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Resiliência: por que essa palavra pode condenar mulheres ao abuso
Maksim Lakutin
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De tempos em tempos uma palavra vira moda na internet. Com isso, é um pouco destituída de seu significado, ou tratada de forma tão superficial que acaba se perdendo ou virando outra coisa. Resiliência é a bola da vez.

O que significa resiliência?

Resiliência é uma palavra que já vi sendo confundida com “aguentar tudo”, por exemplo. Num contexto em que mulheres são socializadas para a devoção e o amor ao outro em primeiro lugar – junto com o cuidado, sem dissociar uma coisa da outra -, pode ser muitíssimo perigoso que entendamos resiliência como a capacidade de lidar bem com tudo e ainda tirar uma boa lição disso.

Nas ciências da saúde mental, que são políticas no seu cerne, não falamos em se fortalecer para lidar sem sofrer com o que nos machuca. Na verdade, falamos em nomear o que nos faz sofrer para podermos justamente sofrer apoiadas. Dessa forma, validadas em nossa dor, temos alguma chance de mudar o que nos tira a paz. E isso pode estar relacionado tanto a um casamento abusivo, por exemplo, como a uma situação de racismo estrutural.

Como “ficar bem” diante de algo que tem potencial destrutivo? Como exigir que tiremos alguma lição daquilo sem antes poder enraivecer, entristecer, enlutar e lutar?

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Usando o mesmo exemplo, muitas vezes somos julgadas se desistimos de um casamento.

Mulheres são responsabilizadas pelo sucesso de seus relacionamentos, pois é entendido que entram com o “ônus” ou uma “dívida”, pela sorte de terem sido escolhidas por um homem, que lhes deu a maior realização de suas vidas: poderem se casar e serem “respeitáveis”.

Esta é a comunicação inconsciente que recebemos da sociedade e de nossas famílias. Como entra a noção de resiliência num contexto de hiper responsabilização?

Se no casamento abusivo a mulher pede o divórcio e se salva, ela é vista como alguém não resiliente, a que “desistiu”, a que não se esforçou para fazer dar certo pelos filhos e pela família. O homem não é cobrado por não ser resiliente. Mesmo que o homem não busque ser menos abusivo ou ir atrás de construir um mundo menos injusto para as mulheres.

Tudo pode e em última instância precisa ser mediado pela visão política das coisas, porque todas as coisas são políticas, ou seja, tudo tem um contexto cultural, histórico e social.

Desistir de algo que nos faz profundamente mal também é resiliência politica. Essa resiliência é baseada em combater aquilo que em nossa coletividade é profundamente injusto, ao mesmo tempo em que somos cuidados e nos cuidamos em conjunto.

Não desistir de lutar e de se posicionar pode ser chamado de resiliência.

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