A joia está na ferida, e a vida é uma coleção de cicatrizes

O menino espera sua mãe, atrasada, para buscá-lo na escola. Mas quem chega para pegar o garoto é seu pai, com semblante preocupado. Em vez de irem para a casa, o carro toma a direção do hospital.

“Sua mãe tentou fazer uma besteira”, diz o homem. A criança, com 6 anos de idade, descobre que sua mãe perdeu a vontade de viver. E, dali em diante, decide escre­ver uma lista com tudo o que há de bom no mundo, para dissuadi-la de acabar com a existência.

Esta é a história da peça Todas as Coisas Maravilhosas, inter­pretada por Kiko Mascarenhas, e que me tocou por tanta sensibilidade e até humor diante das dores do viver.

Em certa altura da trama, o personagem diz algo como “Se você passou a vida sem ter ficado triste ou deprimido em algum momento, então você não repa­rou direito”.

Porque é isso: inevitavelmente, a vida vai doer. Vamos colecionar cicatrizes. Todos nós. Quan­do eu perdi familiares e amigos, doeu. Quando meu pai parou de andar e falar depois de um AVC, doeu.

Quando um relacionamento de quase 20 anos acabou, também doeu. E muitas dores, grandes ou pequenas, ainda vão doer.

Nossas coleções de cicatrizes

Como diz uma música de que gosto, já abandonei a ilusão de que viver é indolor. Lidar com o que nos atravessa é especialmente difícil, e por ve­zes assumimos alguns papéis que não nos ajudam a seguir em frente.

Por isso, na edição de Vida Simples neste mês de julho de 2024, nosso desejo foi jogar luz em partes nossas que se vitimizam, expondo nossas cicatrizes.

Naquelas partes que se tornam agressoras (do outro e de nós mesmos) ou até salvadoras como uma forma meio torta de responder ao que nos aconteceu.

O bom é que, felizmente, pode­mos encontrar maneiras mais saudáveis de ultrapas­sar o sofrimento e ver a luz brilhar outra vez.

A vida não é feita só de coisas maravilhosas, mas ela sempre pode nos reservar algo que nos faça sorrir novamente.

➥ Assinante, leia a matéria de capa da edição 269 de Vida Simples: Transforme suas dores

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Conteúdo publicado originalmente na Edição 269 da Vida Simples