SXSW é uma imersão no futuro
Uma viagem ao SXSW é o encontro com pessoas que querem mudar o mundo e inspiração garantida
Fui ao festival SXSW – South by Southwest- que acontece há mais de 30 anos na cidade de Austin, no Texas. Enquanto para muitos participar deste evento é realizar um sonho, confesso envergonhada que duas semanas antes de ir, eu nem sabia que ele existia.
É o destino obrigatório para quem quer ver o futuro antes de ele chegar, já que ele é considerado o maior festival de inovação, futurismo e tecnologia do mundo. É possível ver a criatividade das grandes empresas em prática, sessões de brainstorm ativas e lançamentos de campanhas.
São mais de 42 mil participantes representando mais de 110 países em mais de 4900 sessões e eventos!
Os palestrantes são nomes relevantes do mercado mundial em 25 trilhas de conteúdos, como: economia criativa, saúde mental, medicina e psicodélicos, energia limpa, comida, mudanças climáticas, metaverso, inteligência artificial, o futuro do trabalho, shows de música, lançamentos de filmes, workshops, painéis, etc.
A palavra mais presente nos grupos que se formam no WhatsApp com centenas de pessoas que vão é: F.O.M.O – o medo de não conseguir acompanhar as atualizações e eventos. É muita coisa ao mesmo tempo. Eu mesma que antes nem sabia de nada disso, fiquei muito ansiosa! Muitas palestras interessantes ao mesmo tempo, com ativações, e muita coisa acontecendo.
Transformação do mundo
Como me multiplicar para não perder nada? Pego anotações dos outros que viram o que eu não vi? Deve ser o jeito.
O SXSW é um encontro de pessoas que estão com vontade de transformar o mundo e que querem aprender, sair da zona de conforto. E esse foi meu foco: sair da minha bolha! Aprender e me inspirar com assuntos e pessoas fora do meu lugar de conhecimento.
Recebi uma dica de um amigo que já era veterano em SXSW: “escolha 4 palestras por dia e permita-se ter tempo livre para o inesperado.” O “flow” é o Universo agindo a seu favor. E assim eu fiz.
Assisti Amy Webb trazendo as tendências futuristas e nem tanto otimistas, fui também a um evento com Simran Jeet Singh, autor do best-seller The Light We Give, numa palestra emocionante de abertura falando sobre empatia e otimismo.
Na trilha saúde mental e psicodélicos, veio Paul Stamets, estudioso e produtor de cogumelos psicodélicos, autor de inúmeros livros e estrela do documentário magnífico Fungos Fantásticos. Eu me vi numa palestra de cientistas da Nasa e artistas. Aliás, você sabia que existe um grupo de 300 artistas trabalhando na Nasa pra contar e mostrar ao público através da arte todas as descobertas dos cientistas? Nem eu, agora sabemos.
Teve Depak Chopra fazendo uma audiência lotada de pessoas de todos os lugares meditar juntos. Segundo ele, a mente e o auto-conhecimento são o maior psicodélico natural de todos.
Culinária social
José Andrés, o chef social, me fez chorar com sua humanidade ativa presente em tragédias ocorridas pelo mundo. Milhões de pessoas são alimentadas por grupos de cozinheiros liderados por ele em situações de gravidade como a da guerra da Ucrânia ou desastres como terremotos. Solidariedade na prática. Comi inspiração de colher.
Outra grande inspiração foi o Ryan Gellert – CEO da marca Patagônia. Só aplausos para o empreendedorismo social da marca. Teve também talvez uma das melhores palestras do evento: Esther Perel, psicoterapeuta especialista em relacionamentos amorosos e à frente do podcast Where Should We Begin e autora de best-sellers.
Em meio a tantas palestras e demonstrações de Realidade Virtual, Inteligência Virtual e ChatsGPT, vem ela demonstrar como nunca um ro-bot vai conseguir substituir as expressões humanas e nos chama a atenção para como a intimidade artificial com celulares, computadores e APPs nos distraem e afastam da intimidade e conexões humanas reais.
