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Etarismo e “age shaming”: entenda o preconceito relacionado à idade
Katarzyna Grabowska
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Você já ouvir falar em etarismo, idadismo, velhofobia e gerascofobia? Estes termos são utilizados para explicar o preconceito na sociedade quando o assunto é idade e faixa etária. Enquanto os jovens convivem com uma necessidade urgente de demonstrar maturidade e serem responsáveis, adultos presenciam o conflito que é receber questionamentos por estar “ultrapassado” ou pouco útil a certas tarefas. É por isso que, embora o age shaming – conceito em inglês que resume a “vergonha de envelhecer” -, receba estímulos diários, há também uma pressão para viver a juventude a partir de um certo padrão.

Mesmo que o etarismo afete diferentes grupos sociais, é comum que ele exista em maior intensidade nos grupos minorizados. “Embora possamos sofrer este preconceito em qualquer idade, ele nos atinge mais fortemente na velhice”, explica Fran Winandy, escritora, conselheira em ESG e Diversidade Etária. E não é difícil comprovar.

Segundo Winandy, um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que a cada dois idosos, um sofre discriminação pela idade.

Ela lembra que a presença do age shaming deriva de um conceito conhecido como lookismo. O termo sugere que há uma postura de segregação e tem origem na aparência das pessoas. Por isso, é comum que, no mercado de trabalho, as pessoas tentem disfarçar seus traços de envelhecimento. “A ideia é parecer mais jovem e evitar associações aos estereótipos que se relacionam ao envelhecimento para que as oportunidades de emprego e desenvolvimento profissional não sofram prejuízos”, destaca Fran Winandy.

Por que o etarismo é um problema?

O etarismo é uma via que atua em diferentes frentes, seja com a velhofobia ou na pressão durante a juventude. “Nos relacionamentos, a pressão social para que os jovens atinjam certos marcos em suas vidas, como casar e ter filhos, pode criar expectativas injustas e resultar em julgamentos por parte do entorno”, explica Jhenyffer Coutinho, CEO da Plure. Além disso, ela destaca ser comum pessoas jovens serem vistas com menor seriedade ou com baixas competências por causa da idade.

“Para os adultos mais maduros, após os 40 anos, a meia-idade é muitas vezes vista como um período em que as pessoas deveriam estar no auge de suas carreiras”, acrescenta a especialista. Ela, que coordena uma plataforma de vagas exclusivas para mulheres, acrescenta que é frequente as pessoas acima de 50 anos receberem pouca valorização das empresas nos processos de contratação ou, quando empregadas, são inseridas em programas de aposentadoria compulsória.

Os principais estereótipos

Às vezes, mesmo que com boas intenções, costumamos reproduzir valores e expressões etaristas. “Fazemos piadas sobre velhos e somos etaristas em nossos elogios com as pessoas”, afirma Fran Winandy.  Dizer “como ela está bem para a idade, que mulher bem conservada”, revela, na verdade, uma repulsa à velhice. “Achamos incrível quando alguém mais velho tem desenvoltura com tecnologia e estranhamos relacionamentos amorosos entre pessoas de faixas etárias diferentes, procurando um motivo que o justifique”, explica a escritora.

Winandy, que escreveu o livro Etarismo, um novo nome para um velho preconceito (Matrix Editora), destaca que a velhice é heterogênea e diversa, embora a tendência é que seja vista como um padrão. Há ainda, diversos estereótipos que representam estigmas que se relacionam com a idade da pessoa, como:

  1. Falta de credibilidade em pessoas jovens;
  2. Pessoas na faixa dos 18 aos 29 podem receber rótulos de imaturas, instáveis e superficiais;
  3. Idosos e adultos costumam receber estereótipos de teimosos, pouco atualizados, lentos ou incomodados;
  4. A beleza e a juventude têm relação com padrões de sucesso e, por causa disso, provocam pressões estéticas.

Uma sociedade sem etarismo é possível?

O cenário não é favorável ao fim do etarismo, da velhofobia ou age shaming. As propagandas publicitárias, procedimentos estéticos e cirurgias que se popularizam, como a harmonização facial, representam desdobramentos desse cenário. Na década de 1990, as modelos super magras que estampavam a capa de revistas provocaram, em muitas mulheres, uma vergonha e rejeição ao corpo gordo.

Além disso, os efeitos vão desde impactos simples, como a internalização da necessidade de pintar o cabelo ou comprar produtos que rejuvenesçam a pele, até questões mais graves. Os transtornos alimentares, como anorexia e bulima, decorrem de pressões estéticas e corporais.

Para Jhenyffer Coutinho, combater esse estigma passa por promover maior conscientização social e incentivo à uma cultura do respeito. “Isso pode partir de políticas antidiscriminatórias, educação pública e mudanças nas atitudes sociais”, destaca. “Além disso, é importante encorajar conversas abertas sobre envelhecimento, autoestima e aceitação de si mesmo para que as pessoas se sintam valorizadas, independentemente de sua idade”, conclui.

Juntos, podemos trabalhar para superar a “vergonha de envelhecer” e celebrar a diversidade etária, reconhecendo que cada fase da vida tem seu próprio valor e beleza.

É o que também avalia a especialista Fran Winandy. “Uma maior conscientização social permitiria uma redução da associação da aparência de velhice a percepções de obsolescência e desatualização. Além disso, reduziria nas pessoas a vergonha de envelhecer“, sugere. Por isso, ela propõe que existam conteúdos educativos que mostrem o envelhecimento como um fenômeno natural da vida.

5 coisas que você pode fazer hoje mesmo para deixar o etarismo de lado

Em um mundo onde o etarismo ainda se enraíza em nossas atitudes e sociedade, é essencial lembrar que a mudança começa com a conscientização e a ação. Veja o que você pode fazer:

  1. Eduque-se e promova a conscientização: Aprenda sobre o etarismo e seus impactos para poder identificar e combater atitudes preconceituosas. Compartilhe esse conhecimento com os outros para promover uma maior conscientização sobre o tema.
  2. Desafie estereótipos: Não perpetue estereótipos relacionados à idade. Evite fazer comentários baseados na idade de alguém e esteja ciente de como palavras e piadas podem perpetuar o etarismo.
  3. Promova a inclusão intergeracional: Encoraje interações entre pessoas de diferentes faixas etárias. Isso ajuda a quebrar barreiras e a construir conexões mais fortes entre as gerações.
  4. Defenda políticas antidiscriminatórias: Apoie e participe de iniciativas que buscam combater o etarismo, como políticas que promovem igualdade de oportunidades e respeito para todas as idades.
  5. Cultive a autoaceitação e a autoestima: Ajude as pessoas a se sentirem valorizadas independentemente de sua idade. Isso pode ser feito promovendo conversas abertas sobre envelhecimento, autoestima e aceitação de si mesmo, incentivando uma mentalidade positiva em relação ao envelhecimento.

Desafiando estereótipos, promovendo inclusão intergeracional, defendendo políticas antidiscriminatórias e cultivando a autoaceitação, podemos criar um ambiente mais acolhedor e respeitoso para todas as idades.

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