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Cuidar é também coisa de homem
Cuidar também é coisa de homem (Foto: Unsplash)
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Acredito na importância de colocar o cuidado de nós mesmos, da nossa casa, da nossa comunidade, da nossa cidade, das pessoas, dos seres vivos e da nossa casa compartilhada (o planeta Terra), como papel a ser assumido também pelos homens.

Dados do IBGE revelam que, no Brasil, cerca de 65% da força de trabalho na área da saúde é composta por mulheres. Em profissões como enfermagem e psicologia, elas são mais de 80%. Nas carreiras de fonoaudiologia, nutrição e serviço social, mais de 90%. Nas séries iniciais das escolas, as mulheres correspondem a 96% do corpo docente, segundo o Censo Escolar de 2020. Outro recente estudo mostrou que, no mundo, as mulheres fazem mais de 75% de todo o trabalho de cuidado não remunerado, fundamental para o desenvolvimento de um país.

Em 2021, quase 100 mil crianças que nasceram no Brasil não tiveram registrado o nome de seu pai e o percentual de crianças com apenas o nome da mãe na certidão de nascimento vem crescendo desde 2018, de acordo com a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). Os homens, em geral, morrem mais cedo e são mais negligentes nos cuidados relacionados à própria saúde quando comparados com as mulheres.

Esses são alguns dados que demonstram como os homens em geral (não) se relacionam com atividades de cuidado. Ainda são as mulheres que mais ocupam as profissões de cuidado e as que têm a maior responsabilidade por cuidar da casa e da reprodução da espécie humana, ao cuidar dos filhos e dos idosos. Isso é reflexo, claro, da construção social que atribuiu, durante séculos, essas responsabilidades às mulheres.

Seja nos brinquedos que escolhemos presentear, seja nas brincadeiras que meninos e meninas praticam, seja nos filmes e séries, o nosso olhar vai sendo moldado a naturalizar a mulher como cuidadora.

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A cultura do cuidado

Na minha criação, eram minhas avós e minha mãe que cozinhavam. Minha mãe trabalhava fora e ainda assim era responsável por levar minha irmã e eu para consultas e exames médicos, levar e buscar na escola, enquanto meu pai eu via apenas de manhã cedo e tarde da noite, quando isso acontecia.

Não à toa, concomitante a essa naturalização da mulher como cuidadora, está o fato de a nossa sociedade ser estruturalmente machista.

Assim, essas posições e atos de cuidar não são valorizados, pois são vistas como “atividades femininas”, e julgadas como inferiores a outras vistas como “masculinas”. Isso sem falar na enorme quantidade de homens que não assumem a responsabilidade de cuidado e presença com seus filhos, perpetuando a reprodução desse modelo.

Eu nunca fui incentivado a ser enfermeiro, psicólogo ou mesmo a realizar tarefas domésticas, mas sim a ser engenheiro, advogado, médico, a praticar esportes e a viajar e explorar o mundo.

A ausência do autocuidado

Além disso, a socialização masculina também contribui para que os homens não cuidem deles mesmos. Um Relatório da OPAS/OMS demonstra que 1 em cada 5 homens nas Américas morrem antes dos 50 anos. Muitas dessas mortes são resultado de vícios em substâncias como álcool e tabaco, acidentes de trânsito, suicídios e homicídios.

Esses eventos são relacionados aos comportamentos que impactam mais os homens e com a forma como somos socializados em um contexto de violência e de não saber lidar com as emoções.

O cuidado é fundamental para nossa sobrevivência. Nenhum ser humano consegue chegar à vida adulta sem ter sido cuidado por alguém. É possível até que o cuidado tenha sido muito importante para a sobrevivência da nossa espécie até aqui, pois por meio da cooperação que as civilizações humanas foram sendo formadas.

Essencial para a vida

Assim, o cuidado não é exclusivo das mulheres, ele também está presente em nós, homens.

Acredito na importância de colocar o cuidado de nós mesmos, da nossa casa, da nossa comunidade, da nossa cidade, das pessoas, dos seres vivos e da nossa casa compartilhada (o planeta Terra), como papel a ser assumido também pelos homens.

É necessário e urgente que aprendamos a revelar as nossas capacidades cuidadoras para nos engajarmos e estarmos a serviço dos desafios do nosso tempo.

Leia todos os textos da coluna Brotherhood em Vida Simples.


LUIZ EDUARDO ALCANTARA (@lendalcantara), atua na área da justiça, é um dos guardiões do Brotherhood Brasil (@brotherhoodbrasil) e um curioso sobre os papéis dos homens na sociedade.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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