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Eu e a lagartixa
Tate Lohmiller
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Em janeiro de 1998, o paleontólogo norueguês Frank Anderson aterrissou na ilha Taveuni, uma das 332 do arquipélago Fiji, a 2.600 km de Wellington, a capital da Nova Zelândia. Sua missão era estudar como as espécies animais e vegetais importadas interferiram no equilíbrio da ecologia daquela formação vulcânica.

Na ilha, o norueguês interagiu com muitas pessoas, entre nativos e estrangeiros. Mas foi em uma noite, abrindo a porta de seu quarto de hotel, que ele conheceu aquele que viria a ser seu interlocutor privilegiado. Sobre a garrafa do gim que ele pretendia tomar, havia uma lagartixa, cujos avós certamente tinham vindo de algum lugar da Ásia.

A cena que se seguiu foi bizarra. A garrafa estava com a tampa solta, e ele tinha medo de que o pequeno réptil a derrubasse se ele tentasse espantá-lo. O jeito era esperar, mas o escamoso não dava sinais de que pretendia sair tão cedo da superfície de vidro que atraía os deliciosos insetos com seu brilho.

A alternativa que o homem encontrou foi falar com o bicho, usando palavras persuasivas em frases suaves. “Saia daí, por favor.” “Cuidado para não quebrar.” E ainda lhe deu um nome: Gordon, em referência à marca do gim. De repente, a surpresa: Gordon respondeu! A partir desse ponto, começou o melhor diálogo que Frank poderia ter em sua estada na ilha.

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A lagartixa e o alter ego literário

O pequeno réptil tinha a sabedoria de uma espécie com mais de 400 milhões de anos, e via o homem como um acontecimento recente e maléfico para a natureza. Nisso, ambos concordavam. A afinidade entre os dois passou a ser tão grande que às vezes Gordon respondia ao pensamento de Frank antes das palavras deste.

Juntos, revisaram o evolucionismo, a história natural, o homem e suas angústias, o passado, o presente e o futuro. Na verdade, a lagartixa era o alter ego literário, ou seja, um personagem criado pelo autor para expor suas ideias. Esse episódio está no livro Maya, do Jostein Gaarder, o autor de O Mundo de Sofia, que levou filosofia para os jovens.

Por meio desses personagens, e de outros, o filósofo norueguês nos alerta de que ter alguém com quem conversar, expor ideias sem censura e ouvir sem julgamento é fundamental ao nosso equilíbrio. E também nos diz que o primeiro interlocutor é interno a nós. O Gordon do Frank, o Wilson do náufrago, a parede da Shirley Valentine… todos são símbolos da necessidade humana de o Homem ser seu melhor amigo.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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