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Expectativas quebradas: a dor do que poderia ter sido
Luis Villasmil
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Encontrei com uma amiga que há tempos não via. É sempre bom encontrar as pessoas queridas, reencontrar. Colocar a conversa e os sentimentos em dia. Atualizar as vivências, os caminhos percorridos e os deixados por percorrer. Às vezes, muita coisa muda quando ficamos um tempo sem ver alguém. Outras, quase nada.

A vida da minha amiga havia mudado bastante. Depois de um namoro de anos, ela havia terminado o relacionamento. Estava arrasada. A decisão havia partido dela. Mesmo assim estava mal, atravessando com dificuldade o processo de luto, natural diante de uma grande perda.

Aos poucos, ela foi contando os problemas, as razões que a levaram a decidir sair da relação, embora ainda amasse o namorado, ou pelo menos, acreditasse amar. 

Há tempos já não estavam em sintonia. Ele tinha defeitos que ela não suportava e que ele não demonstrava sinal de tentar melhorar. Ela também tinha seus defeitos, mas já não sabia se ele tolerava ou se sequer prestava atenção o suficiente para perceber. Sem considerar o mérito de certo e errado, o fato é que o relacionamento estava ruim há bastante tempo. Ainda assim ela se sentia triste por ter terminado. 

A dor daquilo que poderia ser

A dor maior da minha amiga não era pela perda do relacionamento em si, que estava ruim, mas sim pela expectativa quebrada do que poderia ter sido. É a dor profunda e persistente da perda daquilo que poderia ser. 

→ Leia também: Reduzir as expectativas pode trazer mais felicidade?

Da chance de transformar em realidade o ideal. Ideal de um grande amor. De uma carreira. Uma família. Uma vocação. Com o fim do relacionamento, encerraram-se também as possibilidades de realização de um futuro sonhado e idealizado. Perder isso não é fácil. É como perder o chão. 

Todos nós fazemos planos. Todos nós sonhamos. Cada um a seu modo, vamos construindo no nosso imaginário e no nosso coração o ideal de felicidade e de futuro. De companheiro, trabalho, filho, bem-estar, autoimagem. E nos apegamos a esse ideal mesmo quando tudo aponta para uma realidade diferente. Vai que dá certo. Tudo pode acontecer. As pessoas mudam, a história muda, o mundo muda. E com esse pensamento seguimos, sustentando o insustentável nas frágeis hastes do vir a ser.

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Mas a verdade é: aquilo que poderia ter sido não foi. Nunca será. Não só por não ter acontecido, mas porque, em geral, esse “poderia ter sido” é um ideal projetado para corresponder integralmente às nossas expectativas, sem conflito ou sofrimento.

Mas a outra verdade é: não há existência sem sofrimento nem convivência sem conflito. Isso não significa que não devamos lutar pela felicidade e pelos nossos sonhos. Nem que devamos nos manter em situações que nos fazem mal. 

Significa apenas que o que temos é o que temos, e não o que poderíamos ter tido. A nossa história foi o que foi, é o que é. 

Compreender isso pode nos ajudar a deixar de gastar energia e sentimento com o que poderia ter sido e gastar com aquilo que pode ser. Não a partir de um passado que não volta, mas de um presente capaz de construir um futuro diferente. 

→ Para saber mais: O que fazer quando as expectativas são quebradas?

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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