Lembranças cinematográficas de uma mulher empoderada
Como uma personagem do cinema nos ensina a apreciar as características de uma garota livre, forte e segura

Ainda adolescente, tive minha primeira paixão impossível. Caí de amores por Ilya, uma linda e alegre prostituta grega interpretada por Melina Mercouri no filme Nunca aos Domingos, de 1960, dirigido por Jules Dassin – aliás, seu marido.
Um escritor americano, Homer Thrace, está interessado em entender como a sociedade que criou a filosofia, a democracia, a arquitetura, a matemática e o teatro, e que deu origem à civilização ocidental, estava reduzida a um país mediterrâneo pobre e atrasado. Com sua cultura, o país poderia ter outra posição no mundo. Com sua beleza, graça e inteligência, Ilya, por quem Homer já estava enamorado, também. Ele estuda a mulher para entender o país.
Surpreende-se ao perceber que ela interpretava os mitos, o teatro e a filosofia à sua maneira. Tratava de encontrar um final feliz para as tragédias, acreditava no amor de Eros, cultuava o belo, aproveitava os prazeres da natureza, da mesa e da cama, e não gostava de Aristóteles, pois este considerava a mulher inferior ao homem. Inconformado, o americano promete a ela uma nova vida, desde que se sujeite a ser sua pupila por duas semanas.
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Começa o “curso de imersão em cultura”, e também uma batalha entre razão e emoção. Apolo e Dionísio. Nietzsche, que também não gostava de Aristóteles, teoriza que foi a filosofia que afogou a mitologia no mar da racionalidade, apagou o brilho romântico dos deuses imperfeitos que habitavam o Monte Olimpo e deu início ao declínio grego.
Ilya, na verdade, era uma feminista. Uma líder que aliava o pensar ao sentir. Não se sujeitava à exploração do cafetão, inspirava as colegas a uma revolta e era ela quem escolhia seus clientes. Só podia ser Melina Mercouri, que depois foi ministra da Cultura da Grécia, e pediu aos ingleses a devolução das esculturas e dos frisos do Parthenon levados por Lord Elgin em 1806, e que hoje formam a sala 18 do Museu Britânico. O retorno, aliás, está perto de acontecer.
Acho que é isso que explica minha paixão juvenil. Beleza e força. Alegria e seriedade. Sensualidade e liderança. As combinações perfeitas. Recentemente li uma descrição que me trouxe essa reflexão, e termino este artigo com ela: “Inteligente, empreendedora, alegre, sensual e segura de si, a mulher da Idade Heroica da Grécia amiúde se manifestava exatamente como o tipo de mulher completa e extraordinária que o nosso século vê como a mulher ‘emancipada’”.
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