiva e leva a lapsos de memória e dificuldade de concentração”, completa.

Durante o climatério, é comum que as mulheres sintam:

  • Alterações no humor;
  • Impaciência;
  • Irritabilidade;
  • Sensação de estar em uma TPM prolongada.

Isso ocorre pelas variações hormonais, que acendem uma alerta para a reposição que esteja em acordo com um acompanhamento médico. Caso isso não ocorra, é provável que existam outros sintomas, como a insônia. “Quando a mulher não dorme, isso é causado principalmente com o declínio da produção da progesterona”, explica Tupinambá. Pode haver interrupções no sono ou uma sensação de cansaço frequente: o sono não se torna reparador. 

Outro fenômeno são os fogachos, também conhecidos como ondas de calor, e muito comuns na menopausa. “No momento do fogacho há uma vasodilatação periférica muito intensa e com isso há uma vasoconstricção cerebral“, explica a médica. Isto é, há um alargamento dos vasos sanguíneos devido à regulação inadequada da temperatura corporal. Por isso, há um aumento do fluxo sanguíneo, o que provoca o calor. Ao mesmo tempo, os vasos sanguíneos do cérebro podem ter o diâmetro reduzido e gerar tonturas ou dores de cabeça.

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O período exige cuidado e atenção

A médica ginecologista Mabel Tavares enfatiza que o climatério traz mudanças psicológicas, sociais e sexuais. “É um momento de mudanças, no qual a mulher deve olhar para si e estar com ela novamente”, diz. Além disso, explica que os sintomas podem surgir de 3 a 4 anos anos antes do fim do ciclo menstrual. Por isso, é importante buscar um médico especialista para prevenir e iniciar um tratamento ou acompanhamento precoce.

Tavares sugere que, além da ajuda médica, é essencial mudar positivamente os hábitos corporais e alimentares. “Primeiramente, manter uma alimentação balanceada, pobre em alimentos ultraprocessados e realizar atividade física de forma regular”. Isso traz não só benefícios à saúde física, mas também à saúde mental.

Por fim, a médica destaca que o climatério é bastante particular em cada mulher, por isso o tratamento exige um acompanhamento individual. “De acordo com os antecedentes de cada mulher, podemos realizar uso de terapias hormonais e/ou fitoterápicas”, finaliza.

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