A autoestima é uma característica comum aos seres humanos e por isso está presente em todos os nossos comportamentos e, principalmente, relacionamentos. Essa autopercepção é individual e impacta, diretamente, a forma com que enxergamos as interações com outras pessoas.
A partir dessa percepção de nós mesmos, quem sabe impor limites e se auto-valorizar tem o caminho facilitado para construir e manter relacionamentos saudáveis com colegas de trabalho, amigos, familiares e até mesmo nas parcerias afetivo-sexuais.
O que é autoestima?
Muito além de se olhar no espelho e se achar atraente, a autoestima é a forma na qual nos enxergamos em todos os ramos da nossa vida. “A autoestima é a percepção de si mesmo, seja fisicamente, psicologicamente, seus gostos, seus feitos, sua capacidade de autorreconhecimento, a forma que você acolhe sua história”, explica Cleonice Gomes, psicóloga e psicanalista com foco em traumas e relacionamento.
Segundo a psicanalista, essa percepção afeta todas as esferas da vida de todas as pessoas: as relações que a gente escolhe, o quanto nós sustentamos nossos desejos, nossa segurança, nosso consumo, nossa carência e como lidamos com nossos sentimentos.
Apesar de parecer um assunto simples, é complexo, profundo e dependente da jornada de cada um. “Autoestima começa na infância. A família tem um papel importante nas primeiras compreensões que um bebê tem sobre como se relacionar consigo mesmo e com o mundo. Essa autoestima é moldada pelas experiências, referências e escolhas que você vai fazendo ao longo da vida”, diz Cleonice.
Gostar de si é conseguir, também, acolher os seus defeitos, segundo Adele Feltrin, psicóloga clínica e especialista em saúde da mulher pela PUC Campinas (SP). “Quando você tem uma boa autoestima, é como se você olhasse no espelho e dissesse: ‘ok, eu tenho imperfeições, mas tudo bem, eu sou suficiente do jeito que sou, eu me amo, respeito minhas necessidades, meus limites e meus desejos’”, explica.
Autoestima impacta nossos relacionamentos
Nos relacionamentos, a autoestima influencia como aceitamos ser tratados e em que momentos colocamos nossos limites. “Se você se sente seguro sobre si mesmo, vai ter menos medo de mostrar suas vulnerabilidades e necessidades, além de conseguir amar o outro de forma mais livre e genuína”, aponta Adele.
Conforme a psicóloga, quando temos uma visão negativa de nós mesmos, nos apoiamos a outras pessoas para nos sentir válidos, o que afeta a dinâmica da relação, e pode gerar ciúmes ou dependência emocional.
“Dentro da família, ou com amigos, a autoestima tem o poder de moldar o quanto você se sente confortável em ser você mesmo. Se você se valoriza, é mais fácil dizer “não” quando necessário ou afirmar suas escolhas, mesmo que não agradem a todos”, aponta Adele. Por outro lado, a baixa autoestima pode gerar medo de não ser bom o suficiente para amigos ou familiares, aceitando comportamentos ou situações degradantes.
Ciúmes e desconfiança podem ser frutos da autoestima baixa
É preciso haver confiança para manter qualquer tipo de relacionamento saudável. Em relacionamentos afetivo-sexuais, esse fator é ainda mais importante para a construção de uma relação profunda, íntima e duradoura.
“Sem autoestima, a relação se torna terreno fértil para inseguranças, ciúmes, brigas. Como a percepção de si é negativa, a pessoa pode ser vítima de negligências e violências que acabam sendo toleradas. O medo e a crença de incapacidade também tornam a pessoa suscetível a manter relações abusivas”, aponta Cleonice.
A psicanalista também sinaliza que nenhuma relação é perfeita, mas enquanto algumas pessoas ajudam a nos “curar” e construir uma nova história, outras podem usar a baixa autoestima do parceiro a seu favor, reafirmando crenças relacionadas a essa autopercepção e alimentando a relação abusiva.
