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A criação de um filho não é uma competição entre mães e pais
Sharon McCutcheon | Unsplash
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Nos meus atendimentos clínicos com mães, escuto muitas injustiças na educação dos filhos. Infelizmente, a grande massa de homens (e aqui não me refiro às exceções), ainda se coloca como “o reserva da mãe”, ou “o segundo em comando”. O problema disso é que a mãe quase sempre está doando cem por cento do seu tempo – inclusive tempo mental – para a criança, e o homem tem o tempo todo pra si, seja para se dedicar somente ao trabalho formal, seja para estudar, ter um hobby ou apenas alegar que “está cansado” e precisa de “um tempo”.

Crianças não dão esse tempo, principalmente se só uma pessoa está empenhada em prover física, emocional e mentalmente o que elas precisam.

Mãe multitarefa?

Se fôssemos contabilizar, uma criança demandaria serviços de motorista, babá, cozinheiro, psicóloga, faxineiro, mas todo esse trabalho, em geral, é feito pela mãe, com muitas trabalhando também formalmente em seus empregos.

Todas as vezes que levo essa inquietação que ouço na clínica para as redes sociais, alguém vem me lembrar que “não é preciso instaurar uma competição entre mãe e pai”. A grande questão é que, quando não pautamos as injustiças e convertemos o pedido para que o abismo entre homens e mulheres diminua em simples competição, estamos nos posicionando sem perceber como pró-injustiça, pró-abismo.

Colocar limites em inações do pai da criança não é competir. Exigir que um pai faça a sua parte e cumpra suas responsabilidades, tampouco. Pai não é ajudante, infelizmente ainda precisamos repetir isso em pleno 2022. E mãe não é professora de pai, ou não deveria ser.

Negligência masculina

As mulheres são colocadas numa posição de precisar se calar e continuar aguentando sua opressão sem sequer nomeá-la, enquanto às acusamos de competir, manipular, controlar o homem para que as coisas sejam feitas “do seu jeito”.

Não existe jeito certo, mas existe jeito seguro e minimamente indicado para se cuidar de uma criança. Assisto a mulheres denunciando negligência, tendo que compensar más práticas dos pais e ainda sendo chamadas de controladoras.

Sim, a socialização feminina coloca todo nosso reconhecimento no papel de cuidadora e responsável pela casa, por isso, parte de nós toma a responsabilidade pra si. Mas quem se beneficia disso é o outro lado, aquele que pode se desresponsabilizar.

SOBRE O ASSUNTO: Brotherhood – Cuidar é também coisa de homem

Mulheres cansadas

Em vez de chamar as mulheres de competitivas e controladoras, podemos começar a pontuar que a masculinidade é pautada por desresponsabilização e por falta de comprometimento com o dia a dia da casa e filhos. Podemos falar sobre o privilégio que se esconde em deixar que a mãe seja a “controladora”.

Somos educadas para não deixar nenhum rastro de desconforto para os homens, mas adivinhem: estamos adoecidas por causa disso. Uma verdade: não existe crescimento sem desconforto. A demanda feminina por apoio, divisão justa e responsabilização dos pais, não pode ser reduzida a mero confronto banal. É uma demanda justa e urgente.

Que do desconforto possam nascer relações mais reais e vivas entre pais e filhos, com todos os problemas e perrengues que o cuidado diário traz, mas com todo vínculo e intimidade que ele gera.

Pais e filhos merecem este presente, e mães merecem ter apoio e divisão real na tarefa árdua de educar seres humanos.

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