A comida como identidade brasileira
Série ‘História da alimentação no Brasil’ mostra como os alimentos que compõem os pratos do dia a dia caracterizam nosso entendimento como povo
Série ‘História da alimentação no Brasil’ mostra como os alimentos que compõem os pratos do dia a dia caracterizam nosso entendimento como povo
Nos últimos meses, observar o conteúdo postado nas redes sociais é quase como estar diante da vitrine de uma padaria: se resume, principalmente, em comida. Bolos e pães são as grandes estrelas. É reflexo do tempo que estamos confinados em casa devido a quarentena imposta pelo novo coronavírus. Ao não poder sair para as ruas e encontrar pessoas queridas para um abraço, o tédio, a energia acumulada, a criatividade enclausurada e a carência de afeto presencial tornaram-se ingredientes da cozinha. É a geração dos chefes da quarentena.
“Que nesse momento de não estar fora, na rua, com os outros, a cozinha seja um lugar de encontro precioso com a gente mesmo. Independentemente do que você decidir preparar. O cardápio não importa. O que vale, de verdade, é que tudo isso seja feito com presença, a sua presença”, escreveu Ana Holanda no texto ‘Cozinhar para escutar’ , disponível em sua coluna no site de Vida Simples.
Pensar em comer é pensar, muitas vezes, na história pessoal – almoços de domingos com a mesa farta (de gente e de alimento), receitas passadas de geração para geração, aromas únicos. Mas os ingredientes comuns, que cumprem muito bem a função de nutrir e são base de diversos pratos nacionais, servem também para nos caracterizar enquanto povo. Recontar a trajetória e os costumes dessas comidas é a proposta da série ‘História da alimentação no Brasil’, disponível na Amazon Prime, e baseada no livro homônimo de Luís da Câmara Cascudo, de 1967.
Nação comestível
Ao longo de 13 episódios, sociólogos, pesquisadores, cozinheiros, comerciantes, entre outros, explicam quem somos nós. Intitulada Rainha do Brasil, a farinha de mandioca estrela o primeiro vídeo. Milho, banana e leite de coco também estão entre os produtos retratados. São pratos que matam a fome de muita gente, seja lá qual for a classe social.
No segundo episódio, ‘Verde milho, milho verde’, o sociólogo Carlos Alberto Dória faz um apontamento sobre o milho, mas, ao meu ver, poderia ser utilizado para compreender a força que os alimentos tratados têm. De acordo com ele, a contribuição não se dá no plano do inventário culinário, mas da elaboração da tese nacionalista. Uma nação precisa de uma culinária, assim como de uma literatura. É para construir a ideia de nação comestível.
Assistir aos episódios de vinte e tantos minutos de ‘História da Alimentação no Brasil’ é uma aula de geografia, de história, de sociologia, de arte e de culinária. É uma série sobre trocas, sobre afeto, sobre conexão – com o outro e com a terra.
Nesta quarentena, eu também me tornei um chefe. Minha especialidade são os bolos, daqueles que pedem um cafezinho coado para acompanhar. Nem sempre saem incríveis, é verdade. Mas, ao separar os ingredientes e sentir o perfume que fica no meu lar, me lembro, quase que instantaneamente da minha avó e mãe. Já vale a experiência.
Ao término do segundo episódio, logo após entender a beleza da farinha de milho, uma certeza: essa semana terá bolo de fubá.
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