Quantas vezes você já respondeu “aham” numa conversa enquanto alguém falava (seu filho, seu marido, sua amiga) porque mexia no celular? Ops! Eu muitas.
Visitei duas feiras no evento: uma de realidade virtual e outra de criatividade tecnológica com dezenas de Startups. Experienciei a realidade virtual proposta pelo Peta: me vi numa nave extra-terrestre passando por testes virtualmente dolorosos como se fosse um animal vítima da indústria de cosméticos. Chorei.
Experienciei no óculos de RV também as ruínas da guerra da Ucrânia, foi impactante. E também virei um cogumelo numa floresta através de um óculos virtual. Numa outra experiência empática, entrei na mente de um autista e em outra, vi a vida através dos olhos de um cachorro.
Muito se falou sobre os ChatsGPTs, mas não há nada a se temer. Nenhuma tecnologia substitui talentos e mentes ativas e criativas, por isso, continue a se aprimorar e destacar no que faz melhor e aprenda a não parar de aprender. A ferramenta se tornará o estágiário de um bom profissional e será a onda batendo na bunda e dando um “caldo”nos medíocres.
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O universo das Startups
Conheci algumas Startups de tecnologia. Uma delas criou um abraço artificial com eletrodos em volta do meu corpo me apertam e simulam um abraço quando eu “abraço” um manequim. Outra empresa me ofereceu um APP para momentos de crises de ansiedade e pânico para me acalmar enquanto, num óculos virtual, eu escolho um por-do-sol vendo as ondas da praia ou vejo a neve cair nas montanhas.
Entrei no primeiro carro voador do mundo e, entre tantos shows de uma curadoria afiada, assisti ao show do New Order, uma das primeiras bandas a unir música e tecnologia 30 anos atrás.
Talvez eu não tenha assistido, mas também não soube de ninguém que tenha visto, em meio a todas as inovações tecnológicas, uma solução para a fome do mundo e destruições ambientais, como: parar de comer animais. Não se falou disso. Falou-se sobre viagens espaciais, mas não sobre a manutenção da vida nesse planeta em que vivemos.
Falou-se tanto em ChatGPTs, mas e sobre a solidão humana?
Uma pesquisa realizada no Reino Unido pela empresa YouGov revelou que cerca de 22% (três a cada dez) dos millenials acreditam não ter nenhum amigo. O levantamento envolveu pessoas de 22 a 37 anos. Quase um terço dos participantes declarou se sentir solitário a maior parte do tempo. A solução para isso seria o abraço artificial de eletrodos da feira?
Qual é a direção que queremos tomar? Quase todas as origens de nossos problemas emocionais e físicos estão na desconexão do homem com a natureza. Vivemos em grandes cidades e não colocamos nosso pé na grama.
Acordamos, colocamos nossos sapatos, entramos no carro, escritório, mercados, shoppings, telas e luzes artificiais, falamos com pessoas em fones, sem olho no olho. Evitamos o toque (principalmente pós-covid) quando mais precisamos de um abraço. Não temos mais contato olho no olho, quando mais precisamos de atenção. Em meio a tantos podcasts, só precisamos de alguém que nos ouça.
Eu curti muito o SXSW e irei novamente, mas não apenas pelas palestras, e sim pela atração principal, que não está em nenhuma programação do evento: as pessoas! As grandes estrelas do evento são as conexões humanas com pessoas que você conhece nas filas, nos happy hours, nas ativações das empresas, no café, no banheiro, no aeroporto antes do voo, durante o voo, no hotel.
As trocas viram um grande caldeirão de inspiração. Trouxe amizades comigo que tenho certeza que durarão mais que um festival.
A minha conclusão após essa imersão em tecnologia e conexões de mega-bytes é que nada que o homem crie substituirá algo que ele já nasceu apto a fazer: conexão humana.
Bora viver tudo isso!
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