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Desejo incansável: a influência de Eros na vida profissional
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O desejo incansável por objetivos grandiosos ainda não alcançados pode acabar levando sua carreira em direção a uma tragédia grega. Entenda o conceito de Eros por trás da necessidade de ser sempre o melhor.


Lembro como se fosse hoje do dia em que entrei no escritório de minha antiga agência de publicidade e vi um lindo envelope sobre a mesa. Estava fechado com cera e com meu nome escrito em letras manuscritas — feitas provavelmente com uma caneta bico de pena.

Meu coração bateu mais rápido, senti um calor em minha cabeça e, ao abrir, vi que era exatamente o que eu estava esperando: uma premiação estadual de grande importância. Celebrei muito, pois, junto com toda a nossa equipe, havia dedicado muito trabalho, esforço e tempo para que conseguíssemos atingir aquele objetivo.

Eu, especificamente, passei praticamente seis meses morando no escritório para garantir que a entrega dos materiais fosse feita da maneira planejada. Sacrifiquei minha vida pessoal naquela época e uma boa dose de saúde.

Na data marcada, fomos ao evento, recebemos o prêmio e, no dia seguinte, um sentimento estranho de vazio se manifestou dentro e mim. Eu precisava com urgência traçar um novo grande objetivo. Não tardou, comecei o mesmo ciclo, mas agora em busca de uma conquista nacional.

O conceito de Eros e o desejo insaciável

É com esse pensamento que levo nossa conversa para a Grécia Antiga, onde esse desejo romântico, e quase cego, por algo que precisamos conquistar (naquela época, o amor ou transcender ao mundo divino, hoje o sucesso) era por muitos pensadores chamado de Eros, daí o termo erótico. Tem origem na palavra grega eros (ἔρως) que é ”amor”, ”desejo”.

Olhando para trás, percebo que quanto mais o capitalismo e o mercado de trabalho se tornam acirrados e competitivos, maior a nossa tendência em substituir e transformar esse sentimento de Eros em uma meta, objetivo ou linha de chegada que desenhamos (ou desenham para nós) a frente do nosso caminho.

Assim, nos tornamos obsessivos e obstinados pelas grandes conquistas profissionais, materializadas em troféus, posts no LinkedIn, 6 ou 7 dígitos, champanhes de reconhecimento e homenagens em festas de final de ano da empresa.

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O problema de perseguir as grandiosas metas que ainda não alcançamos

Você pode estar aí se perguntando “qual o problema em perseguirmos nossos grandes objetivos profissionais?”.

A verdade é que, na sua essência, não tem problema nenhum, e inclusive essas metas são benéficas para o nosso desenvolvimento e crescimento profissional. O problema não está nos objetivos, mas sim no erotismo atribuído a ele.

Da mesma forma que nos romances dos grandes escritores, jovens apaixonados se viam completamente sem visão ou rumo quando estavam em busca da pessoa amada, o mundo contemporâneo trouxe essa cegueira para nossa ambiente corporativo.

Se nas histórias de amor, como Shakespeare retrata em Romeu e Julieta, ambos tornam-se incapazes de olhar para o que está acontecendo ao seu redor, e de forma inocente e impulsiva terminam mortos, nas nossas carreiras o brilho das grandes metas transforma todo o resto da nossa vida em uma névoa que dificilmente temos a curiosidade de atravessar. Muitas vezes, quando percebemos é tarde demais para voltar atrás.

Nessa névoa estão o nosso dia a dia, nossos assuntos pessoais, as pessoas com quem nos relacionamos, nossos hobbies e também nossos pequenos objetivos. Tudo aquilo que faz ser possível amar o nosso caminho e não apenas o destino final.

Você pode conviver com metas e objetivos, mas fique atento ao erotismo

Para garantir um final feliz na sua carreira, minha sugestão é que você reduza o foco nos seus grandes objetivos e, no lugar, transforme eles em guias para o seu direcionamento profissional. Comece a ficar mais atento a como a sua carreira e a sua vida se desenvolvem.

