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Dicas para ajudar a construir autoconfiança em crianças e jovens
Foto: Mojtaba (Mohammadi)
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Quem nunca passou um momento diante do espelho pela manhã e notou uma nova ruga ou, quem sabe, um jeans que, de repente, ficou apertado?

É um instante que pode nos derrubar ou nos fazer rir, mas logo uma criança chama a nossa atenção, reclamando da calça que ainda não foi lavada.

E, na correria do dia, você se apressa para voltar para casa enquanto carrega o peso de um dia de trabalho: a caixa de e-mails lotada, prazos se aproximando. Um colega, ao te ver, comenta: “você parece cansada hoje”.

Interagimos a todo tempo com outras pessoas e essas interações moldam como nos sentimos. Comentários negativos podem nos ferir profundamente, enquanto elogios e reconhecimento elevam nossa autoestima.

Na realidade, a autoconfiança está intrinsecamente ligada a como nos percebemos e à forma como acreditamos que os outros nos percebem.

Autoconfiança começa na infância

Essas reflexões nos colocam em um ciclo de constantes comparações: como me vejo? Posso ser melhor? O que os outros pensam de mim?

A maneira como respondemos a essas questões influencia muito a nossa autoconfiança. Mas como podemos construir uma autoconfiança sólida nas crianças que estão crescendo em meio a tanta insegurança e competição? Como podemos prepará-las para encarar a vida com a certeza de que são capazes?

A base da autoconfiança é estabelecida, segundo a psicologia, nos primeiros anos de vida. Essa fase é fundamental, pois é quando o cérebro se desenvolve e se molda por meio das experiências, especialmente aquelas vividas com os cuidadores.

Uma criança precisa experimentar amor incondicional, cuidado e atenção, e é isso que gradualmente cultivará sua autoconfiança. A conexão física e emocional com os pais é uma jornada essencial para a sobrevivência emocional e psicológica da criança.

Necessidades básicas para a formação da autoconfiança

  1. União: a experiência de laços seguros com os pais cria uma base sólida para as crianças. Essa conexão ajuda na formação de relacionamentos saudáveis e na capacidade de enfrentar estresses emocionais no futuro. Uma criança que se sente segura e querida desenvolve um sentimento de valor próprio.
  1. Autonomia: é importante que as crianças tenham espaço para explorar, errar e aprender. Ter sua própria vontade respeitada e incentivada é primordial para que se vejam como competentes e capazes. A superproteção pode cercear essa autonomia, prejudicando a construção de autoconfiança.
  1. Satisfação do prazer: a habilidade de desfrutar as pequenas alegrias da vida e tolerar frustrações é vital. A educação que ensina a adiar a gratificação, por exemplo, é fundamental. Uma abordagem equilibrada, onde prazeres e deveres andam juntos, é essencial evitar comportamentos compulsivos no futuro.
  1. Reconhecimento: as crianças precisam sentir que são valorizadas exatamente como são, sem condições. Quando o reconhecimento é vinculado a realizações específicas, corre-se o risco de a criança acreditar que só é digna de amor e atenção se se comportar de determinada forma.

Essas quatro necessidades são cruciais para o desenvolvimento da autoconfiança. Não é preciso que qualquer golpe do destino ou dificuldades sejam uma sentença de fracasso emocional. A vida é composta por um conjunto de influências.

Papel dos pais na autoconfiança das crianças

Os pais desempenham um papel importante, mas não são os únicos responsáveis pelo desenvolvimento da autoconfiança dos filhos.

O sistema educacional e a sociedade como um todo também contribuem para isso. Os laços com amigos, avós e outras figuras de apoio são igualmente essenciais para construir essa confiança interior.

Entretanto, a escola pode ser um ambiente desafiador. Estudos mostram que muitas crianças se sentem inseguras e com baixa autoconfiança no ambiente escolar.

A pressão para ter um bom desempenho academicamente pode reduzir a autoconfiança. Crianças que de fato necessitam de apoio precisam que pais e adultos próximos lembrem de suas qualidades e conquistas.

E é crucial que os adultos se atentem a isso, incentivando a valorização das habilidades e talentos das crianças, mesmo quando elas enfrentam dificuldades.

Além disso, a maneira como lidamos com nossas próprias inseguranças e erros pode impactar essa dinâmica. É fundamental cultivar um diálogo interno gentil e compreensivo, tanto para nós mesmos quanto para as crianças.

Por exemplo, uma nota baixa não define a capacidade de um estudante, assim como um momento difícil não estabelece o seu valor enquanto pessoa.

Como ajudar as crianças

Uma forma de ajudar a criança a lidar com as dúvidas internas é nomeando os sentimentos ou pensamentos para conseguir vê-los de uma perspectiva mais distanciada e não se identificar com eles.

Dessa maneira os pensamentos perdem o poder. Por exemplo, uma nota insatisfatória em matemática, não significa que a criança seja sempre ruim em matemática.

Outra opção é mudar o foco e descobrir o que está indo bem. A vida tem aspectos dos quais nos orgulhamos e nos arrependemos. O importante não é tanto o que acontece com você, mas como você presta atenção nisso.

Para cada pessoa, seja adulto ou criança, trata-se de ter uma visão equilibrada de si mesma e de mostrar compreensão e compaixão por si mesma e pelos outros.

Carinho e presença

Quando estamos verdadeiramente presentes, conseguimos apreciar a beleza de cada momento. Esse estado em que estamos plenamente despertas e conscientes, vivendo no presente, desapegadas do passado e do futuro, é o estado de vida do Buda.

Não esqueça também do carinho, muito carinho. De preferência diariamente. Todos os dias diga às crianças e jovens que são amadas do fundo do coração e que são muito especiais. Porque, de coração: nós, adultos, também gostamos de ouvir isso. Principalmente quando o dia começa um pouco nublado.

Por fim, convido você a conhecer mais sobre o universo da parentalidade e desenvolvimento pessoal, seguindo minhas duas indicações:

1. Como criar um adulto: Liberte-se da armadilha da superproteção e prepare seu filho para o sucesso, da Julie Lythcott-Haims

Ao impor altas expectativas e controlar cada detalhe da vida dos filhos, os pais podem acabar não ajudando tanto quanto imaginam. Com entusiasmo e um toque de humor irônico, a ex-reitora de calouros da Universidade de Stanford argumenta que os pais deveriam parar de medir o sucesso dos filhos apenas por notas e resultados de provas. Em vez disso, ela defende que é melhor oferecer algo muito mais antigo e fundamental: amor incondicional.

2. Pema Chödrön, em Acolher o indesejável: Uma vida plena num mundo abatido

Argumenta que a dor e o sofrimento são partes inevitáveis da vida, ela se baseia na antiga sabedoria e práticas budistas para oferecer um caminho através dos momentos mais desafiadores da vida, escrevendo que quando as coisas parecem insuportavelmente difíceis, podemos navegá-las permanecendo no momento presente, cultivando a compaixão por nós mesmos e pelos outros, enfrentando nossos medos e aceitando realidade como ela é.

Lembre-se, cada dia é uma oportunidade única de aprendizado e crescimento. Desejo a você dias de luz e amor. Obrigada por estar aqui e até o mês que vem!

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