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O egoísmo é mesmo um vilão?
Giulia Bertelli | Unsplash
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Precisamos parar de dizer que cuidar de si e se olhar com mais zelo e cuidado se trata de egoísmo. Em qualquer relação, amor próprio é essencial

 

Existe uma desculpa muito comum para permanecermos em quaisquer relações tóxicas – ou seja – em situações que nos fazem mal. 

Na maioria, todos desejamos ser pessoas melhores (alguns de nós se vêem como verdadeiros cometas incríveis, mas me parece que esses não estão lendo essa coluna). 

Por causa disso, estamos sempre nos olhando, repensando e procurando entender melhor quais nossas motivações, quais os fundamentos de nossos atos, quais nossos desejos, para onde vamos seguir.

Desde crianças somos ensinados que, para viver em sociedade, não dá para as coisas serem somente do nosso jeito; é preciso aprender a negociar.

Fundamento da democracia, e isso é lindo! Só que, para negociarmos, é necessário que todas as dimensões envolvidas em determinada situação estejam claras. 

E isso é impossível. Interesses escusos também participam das negociações afetivas, porque nem sempre sabemos ao certo quem somos e menos ainda para onde desejamos ir, porque ambos estão sempre atrelados ao momento em que estamos.

Um conceito muito comum exportado como balizador das relações sociais  é o egoísmo. Parece simples: se estou me tomando como referência a despeito de outrem, é porque estou no caminho errado.

Será? Claro que um amor próprio que submete o outro numa relação de poder cria sofrimento, mas isso não tem a ver com excesso de amor próprio, e sim com a manutenção da relação de poder como dispositivo de controle de determinada relação.

Se me disponho a me relacionar com o outro entendendo a verdade dele como valendo tanto quanto a minha, porém sem ser numa competição e submissão, seria isso ainda egoísmo? 

Entender o egoísmo como algo necessariamente ruim e conectado com submissão é o mesmo que entender altruísmo como algo necessariamente bom e conectado com o servir. São duas confusões. Priorizar-se não é egoísmo. Nem mesquinharia. 

Eu adoro aquela metáfora tirada das normas de segurança de um avião em voo: em caso de despressurização da cabine, quando as máscaras de oxigênio caírem, coloque primeiro a sua e só depois que ela estiver funcionando bem, você poderá ajudar quem está ao seu lado. E não, não é permitido levantar-se para ajudar alguém que está morrendo no outro corredor, infelizmente. 

Duro, mas preciso. O elogio ao altruísmo nos desconecta. Pensar que é egoísta todo priorizar auto-referente é armadilha do mundo-capital.

Só tendo uma referência mais clara possível de mim mesmo posso partir para qualquer negociação respeitosa e digna com o mundo. E isso não é egoísmo, é maturidade.


Myrna Coelho é psicóloga clínica, professora e doutora pela USP. Decidiu recomeçar a vida do outro lado do oceano, onde segue atendendo seus pacientes e dando supervisão online. Por aqui, semanalmente, reflete sobre como podemos viver com mais liberdade de ser. Mande sua mensagem para: [email protected].

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