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“Será que não dá para eu me esforçar um pouco mais para me sentir mais adaptada?”
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Queridos leitores, para quem não acompanha esta coluna desde o começo, refaço o convite: a ideia é que possamos nos comunicar a partir de cartas. Mandem suas questões e pautas por e-mail para que possamos tornar esse canal dinâmico e conectado.

Essa semana me apareceram algumas questões que, na verdade, convergem para um mesmo ponto. Um pessoa teve um ataque de raiva. Ficou, claro, mal, sentindo-se exposta. Iniciou a reflexão cogitando intervenção química para calar o risco disso se repetir. Outra pessoa está com dificuldades para ir ao trabalho, cogitou intervenção química para ter vontade de ir ao trabalho e para suportar as humilhações do chefe, calada. Ambas questionam: será que não dá para eu me esforçar um pouco mais para me sentir mais adaptada? Será que preciso ficar chapada para suportar o peso da vida normal, que não me cabe e que me parece tão difícil?

Acho interessante como esse mundo nos convoca a iniciar uma reflexão sempre partindo da ideia de que a gente deveria ampliar nossos limites. Ao invés de ler esses dois acontecimentos como um sinal de que limites foram ultrapassados e de que novas barreiras de segurança devem ser criadas, a primeira hipótese que se cria é a de que, mesmo à custa de me chapar, devo responder às expectativas do outro.

Interessante porque o caso é justamente outro, esse tipo de acontecimento aparece para deixar a gente no equilíbrio. Episódios de explosão ou de implosão são buscas de homeostase. Eles vêm para nos “desenhar” que passamos do nosso limite.

Nossa cultura vende que, para esses casos, devemos lançar mão de um “sem número” de estratégias para ampliar nossos limites e nos fazer ser mais adaptados, mais normais, mais competitivos. Ledo engano.

Por isso muita gente depende de remédio para tocar o dia a dia. Adultos e, consequentemente, “suas crianças” se convencem de um exercício sem fim para cumprir expectativas e deixam de olhar para seus próprios limites. Esquecem seus valores e os lugares que de fato fazem sentido. Essa desconexão, claro, é um projeto que serve a um propósito: corpos dóceis e domesticados, servis ao capital e à lógica da violência e que tendem a perpetuar essa desconexão.

Daí ao apoio ao discurso de ódio é um pulo. Porque quanto mais me desconecto da minha humanidade, mais a humanidade do outro não conversa comigo.

Retomar os limites é pacificador, é um ato de amor próprio e, consequentemente, amor ao mundo. Dizer não para esse apelo de “não ter limites” é um exercício fundamental de liberdade e autonomia.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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