Auto-observação é a semente para a sabedoria
Fazer auto-observação e perceber que somos todos, em algum momento, vítimas de dissabores e infortúnios, é a semente para a sabedoria
A vida por vezes nos apresenta situações que nos desestabilizam de tal forma que é necessária muita força interior para readquirir o prumo e a paz. Normalmente essa firmeza interna vem da auto-observação de experiências vividas e de histórias que nos forjam referências profundas.
Estes dias me lembrei de uma dessas narrativas que me transmitiram um aprendizado que carrego até hoje. Era assim: em uma cidadezinha pacata vivia uma mulher chamada Clara. Ela era conhecida pelo constante vitimismo e visão desoladora sobre seu futuro.
Certo dia, soube que um grande sábio estava no povoado e foi procurá-lo para se aconselhar. Depois de ouvir suas lamúrias, o homem disse que iria ajudá-la a se livrar de seus tormentos, desde que ela trouxesse uma semente de mostarda de um quintal em cuja casa habitasse uma família que nunca houvesse passado dificuldades.
Com o grão, ele faria um benzimento para curá-la. Clara animou-se, pois em todas as casas da aldeia havia pés de mostarda. Foi a uma por uma, ouvindo as histórias das famílias, e ficou surpresa ao constatar o quanto todas tinham memórias de situações tão ou mais difíceis que as dela.
A cada visita, ia se conscientizando de que não era a única a enfrentar obstáculos em sua jornada. Quando retornou até o sábio com as mãos vazias, havia compreendido o truque do mestre, que a abençoou e lhe deu um colar com a sua compaixão.
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A semente da sabedoria que nos liberta
Clara, então, percebeu que a vida apresenta surpresas a todas as pessoas, sem exceção, e que ela não era a única que sofria. Além disso, ouviu inúmeros exemplos de como seus semelhantes superaram seus conflitos.
Dali para a frente, começou a exercitar a prática da auto-observação e, pouco a pouco, deixou de ser reativa diante dos dissabores, uma vez que passou a conhecer seus sentimentos mais profundos, seus potenciais, suas possibilidades.
Foi um processo doloroso, mas também libertador. Clara começou a entender suas próprias fraquezas e forças, suas esperanças e medos, suas alegrias e tristezas. Ela estava se tornando íntima de sua essência. Isso lhe deu a capacidade de se adaptar e crescer diante das adversidades e dos desafios.
Resultado: a reflexão e auto-observação estavam tão apuradas que as coisas, mesmo sendo duras, se transformavam rapidamente em aprendizado. A semente de mostarda que ela guardou havia frutificado nela uma grande árvore de sabedoria.
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Esse conteúdo foi publicado originalmente na Edição 260 da Vida Simples
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