Dessa forma, pessoas com baixa autoestima, além de possíveis vítimas em um relacionamento abusivo, também podem se tornar abusivas. Muitas vezes, podem projetar suas inseguranças, medos e frustrações no parceiro como forma de lidar com suas próprias dificuldades emocionais.
“Esse comportamento pode incluir controle excessivo, críticas constantes ou tentativas de rebaixar o outro para se sentir mais no controle ou superior. Isso não justifica o abuso, mas ajuda a entender como a baixa autoestima pode contribuir para dinâmicas tóxicas, tanto sensibilizando alguém a ser vítima, quanto a se tornar um abusador”, explica Cleonice.
A autoestima no trabalho
A autoestima está intimamente relacionada com outro conceito que é a autoeficácia. Assim explica a psicóloga e docente da Universidade Cruzeiro do Sul, Cláudia Aparecida Valasek.
“A autoeficácia é entendida como a crença em nossa própria capacidade. Se uma pessoa tem sua autoestima baixa, poderá sentir-se insegura e demonstrar dificuldade de comunicar-se”, aponta a professora.
Dessa forma, a autoestima afeta a autoeficácia das pessoas trabalhadoras, o que interfere na qualidade das relações no trabalho, na produtividade e na capacidade de tomar decisões.
“Já uma pessoa com boa autoestima se sente mais segura em relação a suas habilidades e tende a se comunicar melhor e se expor mais ao desenvolvimento profissional, lidando de forma mais branda com o risco de falhas”, complementa Cleonice Gomes.
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Se priorizar não é o mesmo que ser egoísta
“Se eu tenho uma relação saudável comigo, eu não vou aceitar ter uma relação disfuncional com outra pessoa”, explica Isabela Ostorero, psicóloga especialista em autoestima.
Para a profissional, esse é o ponto-chave para entender que priorizar-se e buscar a autossuficiência é diferente de ser uma pessoa egoísta. “Uma pessoa egoísta só vai pensar nela, nem que isso custe a saúde mental ou física de outra pessoa. Quando a gente está falando de alguém que preza pelo próprio bem-estar emocional, ela não faz isso em detrimento do bem-estar emocional de outra pessoa”, explica.
Uma autoestima saudável, então, nos ajuda a saber quais são os tipos de pessoas que queremos ter na nossa vida e quais são os tipos de relações que aceitamos ter, sem prejudicar intencionalmente outras pessoas no processo.
Como ter mais autoestima
Apesar das dificuldades que uma autoestima baixa resulta em nossa vivência com outras pessoas, é possível reverter essa situação. “A autoestima é aprendida. Ou seja, eu posso reaprender a forma de me enxergar”, diz Isabela.
A psicóloga conta que, durante seu próprio processo terapêutico, conseguiu melhorar a sua autoestima, e hoje pratica a técnica com seus pacientes. “Quando a gente fala de lidar com a mente, o processo terapêutico é muito essencial, porque ele vai te ajudar a identificar esses pontos, reestruturar, e entender a forma que você pensa, sente e se observa”, explica.
Além da terapia, a psicologa dá algumas dicas práticas de reflexão para se fazer no dia a dia. “Melhore no que você pode, mas foque no que você é bom. Não se concentre apenas nas áreas em que não domina. O autoconhecimento é essencial para que você saiba em quais habilidades se destaca”, aponta.
Ela também destaca a importância de não se comparar com os outros. “Quando a comparação vem acompanhada de admiração, é diferente, pois você leva em consideração suas próprias visões e contexto. É importante respeitar sua realidade e não se medir pelos padrões alheios”.
“Por fim, observe os pensamentos que tem sobre si mesma. Você costuma falar coisas boas ou ruins para si? O que você diz para si mesma, você diria para sua melhor amiga? Você merece gentileza e autocuidado, afinal, é a pessoa com quem mais vai conviver”, ressalta a psicóloga.
Isabela reforça que ter uma baixa autoestima não é uma sentença de vida, e nem determina que todos os seus relacionamentos serão ruins. Mas, para uma vida e uma convivência mais saudável, trabalhar a autopercepção é essencial.
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