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Afinal, como aceitar com naturalidade o envelhecimento feminino?
George Dagerotip
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Cabelos grisalhos, linhas de expressão, rugas são registros do efeito do tempo sobre o corpo das pessoas. Entretanto, nem todos com esses sinais são tratados da mesma forma. Enquanto homens mais velhos são vistos de forma positiva, como símbolos de poder, sabedoria e até atraentes, as mulheres sofrem com a descriminação. O envelhecimento feminino é quase proibido e o corpo e a aparência das mulheres são julgados, apesar de se tratar de um processo natural.

Envelhecimento feminino ainda é um tabu

O machismo e o etarismo são os principais responsáveis por esse cenário. Na sociedade, marcada pelo patriarcalismo, o valor da mulher está restrito à aparência e à jovialidade. Quando o tempo passa e esses aspectos não estão mais dentro do padrão estabelecido, mulheres passam a sofrer ainda mais violências e pressões estéticas.

“Trata-se de uma sociedade machista, patriarcal, onde os homens se autorizam a ditar as leis”, explica Sylvia Loeb psicóloga e cocriadora do movimento Minha Idade Não Me Define. “[Homens] acham que podem ultrapassar qualquer limite em relação à mulher, que é vista como objeto de uso e como tal podem fazer o que quiserem com ela.”

Um exemplo recente, é o caso de Yasmin Brunet. A modelo, que participa da edição 2024 do Big Brother Brasil, foi alvo de comentários de outros participantes sobre o seu corpo e idade. Ela “não era mais a mesma”, pois estava “velha” e “comendo demais”, disseram.

O caso reflete como a sociedade enxerga as mulheres e revela algumas das pressões que elas sofrem. Além da cobrança pelo corpo perfeito, também questionam sua idade. Uma mulher aos 35 anos está longe da idade reconhecida para idosos no Brasil. Mesmo se fosse direcionada para uma mulher acima de 65 anos, a carga pejorativa da palavra “velha” também é discriminatória no contexto em que foi utilizada.

O envelhecimento feminino será o retrato do futuro

A partir da reflexão “E se eu deixasse de pintar o cabelo?”, a jornalista e autora Camila Balthazar iniciou uma jornada para entender por que o cabelo branco era visto como inadequado para mulheres. Essa jornada se tornou o cerne de sua nova obra, “Sem tinta”, lançada pela editora Paraquedas. Em seu livro, Camila explora como a questão vai além da escolha da cor do cabelo. Ao pesquisar sobre padrões de beleza, envelhecimento e história das tinturas, a autora revela que o cabelo grisalho está ligado a questões de gênero, raça, classe social, saúde, feminismo e preconceito relacionado à idade.

O que Camila explora em seu livro representa o etarismo e as pressões estéticas que mulheres maduras sofrem. Entretanto, isso é um cenário contraditório e insustentável. O que as estatísticas mostram é que o Brasil já é um país mais envelhecido e feminino. Segundo o levantamento do Censo de 2022, o número de pessoas com 65 anos ou mais cresceu 57,4% em 12 anos. Além disso, as mulheres são maioria da população, com 51,5% dos habitantes. O Instituto de Geografia e Estatística (IBGE) aponta ainda que, em 2060, o número de idosos vai ultrapassar o de jovens e chegar à porcentagem de 25,5% da população.

Mundialmente, o cenário não é diferente. Desde 2019, de acordo com levantamento da ONU, o número de pessoas com mais de 65 anos é maior que o de crianças. Isso porque as pessoas estão vivendo mais e tendo menos filhos.

Pensar no futuro é uma chance de ressignificar como se olha para a velhice, especialmente, no caso das mulheres. “No Brasil, ‘jovem’ é elogio e ‘velho’ xingamento. Embora não seja, as pessoas enxergam dessa forma”, aponta a escritora e palestrante, Cris Pàz.

Ela indica algumas justificativas para isso. “O velho nos fala da nossa finitude. Ele fala que estamos nos aproximando da morte e não estamos acostumados a lidar com o conceito da morte”, explica. “A gente acredita também que o envelhecimento é deixar de servir a sociedade, deixar de ter uma utilidade.”

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Essa relação utilitária que a sociedade tem com seus membros acaba afastando as pessoas idosas do convívio social. “Nós não nos acostumamos a colocar os mais velhos na convivência. A convivência intergeracional não é uma realidade”, finaliza.

As mulheres podem sofrer ainda mais com isso. “Ao se identificar com esses atributos pejorativos [pouca utilidade, dispensável], a mulher pode se deprimir e em casos mais graves, entrar em estados psicológicos e emocionais muito graves”, aponta Sylvia Loeb.

O envelhecimento feminino é algo natural, o problema está em como as pessoas percebem isso e como lidam com a passagem do tempo. Essa fase pode ser um período de maturidade, busca por novas vivências e quebra de padrões.

“Se eu não quebrasse os paradigmas, os paradigmas me quebravam”, declara Cris Pàz. A fala tem relação com como ela se percebe na sociedade e como ela lida com os padrões. “Essa deve ser a postura da mulher no mundo de hoje. Não se curvar ao machismo, não se curvar ao mundo que quer que todo mundo seja padrão.”

Como redescobrir a vida após os 50 anos

A maturidade também trouxe uma descoberta valiosa para Claudia Arruga, criadora de conteúdo digital. “Sabemos que a grande libertação de se chegar aos 50 anos é constatar que o que importa agora é a nossa opinião.”

Claudia criou o perfil cool50s (legal aos cinquentas) há cinco anos. A intenção era publicar conteúdos que ela e outras mulheres da sua geração se identificassem. Dos anos 80, tendo entrado na casa dos 50, os temas que rondavam seu universo eram estabilidade no trabalho ou mudança de carreira, mais tempo para se cuidar e como passar os próximos anos.

As conversas com as amigas mudaram de tom. Os filhos, já crescidos, não eram mais o assunto principal. “O bacana também é falar sobre filmes, trabalho, novos projetos profissionais, trocas sobre a menopausa e claro, estética”, comenta. “Também trocamos ideias sobre como estamos lidando com os nossos pais, uma experiência complexa e desafiadora.”

Nos comentários do seu perfil, Claudia viu a busca de mulheres por novas vivências nesse período. “Elas estavam buscando um amadurecimento criativo, cheio de experiências que possam substituir a obsessão pela juventude eterna”, declara. “Mulheres que descobriram que ter um repertório interessante pode ser surpreendente e que nos tornam mulheres muito mais poderosa.”

Sobre os padrões e discriminação que as mulheres sofrem, Claudia aponta sobre a importância de olhar para si. “A cobrança em cima das mulheres é como uma gincana onde você não vence nunca. Cada dia se colocam mais e mais obstáculos. Eu escolhi colocar o meu [foco] nas novas experiências que quero ter”, comenta.

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