Fé no flow
Convido você a considerar a possibilidade de fluir na vida, dançando entre o que podemos planejar e o mistério do que desconhecemos
Na minha “vida passada” de comediante, sempre que comentavam “você tem o dom da comédia”, me incomodava porque eu entendia que a palavra “dom” desmerecia todo o meu trabalho duro em estudar comédia, escrever por horas, testar no palco, gravar áudio dos shows, analisá-los, lapidar o material, testar mais no palco…
Uma das primeiras tatuagens que fiz tinha as palavras hard work no braço. Eu adorava falar que “não tem dom, é hard work” e batia no braço mostrando a minha tatuagem. Quando saí da comédia e me dediquei a cursos online de criatividade, coloquei as mesmas palavras no nome do encontro presencial dos alunos. Foram cinco anos reunindo gente sob o título hard work – sendo a última edição com 2 mil pessoas – e distribuindo tatuagens provisórias para elas colocarem no corpo. Imaginou a cena?
Em busca da direção certa na carreira
Trabalho duro, então, significava direção certa. Mas tinha um furo: era muito baseado no externo, no mercado, na comparação, no que diziam que “tem que ser”. Eu me identifiquei tanto com isso que considerava que, quando as coisas estavam difíceis, era um indicador de que estava no rumo certo. Resultado: muito trabalho duro – sem limite de autoamor – e movido pelos outros – não pelo que eu sentia.
Até que o work ficou tão hard, que comecei a colapsar. Decidi fechar a empresa de cursos online e entrar num período sabático de autoconhecimento. Na busca por rever minhas premissas, resolvi me abrir à seguinte possibilidade: E se a leveza fosse um indicador do caminho?
A vida nos diz: “Não é por aqui”
Lembro que eu jogava MarioKart e que, quando o carro estava na contramão, aparecia uma nuvenzinha braba, mexendo o dedinho para um lado e para o outro, deixando claro: não é por aqui. E se o fato de as coisas estarem difíceis fosse exatamente um sinal de que não é por aí? E se fosse a vida dizendo NÃO e a gente insistindo em ir na contramão?
E se fosse possível fluir na vida, dançando entre a ordem (planeja- mento, estrutura, organização) e o caos (o desconhecido, o novo, o mistério)?
Aprofundei minhas percepções e passei a me perguntar como seria experimentar desacelerar, silenciar os barulhos do intelecto para ouvir a intuição, a voz do coração – que sussurra – e sentir o momento de colocar mais energia e intensidade, e o momento de soltar, de se render ao imponderável?
Esse foi o experimento que iniciei há quatro anos. Acredite, tem sido uma delícia testemunhar a vida me surpreendendo a cada instante. A fé no flow é a perspectiva que faço gosto em compartilhar nesta coluna.
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