Resumindo, que você ame também o que faz e o que vive diariamente. É aqui que a vida real acontece e não na realização da conquista “platônica”.

Por este motivo, profissionais que olham para o seu desenvolvimento diário, que estão focados em realizar tarefas imediatas de maneira eficiente, que olham com amor para o propósito do seu trabalho e não esquecem de suas vidas fora do escritório, tendem a construir e alcançar essas grandes metas sem nem mesmo olhar para elas. Consequentemente, tem mais satisfação no trabalho, na vida e são mais felizes.

Além disso, apesar desse desejo intenso pelas grandes conquistas e realizações nos darem a falsa impressão de que estamos muito mais motivados, quando atingidos, nos geram uma espécie de efeito de ioiô com altos e baixos e grandes vazios constantes nas nossas carreiras.

Por outro lado, se você foca nas tarefas e objetivos que precisam ser realizados no dia a dia, terá um nível de motivação equilibrada para evoluir constantemente e sem grandes oscilações. Além de manter um padrão de vida e um trabalho que vai te levar na direção da grande conquista.

Você não tem o controle sobre tudo

Outro fator importante neste tema é que quando estipulamos esses grandes desejos para nossas carreiras, criamos uma falsa impressão de que podemos controlar e prever tudo que nos levará até eles.

Porém, ao contrário disso, muitas variáveis se apresentam sem que tenhamos o menor poder sobre elas. E algumas podem arruinar o caminho para esse grande desejo e tornar o seu Eros, uma grande frustração.

É prudente para diminuirmos os riscos de caminhar em direções erradas, que, ao invés de grandes e distantes metas, façamos um acompanhamento mais de perto sobre o que conquistamos a cada dia. Esse olhar sobre o que podemos controlar aqui e agora e sobre a forma como melhoramos e nos desenvolvemos constantemente podem corrigir os rumos que nos levam até as grandes conquistas desejadas.

Pode manter seus grandes objetivos, mas concentre-se no que importa

Não estou aqui dizendo que você deve jogar os seus grandes objetivos fora e nem muito menos dizendo que eles não tem utilidade. Eles seguem sendo muito importantes para ajudar você a construir e desenhar os caminhos que podem te levar até ele.

Mas preste atenção nos seu passos, desacelere um pouco e busque progressos consistentes e metódicos ao invés de colocar todas as suas fichas na grande e erótica conquista que por muitas vezes cobra um peso muito caro na sua vida pessoal, e ainda pode até não ser alcançada.

Faça com que esses grandes objetivos te empurrem para frente e te façam caminhar, mas somente quando você olhar para os pequenos passos conseguirá atingir o que deseja de uma forma feliz e saudável.

Essa é a melhor forma de transformar a grande tragédia grega que o mercado de trabalho tenta apresentar e nos empurrar goela abaixo, em um filme Hollywoodiano com um grande final feliz.

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Exercícios para melhorar seu bem-estar e ser mais feliz

A ciência já comprovou que da mesma maneira que treinamos o nosso corpo em academias, também podemos treinar a nossa mente para ficar mais forte e mais preparada para diferentes situações da vida. Dessa forma, aumentarmos o nosso bem-estar e a nossa felicidade.

Com este objetivo, no mês de agosto estou realizando a primeira turma de um novo programa chamado Happiness FIT.

Todas as terças e quintas-feiras do mês, às 20h (horário de São Paulo), realizo exercícios durante 20 minutos. Essa turma já está completa, mas você pode entrar na lista de espera para a próxima turma que vou abrir em breve.

Por se tratar apenas de exercícios práticos (nada de teoria) e para que eu possa atuar como um “Personal Trainer” nesse programa, as turmas terão sempre vagas são muito limitadas. Todos os exercícios já foram testados em diversos estudos pelo mundo.

Bora comigo malhar a nossa mente?

Entre na lista de espera para a próxima turma.

Leia todos os textos de Horácio Coutinho no portal Vida Simples.


HORACIO COUTINHO JUNIOR (TOCO) (@horacio.toco) é multitarefas e um profissional de mil ofícios, ama a esperança dos EUA e sente falta do Carnaval do Brasil.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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