Tem dificuldade em pedir ajuda? Veja como superar isso
Você pode pedir ajuda: ter pessoas com quem contar de verdade nos direciona por um caminho de partilha, acolhimento e leveza
“Oi, como posso te ajudar?”
Você já deve ter escutado essa pergunta algumas vezes ao longo da vida, seja no supermercado, em alguma loja, na fila do banco ou em qualquer outro lugar semelhante.
Quando a ouço, me sinto um pouco acolhida, às vezes me acanho e, em alguns momentos, já me peguei pensando em como seria bom se também existisse esse tipo de atendimento para a nossa vida e nossas emoções.
Imagine só se, nos dias cheios de tarefas acumuladas pela falta de tempo, surgisse alguém para desafogar a nossa rotina?
Sobre a dificuldade em solicitar ajuda
Não sei como é para você. Mas, para mim, pedir ajuda sempre foi algo complicado. Já recebi muitos “nãos” e adquiri, por meio deles, uma tendência a tentar resolver tudo sozinha por receio de incomodar.
Também gosto de ter um mínimo controle sobre a minha vida e, por isso, prefiro lidar com tudo da minha maneira, como se essa fosse a única garantia de que as coisas sairão da melhor forma.
Assim, muitas vezes acabo acumulando tarefas e despertando em mim um certo desespero, misturado a um nervosismo quase paralisante.
Ao mesmo tempo, também sou aquela pessoa que está sempre pronta para buscar soluções para os problemas ou angústias dos outros.
Se você chegar perto de mim agora me contando alguma dificuldade sua, tenha certeza: eu vou tentar resolver.
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Medo e necessidade de controle nos impedem de pedir ajuda
A psicanalista Waleska Silva me explicou que essa falta de habilidade em pedir ajuda não vem só da necessidade de controlar tudo, mas também do medo: do julgamento e de expor a nossa própria vulnerabilidade.
Segundo ela, esses receios nos trazem a crença de sermos uma potência, capazes de resolver tudo sozinhos sem precisar de ninguém. E sabemos que, na prática, não é assim.
“Muitas vezes não queremos admitir que algo não vai bem, não queremos sentir dor, não queremos encarar o que nos faz sofrer”, pontuou.
E, convenhamos: a partir do momento em que pedimos socorro, estamos assumindo as nossas fragilidades em voz alta para os outros e, consequentemente, para nós mesmos.
É preciso coragem para pedir ajuda
Essa colocação da Waleska me lembrou uma passagem do livro Talvez Você Deva Conversar com Alguém (Vestígio), da escritora e psicoterapeuta americana Lori Gottlieb.
Ela diz: “Quanto mais você acolhe sua vulnerabilidade, menos medo sente“. No entanto, somos criados em uma sociedade em que não há muito espaço para esse acolhimento.
Algumas vezes, nossa fragilidade é confundida com incapacidade ou fraqueza, ainda mais quando o assunto gira em torno das mulheres. Somos cobradas o tempo todo a dar conta de tudo, como se fosse obrigação cumprir tudo sozinhas.
“Também acontece de muitas de nós pedirem ajuda e receberem o não como devolutiva. E isso vai criando uma casca, uma barreira que nos fortalece, mas também nos isola”, afirmou Fabiana Azevedo, professora de yoga e facilitadora de conversas em grupos de mulheres.
Fabiana me contou que, principalmente entre as mães, a falta de apoio e o excesso de cobranças se tornam grandes motivadores de uma trajetória mais solitária.
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Pedir ajuda requer maturidade emocional
ESCREVA “EU PRECISO DE AJUDA PARA: _______”; E COMPARTILHE NAS REDES COM A HASHTAG #REVISTAVIDASIMPLES
Enquanto isso, entre os homens, a grande dificuldade parece ser pedir ajuda para lidar com suas emoções: afinal, desde cedo os garotos são desestimulados a mostrar suas fragilidades.
Mas meninos – e homens – também choram e sentem. E a força também mora na fragilidade que já comentamos aqui.
Aos poucos, o entendimento de que todos nós precisamos de ajuda – seja emocionalmente ou mesmo com tarefas do dia a dia – abre caminhos para exercitarmos a nossa capacidade de delegar, de distribuir e de somar nossas forças àquelas de quem partilha o caminho com a gente.
Não falo aqui de sobrecarregar outras pessoas com os nossos problemas, mas sobre um aprendizado de que eles podem, sim, ser compartilhados, nos trazendo um pouco de alívio.
Com quem você pode contar?
Nessa caminhada, também vamos encontrando aquelas pessoas com as quais podemos contar de verdade. E saber quem elas são é importante para quebrarmos as barreiras que travam a nossa busca por ajuda.
Seja um familiar, um amigo ou até mesmo um profissional, ter ao nosso lado pessoas empáticas e acolhedoras facilita a abertura à partilha.
“Se não dividimos o que sentimos, as emoções ficam dentro de nós, paradas, represadas, gerando angústias e pesando no físico e no emocional. Chega uma hora que o corpo e a mente não aguentam”, explicou Waleska.
Também é importante lembrar que nossas expectativas interferem nessa questão que chamo de “ajuda de qualidade”, que nada mais é que a ajuda genuína, equilibrada, sem pedir nem exigir nada em troca.
Estar presente é trabalhar pela ajuda de qualidade
Quem está ao nosso lado vai nos auxiliar como consegue, como pode, e não da forma como desejamos ou imaginamos. Mas o simples fato de existir o diálogo, a proximidade e o acolhimento em forma de um “ei, estou aqui com você” já torna as coisas mais leves.
“Existem dores que, quando partilhadas, deixam de doer na mesma intensidade de antes, deixam de pesar e apertar o peito. E podem até levar mais tempo para nos deixar, mas, ao saber que temos alguém caminhando ao nosso lado, nos ouvindo, entendemos o quão importante é pedir ajuda sempre que necessário”, completou Waleska.
Exercer a empatia, a compaixão e a escuta pode não trazer a solução para todos os nossos problemas. Mas nos ajuda a recordar que, como seres humanos, convivendo em um mesmo espaço de tempo, estamos aqui para contribuir e partilhar nossa caminhada uns com os outros.
Da mesma forma com que construímos nossa trajetória sozinhos, também podemos aprender a seguir mais leves, acompanhados da delicadeza de quem enxerga nosso coração com ternura.
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DÉBORA GOMES está aprendendo a pedir socorro. E tem hoje uma pequena rede de apoio, composta por pessoas que a ajudam a sorrir depois de um dia difícil.
Conteúdo publicado originalmente na Edição 245 da Vida Simples
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