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Em meio às tarefas, três compromissos que ajudam a crescer na vida
Glenn Carstens Peters/Unsplash
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Esqueci. de pagar a conta de gás. O imposto da empresa. O aniversário da amiga. De marcar o cabeleireiro para a filha. Do dinheiro do lanche do filho. De checar as contas do pai. De enviar a receita para a mãe. De passar o filtro solar. O creme para prevenir rugas. De tomar a vitamina D.

Esqueci. De trocar o óleo do carro. Arrumar a gaveta de meias. Jogar fora o lixo do dia. Colocar o uniforme da escola para lavar. Fazer a trança nos cabelos da filha antes que pegasse no sono. Comprar flores para alegrar a casa. Dizer bom-dia para o porteiro. Dizer boa-noite para a mãe.

Dizer para o pai o tanto que foi e ainda é importante na minha vida. Comentar com o filho o quanto tenho orgulho de ser mãe dele. Me disseram que isso é coisa da menopausa. Dos hormônios. Do nosso século. Da pressa. Dos modelos herdados prontos. Remédio amargo.

Tem livro sobre isso. Literatura farta. Da menopausa e da sociedade atual, batizada por um autor de “sociedade do cansaço”. Acabei de ler. Não o livro do cansaço, mas a pesquisa sobre esgotamento. Feita por um grupo de mulheres, o Think Olga.

Estamos esgotadas. Porque o dinheiro é pouco. Porque o relacionamento não está lá muito bem. Porque há muito o que fazer. Eu sei. Os 51 chegam sem a promessa, ainda, da poupança para a velhice. Sem a viagem para Paris. Sem o terreno para a casinha dos sonhos. Eu sei.

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As tarefas se acumulam aos borbotões. O dentista do filho. A reunião da escola, que é no mesmo horário do compromisso de trabalho. A pia cheia de louça suja. Os sapatos espalhados pela casa. O cachorro late. A cabeça dói. O analgésico acabou.

É difícil equilibrar todos os pratos. Então deixo-os cair. Um por um. Choro. Me culpo. Reduzo. Oprimo. Quero ser filha. Tenho saudade. Da mãe que cuida. Do pai que protege. É você quem tem de cuidar agora. Ouço. Recolho os cacos. Enterro minha menina. Essa foi. Não volta mais. Prometo não esquecer. De aninhar os filhos. Enquanto sou mãe deles. Não quero deixar de ser. Serei. Deixo claro. Para que se lembrem.

Olho para a lista de tarefas. Esvaziada. Por hoje. Consegui. Respirar. Amanhã tem mais. Compromisso um: ser mais gentil comigo mesma. Dois: acolher minhas falhas. Três: escrever de um jeito que não seja minha zona de conforto. Porque é só assim que a gente cresce na escrita. E na vida. Experimentando novos formatos, além daqueles que esperam de nós.

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Esse conteúdo foi publicado originalmente na Edição 260 da Vida Simples

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